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Observatório criado para combater racismo no futebol completa 9 anos

Retrato de Márcio Chagas, comentarista esportivo e ex árbitro de futebol que sofreu insultos racistas - Tiago Coelho/UOL
Retrato de Márcio Chagas, comentarista esportivo e ex árbitro de futebol que sofreu insultos racistas Imagem: Tiago Coelho/UOL

Núcleo de Diversidade

04/05/2023 15h14

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"O Esportivo jogou contra o Veranópolis, em Bento Gonçalves, na serra gaúcha. Logo que saí do vestiário já fui chamado de 'macaco', 'negro de merda', 'volta pra África', 'ladrão'. Falei pros meus colegas: 'Se nem começou o jogo os caras já estão assim, imagina no final.'"

O relato acima é de Márcio Chagas, comentarista e ex-árbitro de futebol, sobre um jogo realizado em 5 de março de 2014, ano em que o Brasil foi sede da Copa do Mundo. Embora esta não tenha sido a primeira vez em que ele foi vítima de racismo, o futebol brasileiro dava passos importantes naquele ano para combater este problema: a criação do Observatório da Discriminação Racial no Futebol.

Ao UOL Esporte, Marcelo Carvalho, idealizador e atual diretor-executivo da iniciativa, explicou que, além de Chagas, os casos de racismo contra os jogadores Tinga e Arouca naquele mesmo período impulsionam a discussão a nível nacional, mas muitos jogadores se recusavam a denunciar por acreditarem que, diante da impunidade, eles seriam mais prejudicados do que seus próprios agressores.

"A ideia do Observatório é justamente esta: mostrar que existe uma previsão de punição no Código Penal Brasileiro e justiça desportiva"
Marcelo Carvalho

Desde que foi criado, o Observatório produz o Relatório Anual da Discriminação Racial no Futebol. Em 2021, última edição do documento, houve o registro de 64 casos de discriminação racial no Brasil. Segundo Carvalho, o documento de 2022 já monitora 90 casos. Neste ano, a Confederação Brasileira de Futebol também definiu penas mais duras para atos discriminatórios no futebol.

Leia mais:

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PARTIDA... A velocista norte-americana Tori Bowie, campeã olímpica no Rio de Janeiro e bicampeã mundial, morreu aos 32 anos. A causa da morte não foi divulgada.

DIREITOS... Num gesto inédito, o Estado brasileiro reconheceu a sua responsabilidade na violação de direitos de quilombolas diante da instalação do Centro de Lançamento de Alcântara. Segundo o colunista do UOL Jamil Chade, no entanto, a construção desse pedido de desculpas foi permeada por divergências entre diferentes áreas do governo Lula.

CASO MARIELLE... O major reformado do Exército Ailton Gonçalves Moraes Barros enviou mensagens ao ex-ajudante de ordens Mauro Cid dizendo que sabia quem era o mandante da morte da vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes. Barros foi preso nesta quarta (3) pela Polícia Federal na Operação Venire.

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PEGA A VISÃO

"Eu nunca estudei sobre racismo. Eu vivi o racismo. Por causa dele, não escolhi ser antirracista. É uma obrigação. Quando o Vini Junior sofre racismo, dói em mim. Quando minha companheira de time Neném sofreu racismo, doeu em mim. E quando eu fui a vítima, com certeza doeu em tantos outros pretos que souberam da minha história."
Formiga, jogadora de futebol

Formiga, jogadora de futebol. - Pryscilla Kacilda/UOL - Pryscilla Kacilda/UOL
Formiga, jogadora de futebol.
Imagem: Pryscilla Kacilda/UOL

Ícone do futebol feminino, Formiga, 43, nos convida a viajar para a periferia de Lobato, em Salvador (BA), para conhecer sobre a sua infância no fim dos anos 1980. "Toda boneca que eu ganhava de presente perdia a cabeça para virar bola", conta. Em um relato sensível, ela também fala sobre os desafios da carreira no esporte e os planos para o futuro: mudar o futebol.

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A HISTÓRIA DA HISTÓRIA

O professor de geografia da USP, Milton Santos, em sua casa. (São Paulo, SP, 27.04.2001. Foto de Flávio Florido/Folhapress) - Flávio Florido/Folhapress/Flávio Florido/Folhapress - Flávio Florido/Folhapress/Flávio Florido/Folhapress
O professor de geografia da USP, Milton Santos, em sua casa. (São Paulo, SP, 27.04.2001. Foto de Flávio Florido/Folhapress)
Imagem: Flávio Florido/Folhapress/Flávio Florido/Folhapress

Milton Santos (1926-2001) foi um dos maiores intelectuais do Brasil no século XX. Suas pesquisas sobre urbanização e globalização ajudaram a renovar a geografia no país. Perseguido pela ditadura, ele deixou o país em 1964 e se exilou transitando por países na Europa e na África. Em 1994 ganhou o prêmio Vautrin Lud, considerado o "Nobel da Geografia".
SAIBA MAIS

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DANDO A LETRA

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