Topo

Fé para resgatar a história

O padre Mauro Luís da Silva em Belo Horizonte - Magê Monteiro/UOL
O padre Mauro Luís da Silva em Belo Horizonte Imagem: Magê Monteiro/UOL

07/12/2021 07h00

Esta é a versão online para a edição desta terça-feira (07/12) da newsletter Nós Negros. Para assinar esse e outros boletins e recebê-los diretamente no seu email, cadastre-se aqui.

Padre Mauro não economiza ao detalhar a dificuldade de sua missão. Ele quer "devolver à população o direito à memória". O desafio é maior ainda porque a própria Igreja Católica, da qual ele faz parte, ajudou a esconder esse passado, ao perpetuar um tipo de racismo, o religioso. Exemplo disso, conta o clérigo, foi um bispo ter expulsado irmandades de negros dos templos católicos a partir de 1920, o que os levou a abandonar um cemitério próximo ao Largo do Rosário, no centro de Belo Horizonte.

"Não há nenhuma placa contando isso, ou documento falando se os corpos permaneceram debaixo desse solo sagrado. Isso é uma questão muito séria. E eles foram abandonados ali, quem os abandonou foi a própria Igreja Católica. Para onde vou, se eu não sei nem para onde foram os corpos dos meus antepassados?"

LEMBRANÇA QUE TARDA... O resultado da debandada forçada é gritante. Hoje, há 41 capelas dedicas à Nossa Senhora do Rosário na capital mineira, mas sem vínculo com a Arquidiocese. Munido de fé e conhecimento do passado, padre Mauro não quer deixar o passado enterrado. Ele luta para transformar em patrimônio o antigo reduto de religiosos negros. Enquanto isso, preserva a memória do que é possível ser lembrado no Muquifu, o Museu dos Quilombos e Favelas Urbanas.

HISTÓRIA QUE SAMBA... O Trem do Samba não dava as caras em Oswaldo Cruz, no subúrbio do Rio, há dois anos. A espera acabou neste fim de semana, quando foi ouvida por lá a cantoria da velha guarda de Portela, Império Serrano, Mangueira e Salgueiro. A festa rola há 26 anos, mas remonta às origens do ritmo: há 100 anos, Paulo da Portela, primeiro presidente da escola de samba, tocava no vagão para fugir da polícia. A música era "coisa de vagabundo".

JUSTIÇA QUE FALHA... Condenado a 22 anos de prisão pelo homicídio de um policial militar, o motoboy Caique Augusto Araújo Gomes, 21, foi absolvido pelo TJ-SP. Após o jover ficar um ano preso, desembargadores reconheceram: não há prova contra ele. Na primeira instância, a única evidência usada para sentenciá-lo veio de um depoimento bizarro. Apesar de não presenciar o crime e só conhecer Gomes das redes sociais, uma testemunha alegou que ele tinha um "jeito de pilotar" parecido com o do matador. Bastou para a polícia.

***

O BRUXO... Depois de viver um homem escravizado, ator Renan Monteira dá vida a Machado de Assis, o maior escritor brasileiro. Para ele, a possibilidade de encarnar personalidades negras "é um presente".

***

QUEM VENDE... Agora vai. Pharrell Williams está dando um desconto de R$ 11 mi para desencalhar sua mansão em Los Angeles, que está à venda. Por R$ 57 milhões, interessados arrematam o imóvel e propriedade de um terreno de 630 mil metros quadrados.

QUEM COMPRA... Revelação da novela "Um Lugar ao Sol", o ator Juan Paiva comprou uma casa no Vidigal, ao lado do imóvel da mãe.

"Ainda não é a casa dos meus sonhos, mas é uma casa em que consigo dar um conforto para minha filha e minha esposa. Não tem piscina, mas vai ter chuveirão para um churrasco e vista para São Conrado."

***

ALGEMADOS AO PASSADO... Depois das cenas de barbárie que chocaram o país, o governo de SP virou alvo de uma ação na Justiça. Um jovem preso em flagrante com drogas foi algemado a uma moto por um PM e arrastado até a delegacia. O rapaz confessou que estava cometendo um crime, mas lembrou que é um ser humano:

"Errei, mas não merecia ser humilhado." ALGEMADOS AO PASSADO [2]... Uma palestra de mulheres negras sobre preconceito racial foi invadida por... ataques racistas. Organizada pela Unesp e a prefeitura de Bauru (SP), a conversa foi bombardeada com imagens de gorilas.

***

NOVOS TEMPOS... Após deixar a Globo e fechar com a Amazon, Lázaro Ramos afirmou que "estão surgindo oportunidades e histórias que eu não tinha contado até então e que poderei contar como diretor e ator". Por falar em novidade, o primeira longa de Lázaro na direção, "Medida Provisória", segue sem data para estreia, devido a um impasse com o governo federal.

***

O CONTADOR DE HISTÓRIAS... Ator, dramaturgo, cantor e professor. Toni Edson era tudo isso, mas queria ser lembrado como contador de histórias. É assim que o curador de Ecoa, morto de um infarto aos 42 anos em Aracaju (SE), será lembrado.

***

DANDO A LETRA

anielle - Marcus Leoni/Folhapress - Marcus Leoni/Folhapress
Anielle Franco durante a Flip 2018
Imagem: Marcus Leoni/Folhapress

"As mulheres negras defensoras de direitos humanos sofrem violência política não apenas pela sua cor, identidade de gênero ou sexualidade, mas pelas pautas que defendem, pelo que já faziam antes de estar na política. Elas são triplamente vulnerabilizadas ao chegarem na política."
Anielle Franco, colunista de Ecoa em "Legislar não pode ser uma ameaça à vida de parlamentares negras"

***

PEGA A VISÃO

thelma - Sergio Coser Dantas Silva/Divulgação - Sergio Coser Dantas Silva/Divulgação
Thelma Assis
Imagem: Sergio Coser Dantas Silva/Divulgação

"Escolhi uma profissão com o vestibular mais concorrido. Aí entra a importância das políticas afirmativas. Sou da primeira turma de Prouni em 2005. Aquilo revolucionou a vida de muitas pessoas, porque a gente entrou pra universidade de qualidade. (...) Essa é a saída pra gente conseguir, aos poucos, vencer um país que é tão racista estruturalmente. A gente precisa enxergar as pessoas negras ocupando todos os espaços e não só os de subserviência."
Thelma Assis, médica

Antes de redefinir o papel social do BBB, vencedora do reality já havia travado outras batalhas. Agora, ela lança um livro para influenciar o país.

***

SELO PLURAL

PAPO - Arte UOL - Arte UOL
podcast papo preto alma preta yago rodrigues imagem representativa
Imagem: Arte UOL

Após trabalhar por 10 anos em grandes agências de publicidade, Ricardo Silvestre teve uma síndrome de esgotamento profissional. "É comum em pessoas que trabalham muito, mas, no meu caso, foi por viver em um ambiente não muito saudável para mim enquanto pessoa preta". Ou ele mudava de carreira ou ressignificava a sua profissão empreendendo. Ele optou pela segunda opção e criou a Black Influence, que trabalha com marcas e influenciadores pretos para deixar o mercado publicitário mais diverso e plural. A conversa do Papo Preto desta semana é com ele.

***

#TBT

PROIBIDO - Zô Guimarães/UOL - Zô Guimarães/UOL
Kayllane Coelho com vestimenta de candomblé
Imagem: Zô Guimarães/UOL

Se o padre Mauro luta para resgatar a memória de pessoas negras escorraçadas pela Igreja Católica nos anos 1920, há pessoas que labutam apenas para professar sua fé ainda hoje. É o caso dos fiéis de religiões de matriz africana que moram no Complexo de Israel, área compreendida Vigário Geral, Cidade Alta e Parada de Lucas. Por lá, terreiros são destruídos, pais e mães de santo são expulsos e é proibido usar branco.