Obama condena 'indesculpável' retórica antimuçulmana

Em Ottawa

Washington, 4 Fev 2016 (AFP) - O presidente americano, Barack Obama, que visitou uma mesquita nos EUA pela primeira vez desde que chegou ao poder, condenou nesta quarta-feira a "indesculpável" retórica antimuçulmana de alguns políticos, em uma referência velada ao magnata e pré-candidato republicano Donald Trump e alguns de seus correligionários.

"Recentemente, temos ouvido uma indesculpável retórica contra os muçulmanos americanos, declarações que não têm espaço no nosso país", discursou Obama, na mesquita da Sociedade Islâmica de Baltimore, perto da capital, sem mencionar nomes.

Obama tenta apaziguar as relações inter-religiosas diante da áspera retórica antimuçulmana por parte de vários republicanos na campanha eleitoral para a presidência.

Trump causou comoção, ao propor que se proíba a entrada de muçulmanos ao país, depois do ataque de 2 de dezembro em San Bernardino, na Califórnia, com "motivação jihadista".

Na mesma linha, o também pré-candidato republicano Ted Cruz insistiu em promover os valores "judaico-cristãos" e propôs que apenas imigrantes cristãos sejam admitidos no país.

"Desde o 11 de Setembro e, mais recentemente, desde os ataques em Paris e San Bernardino, vimos exemplos demais de que as pessoas misturam os terríveis atos terroristas com as crenças de uma religião inteira", lamentou Obama.

Para Obama, cujo avô se converteu ao Islã e após visitar mesquitas no Egito, na Indonésia e na Malásia, esta foi a primeira visita a um dos mais de dois mil locais de culto muçulmanos nos Estados Unidos desde que assumiu a Casa Branca, em 2009.

'Obrigado'Obama iniciou o discurso agradecendo ao povo muçulmano e frisou que atacar uma religião é atacar "todas as religiões".

"A primeira coisa que quero dizer é (uma) palavra que os muçulmanos americanos não ouvem suficientemente com frequência e isto é 'obrigado'", disse Obama, sendo ovacionado.

"Obrigado por servir à sua comunidade, obrigado por melhorar a vida de seus vizinhos e por ajudar a nos mantermos fortes e unidos como uma única família americana", reforçou o presidente.

Obama aproveitou o momento para criticar a imprensa e a indústria cinematográfica em Hollywood. Segundo o presidente, ambas oferecem uma imagem "enormemente distorcida" dos muçulmanos.

"Nossos programas de televisão deveriam incluir personagens muçulmanos que não estivessem relacionados com assuntos de Segurança Nacional", opinou.

Obama fez vários esforços para melhorar a relação com países muçulmanos, como o acordo nuclear com o Irã e a retirada de tropas do Iraque e do Afeganistão. Essas medidas foram ofuscadas, porém, pelo confronto com grupos radicais e por ataques militares no Afeganistão, Iraque, Líbia, Paquistão, Somália, Síria e Iêmen.

Muçulmanos devem 'cumprir um papel'Nos Estados Unidos, vivem hoje cerca de 3,3 milhões de muçulmanos.

A visita altamente simbólica de Obama acontece mais de seis anos depois do discurso feito no Cairo, em 2009. Naquele pronunciamento, o presidente iniciou sua fala com a saudação em árabe "Salam aleikum" ("Que a paz esteja com você") e pediu que se virasse a página de um "ciclo de desconfiança e discórdia" entre os Estados Unidos e o mundo muçulmano.

Seu antecessor, o ex-presidente George W. Bush, havia visitado uma mesquita em Washington, seis dias depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, reivindicados pela Al-Qaeda.

Obama voltou a reforçar que organizações como o Estado Islâmico pervertem o Islã e não representam a grande maioria dos muçulmanos. Ele convocou os líderes muçulmanos no país a enfrentarem a radicalização para se defender das "organizações que estão determinadas a matar inocentes".

"A comunidade muçulmana deve cumprir um papel", assegurou, após destacar que esta tarefa não pode ser responsabilidade exclusiva da comunidade muçulmana.

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