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Aposta de Bolsonaro no Rio, deputado Ramagem financia dupla do 'gabinete do ódio'

Cotado para representar o clã Bolsonaro na disputa pela Prefeitura do Rio de Janeiro nas eleições municipais de 2024, o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) financia, desde o início do ano, dois nomes apontados como líderes do chamado "gabinete do ódio" - grupo investigado por produzir e disseminar desinformação e ataques às instituições durante o mandato do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Ex-diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Ramagem contrata, por meio de seu gabinete na Câmara dos Deputados, os serviços de uma empresa de comunicação de três ex-assessores da gestão Bolsonaro. Dois deles são alvos de investigação no Supremo Tribunal Federal (STF) no inquérito das fake news: José Matheus Sales Gomes, ex-assessor do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) e um dos homens de confiança do "02", e Mateus Matos Diniz. Os dois ocuparam cargos na Assessoria Especial de Bolsonaro entre 2019 e 2022.

Desde junho deste ano, o gabinete de Ramagem gasta, mensalmente, R$ 7 mil com a Agência Mellon, empresa de José Matheus, Mateus Diniz e Leonardo Augusto Matedi Amorim, ex-assessor da Secretaria Especial de Comunicação Social na gestão Bolsonaro. A empresa foi criada em maio, um mês antes do início da prestação de serviço de divulgação de atividade parlamentar para o deputado.

De acordo com as notas fiscais emitidas pela agência, a empresa presta serviço de gerenciamento e produção de conteúdo para as redes sociais de Ramagem. Com sede em Brasília, a Agência Mellon, no entanto, não mantém site ou qualquer meio de comunicação para contratação de serviços de comunicação e marketing. O Estadão tentou contato com o telefone indicado nas notas fiscais apresentadas à Câmara dos Deputados, mas não obteve resposta.

A reportagem esteve no endereço registrado pela empresa na Receita Federal. O Estadão tocou o interfone do local, mas não foi atendido. Vizinhos disseram que nunca ouviram falar em Mellon Comunicação. Também afirmaram desconhecer José Matheus e Mateus Diniz. Um morador afirmou que quem reside no número 116 é uma dentista.

Nomeação como assessor

O repasse de recursos públicos para os ex-integrantes do gabinete do ódio começou antes mesmo da criação da agência de comunicação. Com o fim do governo Bolsonaro, José Matheus foi alocado como secretário parlamentar no gabinete de Ramagem na Câmara. Em três meses, entre março e maio deste ano, ele recebeu R$ 28.174,63 entre remuneração e auxílios.

Três dias após ser exonerado do gabinete, no dia 14 de maio, José Matheus e os outros dois sócios registraram a Mellon Comunicação e Marketing LTDA na Receita Federal.

Em nota, Ramagem diz que José Matheus solicitou o desligamento no gabinete para dar início ao processo de abertura de empresa e que "por reconhecer a capacidade técnica do servidor" optou por contratar os serviços da agência.

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Ex-delegado da Polícia Federal, Ramagem estava à frente da Abin quando a PF apontou que a agência de inteligência teria atrapalhado investigações envolvendo Jair Renan Bolsonaro, filho "04" de Bolsonaro. Um agente da PF admitiu que recebeu a orientação de "levantar informações sobre uma operação que tinha Jair Renan como alvo para prevenir "riscos à imagem" de Bolsonaro. À época, a PF afirmou em um relatório que Abin teve um papel de "interferência nas investigações".

José Matheus se aproximou do clã Bolsonaro e seus aliados via Carlos Bolsonaro. Ele chamou a atenção do "02" em 2013 com a página "Bolsonaro Zuero" no Facebook. Um ano depois, o vereador do Rio de Janeiro nomeou José Matheus, que ficou conhecido como Matheus "Zuero", em um cargo na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, onde ficou até o início do governo Bolsonaro.

'Leal aliado' para a disputa à Prefeitura do Rio

Interlocutores da família Bolsonaro ouvidos pelo Estadão dizem que Ramagem "é um leal aliado" do ex-presidente e "atenderá às demandas do ex-chefe do Executivo e seus filhos" sempre que possível. O ex-diretor da Abin ganhou a confiança do clã da Zona Oeste do Rio de Janeiro antes mesmo da eleição de 2018.

Foi designado para cuidar da segurança do então presidenciável após o atentado à faca em Juiz de Fora, em 6 de setembro de 2018. E teve ascensão rápida no novo governo. Chegou a ser nomeado superintendente da Polícia Federal (PF) no Ceará, em fevereiro de 2019, mas foi deslocado para um cargo de assessor especial do então ministro da Secretaria de Governo, general Santos Cruz. Em julho, foi para a Abin. Bolsonaro quis nomeá-lo diretor-geral da PF. O presidente queria ter, segundo o então ex-ministro Sérgio Moro, alguém com quem pudesse "interagir" e que lhe fornecesse relatórios de inteligência.

Ex-delegado da Polícia Federal, Ramagem estava à frente da Abin quando a PF apontou que a agência de inteligência teria atrapalhado investigações envolvendo Jair Renan Bolsonaro, filho "04" de Bolsonaro. Um agente da PF admitiu que recebeu a orientação de "levantar informações sobre uma operação que tinha Jair Renan como alvo para prevenir 'riscos à imagem' de Bolsonaro. À época, a PF afirmou em um relatório que Abin teve um papel de "interferência nas investigações".

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Ex-integrante dos quadros da corporação, Ramagem foi responsável pelas Divisões de Administração de Recursos Humanos (2013 e 2014) e de Estudos, Legislações e Pareceres (2016 e 2017) e integrou a equipe responsável pelas investigações da Lava Jato no Rio em 2017.

Em 2022, foi eleito deputado federal pelo Rio de Janeiro com o apoio da família Bolsonaro, com 59 mil votos.

Agora, com a resistência do ex-ministro da Casa Civil Walter Braga Netto em assumir o posto de candidato de Bolsonaro na eleição municipal na capital fluminense do ano que vem, Ramagem é estudado por Bolsonaro como um dos nomes viáveis para a disputa em seu berço eleitoral. Ele conta com o apoio dos filhos do ex-presidente.

A decisão deve ser tomada em conjunto com o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL-RJ), até o fim do ano, segundo integrantes da legenda. A opinião de Bolsonaro deve ter um peso maior na decisão do partido, uma vez que o ex-chefe do Executivo vê na capital fluminense um reduto capaz de manter a mobilização da base bolsonarista.

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