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Talebã: Mapas mostram que grupo já retomou metade do Afeganistão após saída dos EUA

Talebã está se aproximando de centros urbanos afegãos em meio à retirada das tropas dos EUA - EPA
Talebã está se aproximando de centros urbanos afegãos em meio à retirada das tropas dos EUA Imagem: EPA

Equipe de Jornalismo Visual

Da BBC News*

04/08/2021 08h07Atualizada em 04/08/2021 08h38

O Talebã conquistou mais territórios no Afeganistão nos últimos dois meses do que em qualquer momento desde que o grupo foi retirado do poder, em 2001.

O mapa de controle do Afeganistão tem passado por constantes transformações nos últimos 20 anos. Nas imagens a seguir, observamos as mudanças sobre quem controla quais áreas no país.

Nas últimas semanas, o Talebã parece encorajado pela saída progressiva das tropas dos EUA e vem tomando muitos distritos das mãos de forças governamentais.

Mapa de quem controla o Afeganistão - BBC - BBC
Mapa de quem controla o Afeganistão
Imagem: BBC

Investigação do serviço afegão da BBC mostra que militantes radicais muçulmanos agora têm forte presença em todo o país, incluindo províncias do norte, nordeste e centro, como Ghazni e Maidan Wardak.

Eles também estão se aproximando de grandes cidades como Kunduz, Herat, Kandahar e Lashkar Gah.

O termo "controle" se refere aos distritos onde o centro administrativo, a sede da polícia e todas as outras instituições governamentais são controladas pelo Talebã.

Tropas dos Estados Unidos, de seus aliados na região e da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) retiraram o Talebã do poder em novembro de 2001. À época, o grupo protegia Osama bin Laden e outras lideranças da Al-Qaeda ligadas aos ataques de 11 de setembro de 2001, nos EUA.

Apesar da presença internacional contínua na região e de bilhões de dólares em apoio e treinamento às forças do governo afegão, o Talebã se reagrupou e recuperou gradualmente seu poder em áreas mais remotas.

Suas principais áreas de influência ficavam ao redor de pontos tradicionais no sul e no sudoeste: as províncias do norte de Helmand, Kandahar, Uruzgan e Zabul. Além destas, também eram presentes nas colinas Faryab, no norte, e as montanhas Badakhshan, no nordeste.

Uma investigação da BBC em 2017 mostrou que, enquanto tinha controle total de vários distritos, o Talebã também era ativo em diversas outras partes do país, organizando ataques semanais ou mensais em determinadas áreas e sugerindo uma força significativamente maior do que estimativas anteriores.

Áreas controladas pelo Talebã em 2017 - BBC - BBC
Áreas controladas pelo Talebã em 2017
Imagem: BBC

Em torno de 15 milhões de pessoas, ou metade da população, viviam em áreas controladas pelo Talebã ou onde o Talebã era abertamente presente, lançando ataques regulares contra forças do governo.

O Talebã está ganhando terreno?

Embora os talebãs tenham agora mais controle do que nunca desde 2001, a situação tem mudado.

O governo se viu obrigado a abandonar alguns centros administrativos, onde não conseguiu resistir à pressão do Talebã. Outros territórios foram tomados à força pelos militantes.

Mas, sempre que o governo conseguiu reorganizar suas forças ou reunir milícias locais, conseguiu recuperou parte das áreas que haviam sido perdidas (nos locais não recuperados, ainda há confronto entre os dois lados).

Embora a maioria das tropas americanas tenha partido em junho, um grupo menor permanece em Cabul e a Força Aérea dos EUA realizou ataques aéreos contra posições do Talebã nos últimos dias.

Quem controla o Afeganistão - BBC - BBC
Imagem: BBC

As forças do governo afegão controlam principalmente as cidades e distritos localizados nas planícies ou nos vales dos rios, locais onde também vive a maioria da população.

As áreas onde o Talebã é mais forte são escassamente povoadas, muitas com menos de 50 pessoas por quilômetro quadrado.

População afegã concentrada em cidades - BBC - BBC
População afegã concentrada em cidades
Imagem: BBC

O governo diz que enviou reforços a todas as grandes cidades ameaçadas pelo Talebã e impôs toque de recolher noturno de um mês em quase todo o país, em uma tentativa de impedir que o Talebã invada cidades.

Embora pareça estar se aproximando de cidades como Herat e Kandahar, o Talebã ainda não conquistou nenhuma delas.

No entanto, este avanço no terreno fortalece sua posição em negociações e também gera receita na forma de impostos e material de guerra recolhido em combates.

Um número recorde de civis morreu como resultado do conflito no primeiro semestre deste ano.

A ONU atribui a maioria das 1.600 mortes de civis ao Talebã e outros grupos antigovernamentais.

Os confrontos também obrigaram muitas pessoas a abandonarem as suas casas: cerca de 300 mil foram deslocadas desde o início do ano.

A ACNUR, agência da ONU para refugiados, afirma que uma nova onda de deslocamentos internos nas províncias de Badakhshan, Kunduz, Balkh, Baghlan e Takhar ocorre em um momento em que o Talebã conquista grandes áreas em territórios rurais.

Enquanto algumas pessoas fogem para aldeias ou distritos vizinhos e voltam para casa dias depois, outras permanecem deslocadas por algum tempo.

A agência de notícias AFP informou que as ofensivas do Talebã também levaram refugiados afegãos e tropas do governo a cruzarem a fronteira com o Tajiquistão.

Algumas famílias fugiram antes do avanço do Talebã - Getty Images - Getty Images
Algumas famílias fugiram antes do avanço do Talebã
Imagem: Getty Images

Acredita-se que o Talebã também controle diversas passagens importantes na fronteira do país, incluindo Spin Boldak, uma importante porta de entrada para o Paquistão.

Controle de Fronteiras - BBC - BBC
Controle de Fronteiras
Imagem: BBC

O Talebã agora cobra taxas alfandegárias sobre as mercadorias que entram no país por meio destas passagens de fronteira controladas, embora os valores exatos não sejam claros, uma vez que o volume do comércio caiu como resultado dos combates.

Como exemplo, a travessia de Islam Qala, na fronteira com o Irã, é capaz de gerar mais de 20 milhões de dólares por mês.

A interrupção do fluxo de importações e exportações tem afetado os preços de bens essenciais nos mercados, principalmente combustíveis e alimentos.

*Com informações da BBC Afeganistão