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Mandado de prisão para Fujimori aumenta a tensão em drama eleitoral no Peru

Apesar de Castillo ter declarado vitória, disputa com Fujimori segue indefinida oficialmente - Cesar Bazan e Martin Mejia/AFP
Apesar de Castillo ter declarado vitória, disputa com Fujimori segue indefinida oficialmente Imagem: Cesar Bazan e Martin Mejia/AFP

De Lima (Peru)

10/06/2021 21h04Atualizada em 11/06/2021 08h00

Um promotor anticorrupção pediu hoje prisão preventiva para a candidata de direita Keiko Fujimori, o que aumentou ainda mais a tensão no Peru sobre a definição da eleição presidencial de domingo, liderada pelo esquerdista Pedro Castillo.

O andamento da contagem é angustiante diante de contestações de atas e denúncias de fraude e não foi declarado o vencedor da eleição para presidente.

Apesar disso, o presidente argentino, Alberto Fernández, parabenizou Castillo como "o presidente eleito do Peru". A saudação de Buenos Aires se juntou à dos ex-presidentes da Bolívia Evo Morales e do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva.

As felicitações de Fernández provocaram uma "nota de protesto" do governo peruano ao embaixador argentino em Lima "indicando que os resultados finais das Eleições Gerais 2021 ainda não foram anunciados pelas autoridades eleitorais".

Posteriormente, também chegaram saudações para Castillo do presidente da Bolívia, Luis Arce, e da vice-presidente e primeira-dama da Nicarágua, Rosario Murillo.

O promotor José Domingo Pérez solicitou ao Juízo Anticorrupção "que revogasse a movimentação com restrições [liberdade condicional] e ordenasse novamente a prisão preventiva contra a acusada Keiko Fujimori", por violar a proibição de se reunir com testemunhas no caso Odebrecht, pelo qual está sob investigação.

"Não há nenhum temor de que essa prisão preventiva ocorra", disse Fujimori em sua primeira reação ao pedido do promotor, negando ter violado as regras de conduta impostas pela justiça. Segundo a candidata, "há uma clara intenção de nos distrair, de nos perturbar" por parte de Pérez.

Comunicado naval

A candidata, que neste caso deve ir a julgamento se não conquistar a presidência, participou de entrevista coletiva na quarta-feira acompanhada pelo político fujimorista Miguel Ángel Torres —testemunha do caso Odebrecht— quando pediu ao Júri Eleitoral Nacional (JNE) para anular os resultados de 802 assembleias de voto —que envolvem cerca de 200 mil votos—, por alegadas irregularidades.

O pedido do promotor Pérez aumentou ainda mais a tensão em um país que ainda não sabe quem será seu novo presidente, quatro dias após a votação. Horas depois, a Marinha de Guerra do Peru negou em um comunicado a veracidade de um áudio sobre uma suposta conspiração de comandantes navais "contra a ordem constitucional".

Fujimori denunciou na segunda-feira (7) "indícios de fraude" e ontem pediu a anulação dos 200 mil votos, acentuando um clima de total incerteza em um país atolado em convulsões políticas nos últimos cinco anos, que chegou a empossar três presidentes em cinco dias em novembro.

"Dá a sensação de que ela quer questionar todo o processo eleitoral. Essa incerteza, seja quem vencer, vai afetar muito o clima nacional", disse à AFP o analista Hugo Otero.

A organização empresarial Confiep, que em eleições anteriores apoiou Fujimori, pediu em um comunicado que os candidatos "respeitem a decisão final" do JNE.

Incertezas

Os pedidos de revisão poderiam ser decididos em cerca de dez dias no JNE, portanto a disputa ainda está aberta, com uma queda desde segunda-feira na bolsa de Lima enquanto o dólar atinge a cotação recorde de 3,9 soles.

O boletim mais recente do órgão eleitoral mostra 50,17% dos votos para Castillo e 49,82% para Fujimori, com pouco mais de 99,4% das urnas apuradas.

Castillo está à frente de Fujimori por 62.000 votos e entregou mensagens em um tom vitorioso, mas se o JNE concordar com Fujimori, essa tendência pode mudar.

"Keiko alega [como uma fraude] que existem assembleias de voto em Cusco que têm 90% dos votos para Castillo, mas ela não disse que em La Molina [um distrito afluente de Lima] existem mesas que têm 90% para ela", disse Otero.

O presidente do Júri, Jorge Luis Salas, manifestou surpresa com o pedido de Fujimori de anulação de 802 mesas e lembrou que em 2016 "só houve reclamações contra 29 mesas".

O Escritório Nacional de Processos Eleitorais (ONPE) nega a possibilidade de fraude, assim como a Missão de Observação Eleitoral da Organização dos Estados Americanos (OEA), que qualificou o processo como normal e transparente.

Vitória cantada?

Castillo, professor de uma escola rural de Cajamarca (norte), recebeu durante a quinta-feira a visita de dois ex-candidatos presidenciais de partidos menores de centro-direita, George Forsyth e Daniel Salaverry. Castillo também recebeu os parabéns de alguns líderes da região pela "vitória" nas urnas e agradeceu as felicitações.

Depois de revelar que conversou com Castillo, Alberto Fernández disse que expressou seu desejo de unir "esforços em favor da América Latina. Somos nações profundamente gêmeas", escreveu ele no Twitter.

Lula também comemorou "a vitória" de Castillo no Peru e de seu povo. "O resultado das pesquisas peruanas é simbólico e representa mais um avanço da luta popular em nossa querida América Latina", tuitou Lula nesta quinta-feira.

Enquanto isso, o ultraconservador presidente brasileiro Jair Bolsonaro (sem partido) lamentou a possível vitória do professor rural.

"Perdemos agora o Peru. Voltou, ao que tudo indica, falta 1% de apuração lá, só um milagre para reverter, vai reassumir um cara do Foro de São Paulo", afirmou em evento evangélico no interior de Goiás.