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'Joe dorminhoco acorda a América': Imprensa internacional reage à vitória de Biden

Em Paris

08/11/2020 09h51

"Não acabamos de tremer pela democracia": a imprensa internacional saudou, com alívio, hoje, a anunciada vitória de Joe Biden e notou a "saída sem dignidade" de Donald Trump, mas com um temor pela esmagadora tarefa que aguarda o novo presidente e sua companheira de chapa Kamala Harris.

"Um novo amanhecer para a América", afirmou o jornal britânico The Independent, destacando o sucesso de Harris, primeira mulher a se tornar vice-presidente dos Estados Unidos.

"Joe dormindo acorda a América", zombou o Sunday Times em referência ao apelido pejorativo que Donald Trump deu a seu rival durante a campanha.

O Sunday Telegraph, por sua vez, retomou diretamente as palavras de Biden: "É hora de a América se curar".

"Que libertação, que alívio: os votos estão contados, os dias de Donald Trump também. Joe Biden herda uma carga pesada como nenhum outro de seus antecessores: ele deve unir a América", notou o jornal de esquerda alemão Süddeutsche Zeitung.

"Durante suas quase cinco décadas de vida pública, poucas pessoas acreditavam que Biden poderia chegar lá. Suas três tentativas de conquistar a Casa Branca foram amplamente consideradas como tendo pouca credibilidade", disse a emissora pública australiana ABC.

"Mas Biden sempre pareceu ter fé em si mesmo. E agora ele é o novo presidente dos Estados Unidos", conclui a ABC.

"Fim de quatro anos de reinado errático"

Joe Biden "põe fim a quatro anos de reinado errático de Donald Trump", escreveu o principal jornal dominical sul-africano, The Sunday Times.

A tarefa que aguarda a chapa democrata, no entanto, promete ser avassaladora, observou o semanário alemão Die Zeit (centro).

"Joe Biden terá que encontrar rapidamente respostas às ameaças que pairam sobre a economia e ao perigo agudo da pandemia. Que ele possa, sozinho, reconciliar o país é improvável. Que Donald Trump aceite a derrota é impensável. Ainda não acabamos de tremer pela democracia", alertou.

O maior jornal sueco, Dagens Nyheter (liberal), também considerou que a vitória de Biden é "agridoce". "Biden vai ter dificuldades para curar a América" e sua promessa de trazer o país de volta ao normal parece ser uma "missão impossível".

Ainda assim, o candidato conseguiu reconquistar os eleitores do "Cinturão de Ferrugem" no nordeste, que antes votavam em Trump e ajudaram o partido a conquistar novos no sudoeste, o que "poderia mudar a geografia eleitoral dos Estados Unidos num futuro previsível", ressaltou.

O jornal conservador Svenska Dagbladet também observou que "a eleição acabou, mas (que) o conflito continua".

"Tarefa monumental"

"Metade do país, ou pelo menos metade dos que votaram, pode ter uma sensação duradoura de que algo está errado após meses de batalhas e chamados para questionar a eleição; que o sistema eleitoral está fraudado e que não é confiável; que não há razão para votar; que a democracia americana não funciona de qualquer maneira; que a única pessoa em quem eles podem confiar é o cara que diz que teve a eleição roubada".

"Biden enfrenta a tarefa monumental de reconstruir a confiança no cenário mundial", disse o Japan Times.

No Oriente Médio, como o site pró-governo saudita Okaz, os jornais se questionavam sobre as repercussões dessa mudança de elenco na Casa Branca na região e, principalmente, nas relações com o Irã.

O jornal saudita Asharq Al-Awsat lembrou que o mandato do presidente em exercício favoreceu amplamente o eixo Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Egito e Bahrein, vis-à-vis o Irã.

No Irã, os jornais estão divididos. Para a mídia conservadora, a mudança de inquilino na Casa Branca é apenas uma fachada.

"América mudou sua máscara"

"A América mudou sua máscara", disse o Khorasan. "O inimigo desmascarado se foi, o inimigo mascarado está chegando", acrescentou Resalat. Os veículos próximos aos círculos reformistas, como o Aftab-e Yazd, o veem como um "novo capítulo para a América".

"Seu sucesso é nosso sucesso", escreveu o colunista do jornal centrista Yediot Aharonot em Israel, confiante de que o novo inquilino da Casa Branca permanecerá pró-Israel mesmo se reabrir o diálogo com o Irã.

Muitos meios de comunicação também estão repercutindo a carreira excepcional de Harris, que para o jornal australiano Sydney Morning Herald "quebrou o teto de vidro".

"Sua identidade negra permitiu que ela falasse de maneira pessoal durante um ano de questionamentos sobre a brutalidade policial e o racismo sistêmico. Como a mulher eleita para o cargo mais alto no governo americano, ela dá esperança para as mulheres que foram abatidas pela derrota de Hillary Clinton há quatro anos", concluiu.

Harris é "uma mulher forte, símbolo de renovação e temida por Trump", acrescentou o jornal espanhol de centro-direita El Mundo.

Trump "sem dignidade"

O tabloide alemão Bild, ao saudar a vitória de Biden, também optou por ressaltar a "saída sem dignidade" de Donald Trump, que se recusa a reconhecer a sua derrota e promete continuar a lutar.

O jornal australiano Daily Telegraph, de propriedade do magnata Rupert Murdoch, também observou que ele "simplesmente não vai aceitar a humilhação de aparentemente ter sido derrotado por um rival que considerava fraco e contra o qual quase não valia a pena lutar".

"Há meses ele pavimentava o caminho para denúncias de fraude eleitoral e não vai desistir dessa estratégia agora", disse.

No Cairo, o jornal governamental al-Akhbar acredita em "violações" nas eleições e diz que "é hora de os Estados Unidos pararem de nos ensinar lições de democracia".

No Brasil, a Folha de São Paulo observou que a derrota de Trump constitui "punição para os ataques à civilização" e alertou para a "lição" que isso representa para Jair Bolsonaro.

O jornal francês L'Est Républicain também vê as fraturas americanas como "um reflexo crescente de nossas próprias falhas".

Na Grã-Bretanha, o jornal regional Ayrshire Daily News, localizado em uma área que hospeda um dos muitos clubes de golfe de Trump, adotou uma abordagem puramente local: "O proprietário do clube de golfe de South Ayrshire perdeu a eleição de 2020".