Crise na Venezuela: 8 perguntas para entender a escalada da tensão no país
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, disse ter derrotado o que chamou de tentativa de golpe militar pelo líder da oposição, Juan Guaidó.
Na terça-feira, membros da Guarda Nacional se juntaram à oposição em confrontos nas ruas que deixaram mais de cem feridos.
Mas em um pronunciamento na TV, Maduro disse que Guaidó fracassou na tentativa de colocar os militares contra seu governo.
Guaidó diz que Maduro perdeu o controle sobre as Forças Armadas e que uma transição pacífica de poder está em andamento, e apelou para que seus correligionários e simpatizantes tomassem as ruas da Venezuela novamente nesta quarta-feira.
Guaidó, que é presidente da Assembleia do país, foi reconhecido como líder interino da Venezuela por mais de 50 países - entre eles, Estados Unidos, Brasil, Reino Unido e vários países latino-americanos.
Mas Maduro conta com apoio de Rússia, China e do alto escalão militar de seu país, que se recusa a ceder o poder a seu rival.
O país sul-americano está há anos em uma espiral de descontentamento político, alimentado pela crescente hiperinflação, cortes de energia e escassez de alimentos e remédios.
Mais de três milhões de pessoas deixaram a Venezuela nos últimos anos.
Mas quais são os principais elementos desta crise? Confira as principais perguntas e respostas.
Quem é o presidente?
Tanto Maduro quanto Guaidó se dizem presidente da Venezuela.
Guaidó se declarou presidente interino em 23 de janeiro e disse que assumiria os poderes do Executivo dali em diante.
Foi um desafio direto ao poder de Nicolás Maduro, que havia sido empossado para um segundo mandato apenas duas semanas antes.
Maduro classificou o gesto de seu oponente como manobra dos EUA para derrubá-lo.
Vários países acataram a visão de Guaidó e de observadores internacionais, de que as eleições presidenciais foram fraudadas e de que ele, como presidente da Assembleia, teria o direito de ocupar a Presidência interina do país.
Por que a legitimidade de Maduro é questionada?
Maduro foi eleito pela primeira vez em abril de 2013 depois da morte de seu mentor e predecessor, Hugo Chávez. Ele ganhou com uma estreita margem de 1,6 ponto percentual.
No primeiro mandato, a economia foi ladeira abaixo e muitos venezuelanos culpam Maduro e sua gestão socialista pelo declínio do país.
Maduro foi reeleito em maio de 2018 para um segundo mandato, de seis anos, em uma eleição boicotada por partidos de oposição e de lisura contestada por observadores internacionais.
A reeleição de Maduro não foi reconhecida pela Assembleia Nacional do país, controlada pela oposição.
O que argumenta Guaidó?
Seguindo a linha de que a eleição fora irregular, a oposição afirma que Maduro é um "usurpador" e que a Presidência está vaga.
Esta é uma argumentação que vem sendo defendida de forma contundente por Guaidó, que é presidente da Assembleia Nacional.
Citando os artigos 233 e 333 da Constituição do país, Guaidó diz que a legislação permite que, em casos como este, o líder da Assembleia Nacional tenha o direito de atuar como presidente - e assim o fez, em 23 de janeiro.
Como foi a reação a esta medida?
Mais de 50 países reconheceram Guaidó como o presidente legítimo, entre eles os EUA e o Brasil.
Mas a Rússia e a China, entre outras, ficaram do lado de Maduro.
Na Venezuela, os que se opunham ao governo comemoraram a iniciativa de Guaidó, enquanto autoridades do governo disseram que defenderiam o presidente das "ameaças imperialistas".
Apesar de contar com o apoio de muitos líderes internacionais, Guaidó não tem muito poder em termos práticos.
Ele é o presidente da Assembleia Nacional, mas o órgão legislativo teve seu poder amplamente deteriorado com a criação da Assembleia Nacional Constituinte em 2017 - exclusivamente composta por partidários do governo.
A Assembleia Nacional, controlada pela oposição, continuou a se reunir, mas suas decisões são ignoradas pelo Executivo em detrimento das deliberações da Assembleia Nacional Constituinte.
Quem pode quebrar o impasse?
Os militares têm sido vistos como o fiel da balança nessa crise. Até agora, eles têm sido leais a Maduro, que os recompensou com sucessivos aumentos salariais e cargos no alto escalão.
Já Guaidó prometeu anistia a todos os agentes das forças de segurança que mudarem de lado.
Em 30 de abril, Guaidó publicou um vídeo no Twitter no qual pediu novamente que os militares mudassem de lado. Imagens mostravam-no cercado por um grupo de homens fardados perto da base aérea de La Carlota, em Caracas.
Na terça-feira, o opositor disse que tem o apoio dos militares e anunciou o início da "fase final" de sua tomada do poder. Mas o ministro da Defesa, Vladimir Padrino, disse que todas as bases militares permanecem sob controle do governo e operam normalmente.
Como a Venezuela chegou a este ponto?
Alguns dos problemas que se manifestam agora têm raiz antiga.
O chavismo está no poder desde 1999 - quando Hugo Chávez assumiu prometendo reduzir a desigualdade no país.
Mas medidas como o controle de preços de produtos básicos, por exemplo, estão na raiz do desabastecimento generalizado no país. Os poucos negócios venezuelanos que produziam esses itens como farinha, óleo de cozinha e produtos de higiene pessoal passaram a não considerar lucrativo fabricá-los.
Críticos também atribuem o surgimento de um amplo mercado clandestino de dólares ao controle de moeda estrangeira instituído por Chávez em 2003.
Desde então, os venezuelanos que querem trocar bolívares por dólares devem fazer uma solicitação à agência monetária administrada pelo governo. Somente aqueles que têm razões consideradas válidas para fazer o câmbio - por exemplo, para importar mercadorias - são autorizados a fazê-lo.
Como muitos não conseguiam comprar dólares livremente, o mercado clandestino floresceu.
Como a crise se reflete no dia a dia?
A hiperinflação atinge de forma brutal e indiscutível o dia a dia dos venezuelanos. A taxa de inflação anual chegou a 1.300.000% nos 12 meses até novembro de 2018, de acordo com um estudo realizado pela Assembleia Nacional - controlada pela oposição.
No final de 2018, os preços dobraram, em média, a cada 19 dias. Isso representou, para muitos venezuelanos, uma luta para comprar itens básicos - como comida e remédio.
Como os venezuelanos têm reagido?
Muitas pessoas, cansadas da situação, foram buscar melhores condições de vida em outros lugares.
Segundo dados da ONU, três milhões de venezuelanos deixaram o país desde 2014, quando a crise econômica começou a agravar-se.
No entanto, o vice-presidente, Delcy Rodríguez, contestou os números, dizendo que eles estão inflados por "países inimigos" que tentam justificar uma intervenção militar.
A maioria dos que partiram cruzou para a vizinha Colômbia, enquanto outros seguiram para Equador, Peru, Chile e Brasil.
Esta migração em massa é considerada um dos maiores deslocamentos forçados no hemisfério ocidental.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.