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Em entrevista, Bolsonaro mente sobre CoronaVac e defende tratamento precoce

Jair Bolsonaro elogiou a vacina da Pfizer, mas ele e seu governo demoraram meses para responder às ofertas de doses da farmacêutica - Mateus Bonomi/AGIF/Estadão Conteúdo
Jair Bolsonaro elogiou a vacina da Pfizer, mas ele e seu governo demoraram meses para responder às ofertas de doses da farmacêutica Imagem: Mateus Bonomi/AGIF/Estadão Conteúdo

Eduardo Gayer e Pedro Caramuru

Do Estadão Conteúdo, em São Paulo

16/06/2021 07h32Atualizada em 16/06/2021 08h10

O presidente Jair Bolsonaro espalhou uma desinformação sobre a CoronaVac, vacina contra covid-19 desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantan. "Não tem comprovação científica ainda", disse o presidente, durante entrevista concedida na noite desta terça-feira (15) à SIC TV, afiliada da RecordTV em Rondônia.

A CoronaVac, contudo, já passou pelos testes de fase três e teve o uso emergencial aprovado não só pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em 17 de janeiro, mas também pela Organização Mundial da Saúde (OMS), após apresentar dados de eficácia.

Segundo Bolsonaro, a vacina da Pfizer "tem mais credibilidade que a que foi e está sendo distribuída aqui", em uma referência à CoronaVac, que foi o primeiro imunizante aplicado no país e, até hoje, é distribuída em volume muito maior em relação às doses do laboratório norte-americano. Apesar de relatar "credibilidade" da vacina da Pfizer, Bolsonaro e seu governo demoraram meses para responder às ofertas de doses da farmacêutica.

Em um novo aceno à sua base mais radicalizada, Bolsonaro ainda voltou a defender o chamado "tratamento precoce" para a covid-19 — a utilização de medicamentos sem eficácia comprovada contra a doença. "A indústria farmacêutica não se preocupa com remédios que são baratíssimos, se preocupa com vacinas, que são caras", disse o presidente, durante a entrevista. "Sempre defendemos o tratamento precoce após ouvir médicos", ressaltou.

Questionado sobre a possibilidade do Ministério da Saúde atender à demanda por um parecer que flexibilize o uso de máscaras por vacinados e já infectados, hipótese aventada na semana passada e criticada por especialistas, Bolsonaro ironizou.

"Quem não dispensar a pessoa que está vacinada de usar máscara é negacionista, não acredita na vacina". Em seguida, o presidente disse que as multas para quem é flagrado sem utilizar máscaras no Estado São Paulo, como ele foi no último sábado em sua "motociata", tornaram-se um "negócio lucrativo" para o governador João Doria (PSDB).

Bolsonaro também fez novas críticas à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid. "Nasceu capenga, a começar pelo presidente Omar Aziz, cuja esposa foi presa. O relator é Renan Calheiros, que tem inquéritos no Supremo". O líder do Palácio do Planalto, por outro lado, chamou de "louvável" a postura de sua tropa de choque no colegiado, citando nominalmente os senadores Marcos Rogério (DEM-RO), Luis Carlos Heinze (PP-RS) e Jorginho Mello (PL-SC).

Em linha com o que fez na terça-feira o ex-secretário de Saúde do Amazonas Marcellus Campêlo, Bolsonaro negou ter culpa na crise do oxigênio vivida no Estado. "A curva de infectados subiu assustadoramente, ninguém poderia adivinhar. Agora virou briga política no Estado, Omar Aziz e Eduardo Braga (membros da CPI) querem arrumar maneira de prejudicar o governador (do Amazonas, Wilson Lima (PSC))".

Armas

Bolsonaro voltou a defender que a liberação para posse estendida de armas em propriedades rurais, válida para todo o imóvel e não apenas sede da fazenda, ajudou a coibir as invasões de terras. Durante entrevista, o presidente também destacou a ampliação do arsenal de armas à disposição da população civil. "(Temos) também armas de calibre um pouco maior. Não são fuzis ainda, mas são armas bastante próximas disso. Isso tem levado tranquilidade ao campo", afirmou.

Em 2019, quando assumiu o governo, o presidente chegou a publicar decreto que ampliava o acesso de qualquer cidadão a armas de fogo, inclusive fuzis de assalto. Apesar do documento, a compra de fuzis acabou vetada pelo Exército Brasileiro, ao qual coube a tarefa de regulamentar o acesso. Na decisão, o braço das Forças Armadas manteve, entretanto, a previsão de uso de pistolas de calibre 9mm e .45, antes de uso restrito das forças de segurança.

Bolsonaro também comentou a autorização do Ministério da Justiça nesta terça-feira para uso da Força Nacional de Segurança em Rondônia por causa de conflitos agrários. "Alguns podem não gostar, mas temos um projeto no Congresso, que, acho que se aprovar, resolve em definitivo, chama-se: excludente de ilicitude", afirmou. Segundo o presidente, a aprovação do texto seria "um fator de inibição para estes marginais".

Rodovia

Durante a entrevista, Bolsonaro também prometeu finalizar a construção da rodovia que ligará Porto Velho (RO) e Manaus (AM) e disse que o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, teria se comprometido com a obra.

"Tarcísio acha que não teremos problemas de licenciamento ambiental. Existem xiitas na questão ambiental, mas eles não são xiitas conosco", afirmou. O governo federal tem sido acusado pela oposição de desmontar as estruturas públicas de fiscalização na proteção ao meio ambiente.

O governo Bolsonaro teve início em 1º de janeiro de 2019, com a posse do presidente Jair Bolsonaro (então no PSL) e de seu vice-presidente, o general Hamilton Mourão (PRTB). Ao longo de seu mandato, Bolsonaro saiu do PSL e ficou sem partido até filiar ao PL para disputar a eleição de 2022, quando foi derrotado em sua tentativa de reeleição.