Conteúdo publicado há 4 meses

Soldados israelenses atiram contra multidão desesperada para obter ajuda em Gaza

Soldados israelenses abriram fogo nesta quinta-feira (29) contra uma multidão faminta que se lançou sobre um comboio de ajuda humanitária em Gaza e mataram mais 110 pessoas, segundo o Ministério da Saúde deste território palestino governado pelo Hamas.

O Conselho de Segurança das Nações Unidas se reunirá em caráter de urgência para abordar o incidente, qualificado de "massacre" pelas autoridades do Hamas.

O drama, ocorrido na Cidade de Gaza, acontece no dia em que o número de mortos na Faixa de Gaza superou os 30.000 desde o início da guerra, segundo a mesma fonte.

O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, afirmou, por sua vez, que mais de 25.000 mulheres e crianças palestinas morreram em Gaza desde 7 de outubro, quando explodiu o conflito após a incursão brutal de comandos islamistas no sul de Israel.

O Exército israelense afirmou, nesta quinta, que houve um "tumulto" quando milhares de civis se lançaram sobre um comboio de 30 caminhões com ajuda humanitária, o que provocou dezenas de mortos e feridos, alguns atropelados pelos veículos.

Uma fonte israelense indicou que os soldados abriram fogo contra a multidão ao se sentirem "ameaçados". O Ministério da Saúde de Gaza detalhou que pelo menos 112 pessoas morreram e cerca de 750 pessoas ficaram feridas.

Segundo o ministério de Gaza e várias testemunhas, os militares israelenses posicionados nas imediações para proteger o comboio atiraram contra a multidão que avançou sobre os caminhões. 

O episódio diminui as esperanças de que Israel e o movimento islamista palestino alcancem uma trégua nos próximos dias. O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que mencionou esta semana a possibilidade de um acordo antes da próxima segunda-feira, admitiu hoje que esse prazo "provavelmente" não poderá ser cumprido.

- 'Gaza está ficando sem vida' -

O conflito explodiu em 7 de outubro, quando comandos islamistas mataram cerca de 1.160 pessoas, a maioria civis, e sequestraram por volta de 250 no sul de Israel, segundo um balanço da AFP baseado em números israelenses. 

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Uma trégua de uma semana no fim de novembro permitiu a troca de uma centena de reféns por 240 presos palestinos. Israel estima que cerca de 130 pessoas ainda sejam mantidas reféns em Gaza, das quais 30 teriam morrido.

Em retaliação, Israel lançou uma operação aérea e terrestre para "aniquilar" o Hamas, um movimento que classifica como organização "terrorista", assim como fazem os Estados Unidos e a União Europeia. 

Além disso, Israel impôs um "cerco completo" à Faixa de Gaza, impedindo a entrada de alimentos, água, medicamentos e combustível.

A ONU alertou que 2,2 milhões pessoas, a grande maioria da população de Gaza, correm o risco de fome, especialmente no norte, onde a destruição, os combates e os saques tornam quase impossível a entrega de ajuda. 

"Gaza está ficando sem vida a uma velocidade assustadora", denunciou o secretário-geral de Assuntos Humanitários da ONU, Martin Griffiths.

Por sua vez, o secretário-geral da ONU, António Guterres, "condenou" o ocorrido nesta quinta durante a distribuição de alimentos, mas acrescentou que ainda não tem informação "do que ocorreu exatamente", indicou seu porta-voz, Stéphane Dujarric.

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A Autoridade Palestina, que administra parcialmente a Cisjordânia ocupada, denunciou um "massacre atroz cometido pelas forças de ocupação" israelenses.

Uma testemunha, que preferiu não revelar sua identidade por razões de segurança, contou que "caminhões cheios de ajuda se aproximaram demais de alguns tanques do Exército [...] e a multidão, milhares de pessoas, se lançou sobre os caminhões". 

"Os soldados atiraram contra a multidão quando algumas pessoas se aproximaram demais dos tanques", acrescentou.

O alto representante para a política externa da União Europeia, Josep Borrell, denunciou uma "nova carnificina" em Gaza e disse que essas mortes eram "totalmente inaceitáveis".

Por sua vez, o ministro das Relações Exteriores da Espanha, José Manuel Albares, também considerou "inaceitável" o ocorrido em Gaza, enquanto o governo francês condenou os "disparos israelenses injustificáveis".

- 'Mais um dia de inferno' -

Os Estados Unidos estão analisando as "versões contraditórias" do incidente, informou Biden. 

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O porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller, indicou que Washington exigiu "respostas" de Israel e classificou a situação em Gaza como "desesperadora".

O gabinete do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, afirmou que muitos dos mortos foram esmagados pelos caminhões que acabaram "cercados por pessoas que tentavam saquear" o comboio.

O titular da agência das Nações Unidas para os refugiados palestinos (UNRWA, na sigla em inglês), assinalou que nenhuma agência da ONU participou da distribuição de ajuda. Foi "mais um dia de inferno", descreveu.

O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, que denuncia um "genocídio" em Gaza, anunciou a suspensão da compra de armamento de Israel, um dos maiores fornecedores paras as forças militares do país sul-americano.

A Arábia Saudita condenou energicamente a morte de civis desarmados e a Itália pediu um cessar-fogo imediato para facilitar a entrada de mais ajuda humanitária.

Nas últimas semanas, Estados Unidos, Catar e Egito intensificaram os esforços para conseguir uma nova trégua de seis semanas antes do início do Ramadã, o mês do jejum muçulmano que começa em 10 ou 11 de março.

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Dois israelenses morreram nesta quinta-feira na Cisjordânia ocupada baleados por um "terrorista", que foi "neutralizado", informaram fontes médicas e o Exército israelense.

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© Agence France-Presse

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