Mudanças climáticas: O que é a COP25 e o que ela espera conseguir
Líderes políticos, diplomatas ligados ao clima, especialistas e ativistas se reunirão nas próximas duas semanas na Espanha para discutir as mudanças climáticas sob um senso crescente de urgência.
Batizada de COP25, a Conferência do Clima deste ano da Organização das Nações Unidas (ONU) reunirá quase 29 mil pessoas a partir desta segunda-feira (2) em Madri.
Para o secretário-geral da ONU, António Guterres, "o ponto de não retorno não está mais além do horizonte".
Um relatório da organização não governamental Save The Children divulgado às vésperas do evento busca dar contornos reais e imediatos à crise climática.
Segundo a ONG, as mudanças em curso no clima do planeta levaram hoje à fome de 33 milhões de pessoas na África, sendo a metade delas crianças. A Save The Children afirma que ciclones, deslizamentos, inundações e secas elevam a insegurança alimentar a níveis alarmantes.
"A crise climática está acontecendo aqui, e está matando ou forçando as pessoas a deixarem suas casas, arruinando as possibilidades de um futuro para essas crianças", diz Ian Vale, da ONG. Ele cita o exemplo de Moçambique, país que foi atingido por dois ciclones num período de seis semanas.
"Essas catástrofes estão aproximando o sistema humanitário do colapso. Reiterados ciclos de insegurança alimentar resultantes de emergências climáticas criam lacunas na arrecadação de recursos, que não dão conta da necessidade", afirma Vale.
Qual é a importância da COP25?
A conferência sobre o clima ocorreria no Chile, mas acabou transferida para a Espanha em razão das manifestações de rua em massa na capital chilena.
Inicialmente, o encontro estava previsto para ocorrer no Brasil, mas o presidente Jair Bolsonaro afirmou antes de assumir a Presidência que o país não queria sediar o evento por causa de questões orçamentárias e eventuais constrangimentos.
"Abrimos mão de sediar a Conferência Climática Mundial da ONU pois custaria mais de R$ 500 milhões ao Brasil e seria realizada em breve, o que poderia constranger o futuro governo a adotar posições que requerem um tempo maior de análise e estudo", escreveu Bolsonaro no Twitter em dezembro de 2018.
A Conferência da ONU sobre o Clima, ou COP, é o foro internacional onde as partes envolvidas com o tema se reúnem para discutir o que já foi feito e os próximos passos em torno dos compromissos firmados.
O mais importante deles, o Acordo de Paris, foi aprovado em 2015 por 195 países e tem como objetivo central impedir que a temperatura média no mundo aumente mais do que 2 graus Celsius.
Para o secretário-geral da ONU, líderes políticos precisam dar uma resposta à iminente crise climática.
"Os próximos 12 meses serão cruciais, e é fundamental garantir compromissos nacionais mais ambiciosos, particularmente dos maiores emissores, que comecem imediatamente a reduzir de forma consistente os gases do efeito estufa até alcançarmos uma neutralidade do carbono até 2050", afirmou.
Guterres disse que é preciso parar de "cavar e extrair" e tirar vantagens das "vastas possibilidades" oferecidas pelas fontes renováveis de energia.
Ele cobrará os países por aumentos significativos das metas de redução das emissões de carbono.
Duas possíveis medidas são o fim dos subsídios para a exploração de combustíveis fósseis e o veto à construção de usinas termelétricas de carvão a partir de 2020.
Até o momento, quase todos os países do mundo assinaram e ratificaram o Acordo do Clima de Paris. Assim, de acordo com os termos acertados, até o fim de 2020 os envolvidos terão que discutir novos compromissos climáticos.
O encontro em Madri representa, portanto, o início de 12 meses de intensas negociações que culminarão na COP26 em Glasgow em novembro do ano que vem.
Bolsonaro e Trump faltarão ao evento
Mais de 50 chefes de Estado devem comparecer à Conferência do Clima na capital espanhola, mas o presidente americano, o republicano Donald Trump, não está entre eles.
De todo modo, o país estará representado, entre outros, por uma delegação do Congresso dos Estados Unidos liderada pela democrata Nancy Pelosi, presidente da Câmara de Representantes.
Ainda que a presença dela tenha sido elogiada, há pressão por ações concretas dos dois polos políticos dos EUA.
"Os americanos ainda são, historicamente, os maiores responsáveis por essa emergência climática, e mesmo políticos democratas nunca se comprometeram em assumir suas responsabilidades", afirmou Jean Su, do Centro de Diversidade Biológica dos Estados Unidos.
Jair Bolsonaro tampouco irá ao evento na Espanha. Sob crescente pressão internacional em razão do aumento do desmatamento na Amazônia, o governo enviará uma delegação chefiada pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.
Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), houve um aumento de 29,5% no ritmo do desmatamento da Amazônia entre agosto de 2018 e julho de 2019.
Bolsonaro tem criado polêmicas com ambientalistas e chefes de Estado desde a campanha eleitoral de 2018.
Depois de eleito, enviou ao Congresso medida para fundir a pasta do Meio Ambiente com a Agricultura ? mas a proposta foi rejeitada. Mesmo assim, alterações na estrutura do órgão fizeram com que o Meio Ambiente perdesse quase 20% de seus analistas. Já no Ibama, os sinais emitidos por Brasília e a falta de dirigentes nas unidades do órgão fizeram com que o número de multas caísse apesar do aumento do desmatamento.
Apesar de ter entrado em confronto direto com países europeus sobre o financiamento de ações e programas ambientais na Amazônia, o governo brasileiro pretende levar à COP25 uma série de propostas para o financiamento estrangeiro de medidas de preservação ambiental.
Em agosto deste ano, a Noruega suspendeu seus repasses ao Fundo Amazônia depois que o governo brasileiro decidiu alterar o funcionamento do fundo e extinguir do comitê que definia os critérios para o uso do dinheiro arrecadado.
O Fundo Amazônia foi criado em 2008. Desde então, a Noruega aplicou R$ 3,2 bilhões com este objetivo, e a Alemanha doou outros R$ 200 milhões.
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