Atentado à maratona de Boston: defesa pede que se evite pena de morte

Em Boston

  • AFP/Departamento de Justiça dos EUA

A defesa do acusado de autoria dos atentados contra a maratona de Boston pediu nesta segunda-feira (27) que Dzhokhar Tsarnaev não seja condenado à pena de morte, responsabilizando totalmente o irmão dele, Tamerlan, no julgamento celebrado na capital de Massachusetts.

Os advogados do jovem de 21 anos apresentaram Tamerlan como um "obcecado pela jihad", que empurrou Dzhokhar a lançar os ataques na linha de chegada da maratona, que deixaram 3 mortos e 264 feridos em 15 de abril de 2013.

Tamerlan, então com 27 anos, foi morto pela polícia dias depois dos ataques, quando tentava fugir após ser descoberto. Detido horas depois, Dzhokhar foi considerado culpado em 8 de abril por um júri e agora pode ser condenado à pena capital.

"Por mais horrível que tenha sido o crime, a prisão perpétua, confrontado ao que fez, é a melhor opção para todos. Ele será punido e a sociedade, protegida, ao mesmo tempo", declarou o advogado David Bruck em suas alegações finais no processo contra Tsarnaev.

Menos de 20% dos habitantes de Massachusetts são favoráveis à pena capital para o jovem acusado, segundo nova pesquisa publicada nesta segunda pelo jornal "Boston Globe".

Este percentual não para de cair: era de 33% em setembro de 2013 e de 26% logo depois de Tsarnaev ser considerado culpado, há três semanas.

Durante a audiência, nesta segunda-feira, nos tribunais federais de Massachusetts, Bruck mostrou ao júri uma foto da prisão de segurança máxima do Colorado (oeste), onde o jovem muçulmano de origem chechena terminará seus dias caso seja condenado à prisão perpétua.

A punição durará "anos e anos", insistiu o advogado. "Não se ouvirá mais falar dele. E não será um mártir", acrescentou, ao comparar a condenação à pena de morte, "rápida", mas passível de múltiplas apelações.

O júri terá que se pronunciar de forma unânime caso decida pela pena de morte. Se um único jurado tiver dúvidas, Tamerlan será condenado à prisão perpétua.

O advogado se referiu em detalhes à influência de Tamerlan Tsarnaev sobre seu irmão mais novo, descrevendo-o como uma pessoa "agressiva" e "extrema", que teria fracassado em tudo e se radicalizado de forma progressiva.

Tamerlan: "consumido pela jihad"

Segundo a defesa, Tamerlan estava "consumido pela jihad" e, em janeiro de 2012, teria viajado para a Rússia para tentar ingressar em grupos islâmicos radicais, antes de voltar aos Estados Unidos seis meses depois.

O advogado também descreveu a família Tsarnaev, originária da Chechênia, no Cáucaso, onde impera uma cultura em que a autoridade é encarnada pelo pai ou, na falta deste, pelo irmão mais velho. Após anos vagando entre o Quirguistão e o Daguestão, os Tsarnaev se radicaram na região de Boston em 2002.

Mas o sonho americano durou pouco. O pai, Anzor, ficou doente, a mãe, Zubeidat, tornou-se fundamentalista e levou Tamerlan por este caminho.

Dzhokhar cresceu como pôde neste ambiente. "Era um bom menino", assegurou o advogado.

Seus pais, ambos vítimas de problemas psicológicos, segundo Bruck, voltaram à Rússia em 2012, deixando Tamerlan como única referência adulta para o caçula.

Em uma família deste tipo, "quando você dá as costas ao irmão mais velho, não é mais nada", afirmou.

Tamerlan tinha "o poder" sobre Jahar, insistiu o advogado, usando o apelido afetuoso que os amigos utilizavam com Dzhokhar.

Uma das primeiras testemunhas, um imã, Loay Assaf, se referiu a dois incidentes na mesquita de Cambridge (em frente a Boston) em 2012 e 2013, nos quais Tamerlan, furioso, se irritou com ele, afirmando que falar do Dia de Ação de Graças ou de Martin Luther King não era "islâmico".

Judith Russell, a mãe da jovem viúva de Tamerlan, Katherine, contou a "obsessão" de seu genro pelo Islã e a política.

"Sempre queria falar da influência deste país e do mal (que fazia) aos países muçulmanos", disse a mulher.

Outra testemunha também afirmou que, em comparação com Tamerlan, que praticava boxe, Dzhokhar Tsarnaev era mais tranquilo e não mostrava agressividade.

Tamerlan tinha poucos amigos. Foram encontrados apenas 90 e-mails em sua caixa postal enquanto Dzhozar tinha 5.000, segundo um especialista.

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