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Justiça russa confirma condenação do opositor Navalny a nove anos de prisão

O líder da oposição russa Alexei Navalny  - Sefa Karacan / Agência Anadolu via Getty Images
O líder da oposição russa Alexei Navalny Imagem: Sefa Karacan / Agência Anadolu via Getty Images

24/05/2022 16h01

Moscou, 24 Mai 2022 (AFP) - A justiça russa confirmou nesta terça-feira (24), em julgamento de recurso, a condenação a nove anos de prisão em regime "severo" do principal opositor do Kremlin, Alexei Navalny, julgado por acusações de "fraude" e "desacato".

"O veredicto do tribunal de Lefortovo de 22 de março não mudou", declarou um juiz do tribunal municipal de Moscou, antes de informar que "entra em vigor imediatamente".

Na primeira instância, em 22 de março, o carismático ativista anticorrupção, que já cumpria uma pena de prisão em regime "normal", foi condenado a nove anos de prisão em regime "severo", com condições mais duras.

As autoridades carcerárias devem agora transferi-lo a um outro centro de detenção, que será comunicado posteriormente.

"O local para o qual ele deve ser transferido é conhecido por torturar e matar prisioneiros", escreveu no Twitter a porta-voz de Navalny, Kira Iarmich, segundo quem há rumores de que ele poderia acabar na colônia nº6 de Melekhovo, a mais de 200 km de distância de Moscou.

Navalny foi acusado, entre outras coisas, por uma fraude de milhões de rublos de doações para suas organizações de combate à corrupção.

A pena inclui a aplicada em março de 2021 por "fraude", em um caso iniciado em 2014 e que envolve a empresa francesa Yves Rocher.

Os advogados do opositor anunciaram imediatamente que apresentarão um recurso contra a sentença.

Alexei Navalny acompanhou a audiência por videoconferência na prisão de Pokrov, a 100 km de Moscou, onde cumpre sua primeira condenação.

Ao ser convidado a falar antes do fim das alegações, o opositor não hesitou em suas palavras, apesar dos vários pedidos de ordem por parte do tribunal.

"Desprezo seu tribunal, seu sistema", afirmou, antes de acrescentar que o julgamento "não tem sentido".

"Certamente não quero estar em uma cela", disse. "Preferia ver meus filhos crescer, mas peço às pessoas que não tenham medo, ter medo é um crime contra o nosso futuro", acrescentou.

Assim mesmo, voltou a denunciar a ofensiva militar russa na Ucrânia, que disse ser baseada em uma "mentira". Mas "seu tempo terminará e vão queimar no inferno", concluiu.

O secretário de Estado americano, Antony Blinken, criticou a condenação e afirmou que a Rússia está tentando "suprimir a dissidência".

"A rejeição do apelo de Navalny é outro exemplo do Kremlin buscando reprimir a dissidência e a sociedade civil", escreveu Blinken no Twitter.

"Respeitamos os bravos cidadãos da Rússia que protestam contra a guerra brutal de seu governo (contra a Ucrânia) e a corrupção endêmica, apesar das ameaças, acusações criminais, prisões e envenenamentos", acrescentou.

Alexei Navalny foi detido em janeiro de 2021 ao retornar de Berlim, onde passou vários meses em recuperação depois de um envenenamento, que ele atribui ao presidente russo Vladimir Putin.

O chefe de Estado da Rússia nega qualquer envolvimento e nenhuma investigação foi iniciada no país sobre o caso.

A detenção de Navalny marcou o início de uma grande repressão de todos os movimentos anti-Kremlin e meios de comunicação independentes na Rússia.

As autoridades russas reforçaram seu arsenal jurídico para controlar a informação sobre o conflito na Ucrânia, com penas de até 15 anos de prisão contra quem difundir "notícias falsas" sobre o exército russo.