Violência homicida migra do Sudeste ao Norte e Nordeste
Em Brasília
Em dez anos, a violência homicida no Brasil migrou do Sudeste para o Norte e o Nordeste. Enquanto os índices de São Paulo e Rio chegaram a cair 80%, capitais nordestinas bateram recordes de assassinatos.
Entre os 5,6 mil municípios do país, 15 ultrapassaram a marca de cem mortes por 100 mil habitantes, revela o Mapa da Violência 2013 - Homicídios e Juventude no Brasil, com base no DataSUS.
Cidades com mais de cem homicídios por 100 mil habitantes*
Posição | Município | Estado | Nº de mortos* |
1º | Simões Filho | BA | 139,4 |
2º | Campina | PR | 125,3 |
3º | Ananindeua | PA | 118,8 |
4º | Cabedelo | PB | 116,7 |
5º | Arapicara | AL | 112,4 |
6º | Maceió | AL | 111,1 |
7º | Guaíra | PR | 110,2 |
8º | Rio Largo | AL | 108,9 |
9º | São Miguel dos Campos | AL | 108,2 |
10º | Marituba | PA | 107,4 |
11º | Marabá | PA | 107,2 |
12º | Porto | BA | 105,9 |
13º | Pilar | AL | 104,8 |
14º | Mata de São João | BA | 102,8 |
15º | Marechal Deodoro | 102,7 |
- * Fonte: Mapa da Violência 2013
- *Em 2011
Em 2011, dez cidades do Nordeste e três do Norte atingiram a marca de mais de cem homicídios por 100 mil habitantes - acima de 10 a taxa é considerada epidêmica. Em 2010, apenas Simões Filho, na Bahia, registrara esse índice.
A migração foi detectada por estudo preparado pelo sociólogo Júlio Jacobo Waiselfisz. A atração causada por novos polos econômicos e a abertura de novas fronteiras econômicas, somadas à falta de estrutura das regiões para lidar com a violência, permitiu a escalada das mortes onde antes se conhecia relativa tranquilidade.
O Mapa da Violência mostra que, na Bahia, a taxa de homicídios por 100 mil habitantes cresceu 223,6%. Na Paraíba, 202,3%. No Rio Grande do Norte, 190,2%.
Como em toda a violência no país, essa mudança também atinge principalmente os jovens. Em Alagoas, morrem 156, 4 jovens a cada 100 mil habitantes, quase oito vezes o número de São Paulo.
A epidemia de assassinatos que atinge o Nordeste pode ser traduzida pelos números das capitais. Em 1999, Salvador era a área metropolitana mais tranquila do país.
Em 12 anos, pulou para a 3.ª colocação --a taxa de homicídios passou de 7,9 por 100 mil para 69 por 100 mil. Maceió, a primeira do ranking hoje, com 111 assassinatos por 100 mil, era apenas a 14ª há 12 anos.
Das oito cidades que compunham a lista das capitais mais violentas, apenas Vitória e Recife ainda continuam entre as primeiras. A capital do Espírito Santo caiu do primeiro para o quinto lugar e Recife, da segunda para quarta posição. São Paulo, que era o terceiro lugar em 1999, hoje é a capital menos violenta do país.
A análise feita por Jacobo mostra que o eixo da violência acompanha seis tipos de alterações no perfil socioeconômico do país. A principal são os novos polos de desenvolvimento, que cresceram não apenas nas capitais do Norte e do Nordeste, mas no interior dos Estados.
Entre 2003 e 2011, a violência aumentou 23,6%, enquanto nas capitais, caiu 20,9%, com a concentração maior nas cidades do Sul e Sudeste.
"A emergência desses novos polos de crescimento, atraindo investimentos e gerando emprego e renda, tornam-se também atrativos para a criminalidade por serem áreas onde os mecanismos da segurança são ainda precários ou incipientes, sem experiência histórica e aparelhamento para o enfrentamento das novas configurações da violência", diz o estudo.
Limites
As fronteiras são outro foco de violência. Uma das duas únicas cidades fora do Nordeste que alcançaram a média de mais de cem homicídios por 100 mil habitantes é Guaíra, no Paraná, na fronteira com o Paraguai e divisa com Mato Grosso do Sul.
Jacobo elenca o turismo predatório e as causas tradicionais como os fomentadores da violência, como a presença das organizações criminosas, do tráfico e das milícias. As informações são do jornal "O Estado de S. Paulo".