Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Damares critica aborto legal, mas ignorou morte de crianças indígenas
As imagens de homens, mulheres e crianças Yanomamis em condições de desnutrição são aterradoras. Uma tragédia que certamente poderia ser evitada. Já sabíamos que a situação entre indígenas e garimpeiros era grave e merecia atenção. As cenas, em Roraima, desses últimos dias, revelam um descaso macabro do governo Bolsonaro. Entretanto, a situação não é mera negligência, fica claro que se tratava de um projeto genocida para as populações de povos originários.
As declarações racistas e preconceituosas de Bolsonaro, durante seu mandato, sobre a população indígena, desde o início de seu governo, já demostravam a visão que acabaria culminando numa tragédia como essa. Segundo site Intercept, de agosto de 2022, o governo Bolsonaro ignorou 21 ofícios com pedidos de ajuda dos Yanomamis. Documentos que denunciavam a invasão violenta em massa de garimpeiros e de "conflitos sangrentos que no limite podem atingir a proporção de genocídio".
Como lembrou o jornalista Thiago Amparo em seu Twitter: "A Damares já chorou pelas centenas de crianças Yanomami mortas pela política genocida ou sua dor é seletiva?"
Desde que assumiu o cargo, agora ex-ministra, Damares colecionou uma série de polêmicas com seu discurso conservador. Inventou uma ditadura de ideologia de gênero, afirmando que "menina veste rosa e menino veste azul" e que uma nova era havia chegado.
Ainda quando era ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares agiu nos bastidores para impedir que uma criança de 10 anos, que havia sido estuprada pelo tio, abortasse. Na época Damares teria enviado assessores e políticos aliados para convencer a família.
Depois, veio a tona a adoção irregular de uma criança indígena. Damares também se dizia mestre em educação e em direito constitucional e direito da família, mas admitiu não ter nenhum diploma acadêmico de mestrado. Por fim, afirmou que crianças brasileiras tinham dentes arrancados para sexo oral, semanas depois voltou atrás e disse que não tinha provas do crime.
É nesse contexto, aliado a intenção de "passar a boiada" do ex-ministro do meio ambiente, Ricardo Salles, que achou oportuna mudar as regras de proteção ambiental enquanto o Brasil se preocupava com as mortes e o avanço da Covid-19, que a tragédia humanitária de Roraima se construiu. Além disso, as mortes dos ambientalistas Bruno Pereira e Dom Philips, na região amazonense do Vale do javari, em junho de 2022, reforçam a ideia de que a população indígena estava em risco.
Entretanto, agora com a divulgação das imagens dos Yanomamis em condições degradantes, assim como a morte a de 570 crianças indígenas por desnutrição e outras doenças facilmente tratadas, nos últimos 4 anos, Damares se calou. Só em 2022, 100 crianças morreram, segundo dados do Ministério dos Povos Indígenas, chefiada por Sonia Guajajara. Somente na tarde deste domingo a ex-ministra se manifestou em seu Twitter, após grande repercussão, falando em "guerra de narrativas" e "revanchismo".
É estarrecedora a situação dos Yanomamis. A imagem de genocida colada a Bolsonaro e ao seu governo, só ganha força com fatos tão contundentes. A apuração dos culpados por tamanha negligência e descaso deve ser célere e sem anistia.
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