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Como a maior revolta de escravizados do Brasil ecoa nos nossos dias?

Obra de Jean-Baptiste Debret retrata homem negro sendo açoitado; castigos como este e a imposição da religião católica foram os estopins da maior insurreição escrava do Brasil, a Revolta dos Malês, promovida por negro nagô e muçulmanos - Instituto Geográfico e Histórico da Bahia/Divulgação
Obra de Jean-Baptiste Debret retrata homem negro sendo açoitado; castigos como este e a imposição da religião católica foram os estopins da maior insurreição escrava do Brasil, a Revolta dos Malês, promovida por negro nagô e muçulmanos Imagem: Instituto Geográfico e Histórico da Bahia/Divulgação

Do Núcleo de Diversidade

24/01/2023 11h00

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Um dos episódios mais marcantes da história da resistência negra do Brasil completa 188 anos nesta terça-feira (24). Na Bahia de 1835, os "Malês" — como eram chamados os negros de etnia nagô de fé mulçumana — protagonizaram o principal levante contra o regime escravocrata do país, que contou com centenas de escravizados e libertos africanos.

Com 70 insurgentes mortos e mais de 500 presos, o conflito inspirou até letra de samba. Em 2019, a Mangueira venceu o Carnaval do Rio de Janeiro com o enredo "Marias, Mahins, Meirelles e Malês". O título faz referência à africana livre Luiza Mahin, uma das líderes do levante dos Malês e indicada como mãe do advogado abolicionista Luiz Gama.

No Carnaval deste ano, a Mangueira irá exaltar a Bahia e a África novamente com o samba-enredo "As Africanas que a Bahia Canta". A Unidos da Tijuca levará para a avenida um desfile sobre sobre a Baía de Todos os Santos.

Já a ciência não parece ter tanta reverência com esse episódio histórico, segundo contou o historiador Carlos da Silva Jr., na coluna Presença Histórica. O crânio de um malê morto no combate foi parar em uma coleção de 150 partes humanas, separadas por raça e nação, usadas por alunos de medicina da Universidade Harvard, nos EUA.

"A forma como uma das mais prestigiosas universidades do mundo lidou com corpos de não brancos mostra como a ciência do século 19 explorou negros e indígenas à base de muito preconceito"
Carlos da Silva Jr, colunista do UOL

O descaso com a peça histórica chamou atenção da comunidade muçulmana e nigeriana da Bahia, que briga para repatriar os restos do homem e conceder um ritual fúnebre.

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SEM MORADIA... Camila Moradia leva no nome a luta que vem travando nos últimos anos para promover habitação digna. Ao lado do jornalista Rene Silva, ela foi a responsável por levar Lula até o complexo do Alemão, no Rio, durante a campanha do ano passado. Ela conta a Ecoa como tenta garantir um teto digno, sobretudo para a população negra.

SEM SEGURANÇA POLÍTICA... Advogada negra e bissexual, a deputada estadual eleita Thainara Faria (PT-SP) teve de fugir de Brasília às pressas, após sofrer uma ameaça de morte por e-mail enquanto participava do 1º Encontro Nacional de LGBT+.

E EM GUERRA... Um jovem negro foi baleado durante um tiroteio entre traficantes dos morros do Borel e da Casa Branca, na zona norte do Rio. Na noite de sábado (21), amigos de Daniel Eduardo se encontraram com cartazes para pedir por justiça.

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UOL NO VERÃO... A modelo, atriz e ex-BBB Natália Deodato experimentou beach tennis pela primeira vez durante o sábado de estreia do UOL no verão. O evento pé na areia acontece gratuitamente em São Paulo, de quinta a domingo, até 12 de fevereiro, com várias modalidades.

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DE VOLTA AOS PALCOS... Beyoncé fez um show em um hotel de luxo em Dubai, após cinco anos de pausa. A performance contou com pirotecnia e foi remunerada com cachê milionário.

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DANDO A LETRA

tenó - Carlos Macedo/ Divulgação - Carlos Macedo/ Divulgação
Imagem: Carlos Macedo/ Divulgação

Com a divulgação das imagens dos yanomamis em condições degradantes, assim como a morte de 570 crianças indígenas por desnutrição e outras doenças facilmente tratadas, nos últimos 4 anos, Damares se calou. Só em 2022, 100 crianças morreram, segundo dados do Ministério dos Povos Indígenas, chefiada por Sonia Guajajara"
Jeferson Tenório, colunista do UOL

Em Notícias, Jeferson Tenório repercute a morte de crianças yanomamis, critica a postura da ex-ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos e dispara: o governo Bolsonaro foi marcado pela negligência.

O Ilê Aiyê convocou toda população negra, maioria em Salvador, a conhecer sua história, elevar sua autoestima e disputar os espaços na folia, mas também na mídia, na política e demais áreas de poder"
André Santana, colunista do UOL

Em Notícias, André Santana escreve sobre o filme "Beleza da Noite", que homenageia o concurso " Deusa do Ébano" do bloco afro Ilê Aiyê, um dos mais emblemáticos do Carnaval.

Em Notícias, Chico Alves conta que o deputado federal Chico Alencar (PSOL - RJ) vai lançar sua candidatura à presidência da Câmara dos Deputados para concorrer com Arthur Lira (PP-AL), atual chefe da Casa. A eleição ocorre no dia 1º de fevereiro.

Em VivaBem, Elânia Francisca lembra do álbum "Ninguém vive por mim", de Sérgio Sampaio, para bater um papo sobre autorresponsabilidade.

Em Ecoa, Eduardo Carvalho conversa com Raull Santiago, ativista social e morador do Complexo do Alemão que virou alvo de fake news bolsonaristas.

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PEGA A VISÃO

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Imagem: Eduardo Anizelli/ Folhapress

Eu acho que não tem uma pessoa negra no Brasil que não tenha essa curiosidade: de onde será que eu vim, de onde vieram os meus? A partir dessa vontade de saber mais, eu fui descobrindo que talvez fosse possível refazer alguns passos. Senti que essa história talvez fosse a história de muitas pessoas no Brasil."
Eliana Alves Cruz, escritora

Depois de publicar três romances históricos aclamados, a escritora, roteirista e jornalista Eliane Alves Cruz lançou em 2022 o livro de contos "A Vestida"— pelo qual foi premiada com o Jabuti — e o romance "Solitária", situado num presente transbordante do passado escravocrata. A autora falou a Ecoa sobre como a literatura pode ajudar a imaginar vidas apagadas pela história.

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SELO UOL PLURAL

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Imagem: Arte UOL

No episódio #110 de Papo Preto, Stela Diogo conversa com Graça Gonçalves, consultora da área de educação com equidade racial do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades para explicar o que mudou na educação com a Lei 10.639, que incluiu no currículo oficial da Rede de Ensino brasileira a obrigatoriedade da presença da temática "História e Cultura Afro-Brasileira e Africana"