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Aliado de João Doria deve comandar a Assembleia Legislativa de São Paulo

Com o apoio do PT, o deputado Carlão Pignatari (PSDB) é o favorito para vencer a disputa  - Mauricio Garcia de Souza/Alesp
Com o apoio do PT, o deputado Carlão Pignatari (PSDB) é o favorito para vencer a disputa Imagem: Mauricio Garcia de Souza/Alesp

Paula Reverbel

Em São Paulo

15/03/2021 08h06

Com o futuro eleitoral indefinido, o governador João Doria (PSDB), que considera agora abrir mão do projeto nacional para tentar a reeleição em São Paulo, deve emplacar hoje um novo aliado na presidência da Assembleia Legislativa. Com o apoio do PT, o deputado Carlão Pignatari (PSDB) é o favorito para vencer a disputa e assim manter o alinhamento da Casa com o Palácio dos Bandeirantes - essencial para o momento enfrentado por Doria, alvo de críticas pela adoção de medidas impopulares para conter o novo coronavírus.

Com a permanência do PSDB no comando da pauta de votação da Alesp, o governo Doria espera acelerar o processo de aprovação do auxílio anunciado para enfrentar a crise provocada pela pandemia, atual prioridade do governo. Batizada de "bolsa-trabalho", a proposta prevê oferecer R$ 450 por até cinco meses para desempregados. Projetos relacionados à municipalização de rodovias também devem receber destaque pelos próximos dois anos.

A expectativa é que Pignatari receba o apoio de ao menos 60 dos 94 deputados - são necessários 48 votos para se tornar presidente. Disputarão contra o tucano os deputados Major Mecca (PSL), Sergio Victor (Novo) e Carlos Gianazzi (PSOL).

Atual líder do governo, Pignatari responde a pelo menos quatro processos na Justiça por improbidade administrativa e, em dois deles, já foi condenado à perda do mandato e dos direitos políticos. Ele recorreu das sentenças e, num processo em que o desfecho estava prestes a retirá-lo do cargo, negociou um acordo com o Ministério Público de São Paulo. Procurado, o tucano não quis dar entrevista.

Os três candidatos da oposição pregam uma maior independência do Poder Legislativo. Com exceção do período de nove meses em que Márcio França (PSB) concluiu o mandato do tucano Geraldo Alckmin, em 2018, o presidente eleito da Assembleia é sempre do mesmo partido do governador. Isso ocorre há 14 anos.

O alinhamento se traduz na aprovação de pautas de interesse do Bandeirantes. Em 2020, por exemplo, os deputados ratificaram duas propostas polêmicas enviadas por Doria - a reforma da Previdência estadual e o pacote de ajuste fiscal. Em ambos os casos, as matérias foram aprovadas com menos de quatro meses de tramitação.

Troca

A negociação em torno da eleição de Pignatari tem apoio do PT e do DEM, que ficarão com a primeira e a segunda secretarias, respectivamente. Devem ser eleitos Luiz Fernando (PT) e Rogério Nogueira (DEM). Só os três primeiros cargos da Mesa Diretora - presidência, primeira secretaria e segunda secretaria - são responsáveis pela nomeação direta de mais de 150 vagas. Considerando toda a estrutura abaixo da Mesa, o número chega a 536.

"É uma eleição muito difícil porque o governo usa a máquina dele e põe emendas parlamentares. Os cargos são distribuídos para os partidos que entram no consórcio. É uma cooptação, o deputado tem que ter muita firmeza política-ideológica para não aderir ao acordão", afirmou Gianazzi.

Apesar de pertencer ao outro lado do espectro político, Sergio Victor (Novo) tem um discurso semelhante ao do PSOL em relação ao alinhamento entre governo e Alesp. "A eleição é em dois turnos. Então, o primeiro turno é uma grande oportunidade para a gente marcar posição. A gente gostaria que a Casa não votasse apenas o que é prioridade do governo", disse.

Major Mecca segue essa linha: "Pretendo trazer independência ao Poder Legislativo, que deve deixar de ser o puxadinho do Palácio dos Bandeirantes." Representante do PSL, o partido que tem a maior bancada da Casa, com 12 deputados, Mecca recebeu apoio de parlamentares de outras siglas, como Coronel Telhada (PP), que abriu mão de sua candidatura.

Protestos

Com o agravamento da pandemia, Doria anunciou, semana passada, medidas impopulares para a contenção da doença, como a suspensão do Campeonato Paulista, a determinação de um toque de recolher das 20h as 5h a partir desta segunda, o recesso escolar e a suspensão de cultos em igrejas.

As medidas, que não precisam de aval dos deputados, viraram munição para parte da oposição contrária ao fechamento do comércio. Douglas Garcia (PTB), por exemplo, chegou a divulgar o endereço do governador nas redes sociais para, segundo ele, pessoas que perderem o emprego por causa do que chamou de atitudes "totalitárias do governador" encaminharem a ele seus boletos de contas a pagar.

Em confronto com bolsonaristas, Doria tem exposto números que mostram a superlotação do sistema de saúde, em processo de colapso.

Outra estratégia é usar a vacina do Butantan como trunfo. Segundo o tucano, o acordo com o laboratório chinês Sinovac para a produção da Coronavac possibilitou que até agora nove de dez vacinas aplicadas no Brasil tenham sido entregues pelo instituto. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do publicado na primeira versão, Douglas Garcia é do PTB, e não do PSL. A informação foi corrigida.