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Coordenador que 'levou' Moro ao União recebeu R$ 60 mil da Fundação do Podemos

O senador Álvaro Dias e o ex-juiz Sergio Moro - Reprodução/Instagram
O senador Álvaro Dias e o ex-juiz Sergio Moro Imagem: Reprodução/Instagram

Luiz Vassallo e Gustavo Queiroz

São Paulo

06/04/2022 14h56Atualizada em 06/04/2022 18h59

Dentro do montante investido pelo Podemos na pré-campanha de Sérgio Moro, suspensa pelo ex-juiz ao migrar para o União Brasil, o partido calcula que pagou R$ 60 mil de recursos de sua fundação ao coordenador de campanha do ex-ministro, o advogado Luis Felipe Cunha. Ele foi um dos responsáveis por articular a troca de partido do ex-ministro para o União Brasil - mudança condicionada à sua desistência da corrida presidencial.

Segundo o partido, os valores foram pagos em duas vezes à empresa do advogado, Bella Ciao, e teriam o objetivo de colaborar com a elaboração do plano de governo quando o ex-juiz ainda apostava na corrida presidencial. Seguindo a legislação eleitoral, a Fundação Podemos é financiada com 20% dos repasses do Fundo Partidário, de acordo com a legenda. Desta forma, a verba pública custeou os serviços.

Em nota enviada na noite desta terça-feira, 5, Cunha afirmou que sua empresa foi contratada pela Fundação Podemos para "elaborar um projeto de melhorias para o país, visando subsidiar uma possível candidatura presidencial", mas que o partido ainda está devendo pelos serviços prestados.

"O trabalho vinha sendo desenvolvido regularmente com a previsão de pagamentos mensais. Entretanto, somente as duas primeiras parcelas referentes à prestação do serviço foram efetivamente quitadas", disse. Ele alega, ainda, que a "situação de inadimplência" teria afetado outros prestadores de serviços contratados pelo Podemos no período. Segundo o advogado, a equipe de marketing apartada do partido não foi sido remunerada pelo trabalho referente a propagandas partidárias veiculadas.

O advogado chegou à pré-campanha em meados de dezembro, e promoveu uma fase de "separação de corpos" entre o ex-juiz e o Podemos, quando cercou Moro de pessoas de confiança externas à estrutura do partido. Foi um dos pivôs da disputa por dinheiro entre a equipe do ex-ministro e a presidente do Podemos, Renata Abreu. O partido se comprometeu a disponibilizar R$ 40 milhões para a campanha. Integrantes da legenda afirmaram ao Estadão que Moro e Cunha pediam R$ 70 milhões.

O advogado também foi responsável por substituir a agência contratada pelo Podemos pelo marqueteiro Pablo Nobel, que assumiu a campanha de Moro. Também manteve próximo da equipe o marqueteiro Paulo Vasconcelos, que trabalhou para Aécio Neves (PSDB) em 2014 e, depois, foi delatado por executivos da Odebrecht por supostamente receber doações via caixa 2 em 2014 e 2010.

Cunha era figura presente em reuniões estratégicas de campanha no Hotel Intercontinental, em São Paulo. Custeado pelo partido para hospedar Moro, o estabelecimento também foi palco da reunião que selou a ida do ex-juiz para o União Brasil, na quinta-feira, 31.

Na campanha, Cunha foi responsável por apresentar Moro a empresários como Paulo Marinho, que rompeu com o presidente Jair Bolsonaro. Nos diálogos, chegou a sugerir a criação de uma conta apartada do partido para sustentar a campanha, onde receberia doações mensais de R$ 25 mil de aproximadamente 40 empresários, absorvendo R$ 1 milhão por mês.

Especialista em contencioso, o advogado teve em sua clientela a Petrobras - que esteve no centro da Lava Jato -, o Sesc de Brasília e jogadores de futebol. Cunha segue ao lado de Moro na agenda de encontros do ex-juiz.

Conforme mostrou o Estadão, o Podemos estima gastos acima de R$ 2 milhões com a pré-campanha do ex-juiz.