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Agenda climática pode decidir eleição, dizem especialistas durante conferência

Montagem de fotos do presidente Jair Bolsonaro e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva  - Alan Santos/PR e Ricardo Stuckert
Montagem de fotos do presidente Jair Bolsonaro e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva Imagem: Alan Santos/PR e Ricardo Stuckert

Fábio Grellet

Rio

27/05/2022 20h14

O Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) e a KAS-EKLA realizaram nesta quinta e sexta-feiras, 26 e 27, a conferência "A Agenda Climática como Eixo Central da Política Externa na América Latina", que ocorreu na sede do Cebri, na Gávea (zona sul do Rio de Janeiro), e foi transmitida virtualmente. Especialistas de Brasil, Peru, Colômbia e Chile ressaltaram a importância de uma agenda climática integrada para promover o desenvolvimento econômico sustentável e o bem-estar social no continente. Segundo os participantes, a agenda climática influencia na promoção da saúde e geração de empregos e, portanto, faz parte da pauta dos candidatos às eleições deste ano.

"O meio ambiente está no centro da disputa de poder da nova geopolítica mundial. A agenda climática, que começou a ser construída na Rio-92, há 30 anos, não é um tema de direita ou esquerda, muito menos um tema separado da agenda econômica atualmente. Agenda climática representa poder econômico e político e também tecnológico", afirmou a conselheira do Cebri e ex-ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira.

Segundo Nicole Stopfer, diretora do Programa Regional de Segurança Energética e Mudança Climática na América Latina da Fundação Konrad Adenauer (KAS), a ideia da conferência foi de abrir um espaço de diálogo para maior integração entre os países da América Latina. "A região tem um enorme potencial energético e sustentável. A elaboração de políticas públicas regionais e globais de cooperação em um momento crítico para todo o mundo é fundamental", afirmou.

Também participaram das discussões Hussein Kalout, conselheiro consultivo internacional do Cebri e pesquisador da Universidade de Harvard; Christian Guttiérrez Pangui, diretor do Centro Regional de Crescimento Verde e Mudança Climática no Chile; Ana Toni, diretora do Instituto iCS e senior fellow do Núcleo de Meio Ambiente e Mudanças Climáticas do Cebri; Maria Laura Rojas, co-fundadora e diretora da ONG Transforma na Colômbia; e Elza Kelly, embaixadora e diretora do Comitê de Assuntos Ambientais e Desenvolvimento Humano do Conselho Argentino de Relações Internacionais (Cari). Manuel Pulgar, ex-ministro do Meio Ambiente do Peru e líder global de Clima e Energia da World Wild Foundation (WWF), também participou a convite da KAS-EKLA.

Elza Kelly destacou a importância da diplomacia na implementação de políticas públicas colaborativas - "Não podemos continuar com uma mentalidade do século XX. A diplomacia deve tratar a questão ambiental como elemento central de política externa e se aproximar cada vez mais dos cientistas. Precisamos ser assessorados em matéria de ciência e tecnologia e incorporar esses conhecimentos à formação dos diplomatas para a garantia dos interesses nacionais", frisou.

Manuel Pulgar, ex-ministro de Meio Ambiente no Peru, disse que o valor da tonelada no mercado de carbono não é competitivo para determinados setores econômicos nos países da América Latina. Segundo Pulgar, os governos da região, especialmente os países fronteiriços da região amazônica, deveriam criar uma regulação e dar incentivos para se beneficiarem do mercado de carbono na transição energética nos próximos anos. Pulgar também ressaltou a importância de "melhor uso do solo, combate eficaz ao desmatamento e de uma melhor governança política e planejamento conjunto dos países da região".

Hussein Kalout alertou que a agenda climática era periférica na política externa da região, mas hoje é um tema estratégico e de longo prazo. "Há uma demanda imediata da sociedade. Meio ambiente está totalmente ligado à economia, à geração de empregos e à promoção da saúde pública", pontuou.

Ana Toni lembrou que a Rio-92, realizada há 30 anos, foi um marco para colocar a agenda climática na pauta de discussões. Agora, a agenda climática é central para a economia dos países, sobretudo os desenvolvidos. "É preciso trazer este tema para as eleições, falar com o cidadão comum, e numa linguagem mais acessível. No Chile e na Alemanha o tema climático definiu as eleições. Espero que no Brasil, nas eleições de outubro, aconteça o mesmo. Mais de dois milhões de jovens tiraram título de eleitor no Brasil este ano. Os jovens vão votar pensando nessa agenda, porque é a mesma agenda de saúde e renda, e não uma agenda separada. Todos os candidatos estarão atentos, porque dá voto", disse.

Para Christian Guttiérez Pangui, a mudança climática não ocorre sem envolvimento, inclusão política e participação da sociedade. Ele ressaltou com preocupação um movimento de militarização na Amazônia. "É importante que haja uma cultura colaborativa entre os países para promoção da segurança energética e agroalimentar na América Latina, isso deve ser prioridade para a política externa do continente".