Brasil acha 'difícil entender' dúvidas de Merkel sobre acordo entre Mercosul e UE
O Brasil argumentou hoje que o acordo comercial Mercosul-UE já contém cláusulas de proteção ambiental e que, portanto, é "difícil entender" as "dúvidas" levantadas pela chanceler alemã, Angela Merkel sobre sua implementação.
"À luz de todos esses elementos, é muito difícil entender qual seria exatamente o benefício, para fins da proteção do meio ambiente e dos direitos trabalhistas nos dois blocos, de impedir a entrada em vigor do acordo", afirmou o Ministério da Relações Exteriores em resposta a um pedido da AFP por uma reação às declarações de Merkel.
A chefe do governo alemão expressou na última sexta-feira, por meio de seu porta-voz (21), "sérias dúvidas" sobre o futuro do acordo entre o bloco europeu, de 27 membros, e os países do Mercosul, devido ao avanço do desmatamento na Amazônia brasileira.
"Temos sérias dúvidas de que o acordo possa ser aplicado conforme planejado, quando se vê a situação" na Amazônia, disse o porta-voz, Stephan Seibert.
A Alemanha, continuou ele, tem "fortes preocupações" com o "desmatamento contínuo" e os "incêndios", que se multiplicaram nas últimas semanas na Amazônia.
A UE e os países do Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai) assinaram no ano passado um acordo de livre comércio que ainda não foi ratificado pelos parlamentos nacionais.
"Sobre as recentes declarações do porta-voz da chanceler federal alemã Angela Merkel, o governo brasileiro manifesta sua convicção de que o acordo é mutuamente benéfico", disse o Itamaraty em nota.
"Tem o potencial de criar inúmeras novas oportunidades em termos de comércio e investimentos, emite importante sinal em ambiente de crise econômica causada pela pandemia da COVID-19 e cria novos mecanismos de cooperação em múltiplos temas", acrescentou.
"Por esse motivo, o Brasil, em conjunto com seus parceiros do Mercosul, continua empenhado em finalizar os detalhes da negociação, assim como a revisão legal do instrumento, para permitir sua assinatura e posterior encaminhamento aos parlamentos dos países envolvidos", completou.
O parlamento austríaco e recentemente o holandês, bem como grupos ambientalistas, rejeitaram o pacto em seu formato atual.
Outros países, como Bélgica, França, Irlanda ou Luxemburgo, foram críticos.
Para responder as suas preocupações, um capítulo foi integrado ao texto final, tratando em particular da "conservação da floresta".
No ano passado, os incêndios na Amazônia e as atividades pró-mineração e agrícolas do presidente Jair Bolsonaro na Amazônia causaram uma crise diplomática entre a França e o Brasil.
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