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Três atentados em um mês: qual a força atual do Estado Islâmico?

14/11/2015 16h16

O grupo autodenominado "Estado Islâmico", que assumiu a autoria dos atentados que deixaram pelo menos 129 pessoas mortas em Paris, despontou na cena internacional em 2014, quando conquistou grande parte do território da Síria e do Iraque.

Nas últimas semanas, porém, o grupo aumentou seu escopo de ações e assumiu a autoria de grandes ataques internacionais: a derrubada de um avião no Egito, bombardeios em Beirute e, agora, atentados em Paris.

Os ataques ocorrem no momento em que o grupo está sendo atacado por uma coalizão liderada pelos Estados Unidos, com efeitos sobre os territórios controlados pelo grupo no Oriente Médio.

Veja abaixo cinco questões sobre a atual força do grupo extremista.

Qual o tamanho do território controlado pelo EI?

Em setembro de 2014, o então diretor do Centro Nacional de Contraterrorismo dos EUA, Matthew Olsen, disse que o EI controlava grande parte da bacia dos rios Tigre e Eufrates - uma área do tamanho do Reino Unido, com cerca de 210 mil quilômetros quadrados.

Sete meses depois, militares americanos disseram que o "Estado Islâmico" perdeu cerca de um quarto de seu território no Iraque - equivalente a entre 13 mil e 15 mil quilômetros quadrados - mas que sua área de influência na Síria continuava a mesma, com perdas em outras áreas compensadas com ganhos em outras.

Mas esses dados não necessariamente refletem a situação em terra. Na verdade, militantes do EI exercem controle absoluto apenas sobre uma pequena parte deste território, que inclui cidades e vilarejos, ruas principais, campos de petróleo e instalações militares.

Eles têm liberdade de movimento nas vastas áreas inabitadas fora do que o Instituto para Estudos da Guerra chama de "zonas de controle", mas ele teriam dificuldades se fossem forçados a defendê-las de uma ofensiva.

Também não há informações precisas sobre o número de pessoas que vivem atualmente em áreas sob controle total ou parcial do EI na Síria e no Iraque. Em março de 2015, o presidente do Comitê Internacional da Cruz Vermelha estimou-as em cerca de 10 milhões.

Nas áreas em que o EI implementou sua rígida interpretação da sharia (lei islâmica), mulheres são forçadas a usar véus completos, decapitações públicas são comuns e não muçulmanos são forçados a escolher entre pagar um imposto especial, se converter ou morrer.

E os alvos fora da Síria?

Nas últimas semanas, o EI começou a reivindicar autoria de ataques fora de seu território. Um grupo egípcio ligado ao EI, a Província do Sinai, disse que derrubou um avião de passageiros na península do Sinai, matando as 228 pessoas a bordo.

Eles não deram detalhes sobre o ataque, mas Reino Unido e Estados Unidos disseram que provavelmente a queda da aeronave foi causada por uma bomba.

O "Estado Islâmico" também diz ser autor de explosões simultâneas na capital do Líbano, Beirute, que deixaram 41 pessoas mortas. Militantes do movimento libanês Hezbollah estão lutando na vizinha Síria ao lado do presidente Bashar al-Assad, inimigo do EI.

E agora, pelo menos 129 pessoas morreram em uma onda de ataques em Paris. O "Estado Islâmico" disse estar por trás da onda de violência, e o presidente da França, François Hollande, descreveu os atentados como um "ato de guerra".

Quantos combatentes o 'Estado Islâmico' tem?

Em fevereiro de 2015, o diretor de Inteligência Nacional dos EUA, James Clapper, disse que o EI poderia reunir "algo entre 20 mil e 32 mil militantes" no Iraque e na Síria.

Mas ele ressaltou que houve uma "desistência substancial" em suas frentes desde o início dos ataques da coalizão liderada pelos EUA em agosto de 2014. Em junho de 2015, o vice-secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse que mais de 10 mil combatentes do EI haviam sido mortos.

Para diminuir os efeitos das perdas humanas, o EI teria recorrido à conscrição obrigatória em algumas áreas.

Mas um grande número de combatentes não é nem iraquiano nem sírio. Em outubro de 2014, o diretor do Centro Nacional de Contraterrorismo, Nicholas Rasmussen, disse ao Congresso americano que o grupo havia atraído mais de 28 mil combatentes estrangeiros. Pelo menos 5 mil seriam ocidentais.

De onde vem o dinheiro do grupo?

Acredita-se que o "Estado Islâmico" seja o grupo extremista mais rico do mundo. Inicialmente, eles dependiam da riqueza de doadores privados e instituições de caridade islâmicas no Oriente Médio que desejavam retirar Assad do poder. Apesar de este dinheiro ainda ser usado para financiar a ida de combatentes estrangeiros para a Síria, o grupo consegue se financiar sozinho.

O Tesouro americano estimou, em 2014, que o EI poderia ganhar US$ 100 milhões por semana com a venda de petróleo cru e produtos refinados para intermediários que os contrabandeavam para a Turquia e o Irã, ou os vendiam para o governo da Síria.

Mas acredita-se que ataques aéreos contra a infraestrutura petroleira impactaram essa renda.

O pagamento de resgate de sequestros também gerou cerca de US$ 20 milhões para o EI no ano passado. Mas o grupo também arrecada milhões de dólares por mês extorquindo pessoas que vivem em áreas sob seu domínio, além de realizar roubos e saques.

Minorias religiosas são obrigadas a pagar um imposto especial. O EI também lucra com roubos a bancos, venda de antiquidades e ao roubar e controlar a agricultura e criação de animais.

Mulheres e garotas sequestradas também são muitas vezes vendidas como escravas sexuais.

Qual o objetivo do EI?

Em junho de 2014, o EI declarou oficialmente o estabelecimento de um "califado" - um Estado governado segundo a sharia, pelo representante de Deus na Terra, o califa.

O EI pediu que muçulmanos pelo mundo jurassem fidelidade a seu líder - Ibrahim Awad Ibrahim al-Badri al-Samarrai, mais conhecido como Abu Bakr al-Baghdadi - e migrasse para o território sob seu controle.

O "Estado Islâmico" também disse que outros grupos jihadistas pelo mundo deveriam aceitar sua suprema autoridade. Muitos já o fizeram - entre eles, vários ramos da rival al-Qaeda.

O grupo afirmou que viu com bons olhos a possibilidade de enfrentar diretamente a coalizão liderada pelos EUA, vendo isso como um anúncio do confronto do fim os tempos entre muçulmanos e inimigos descrita em profecias apocalípticas islâmicas.

O grupo afirma que seu objetivo é erradicar obstáculos para restaurar a ordem de Deus na Terra e defender a comunidade muçulmana contra infiéis.