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Chico Alves

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Efeitos colaterais de falsa vacinação darão muita dor de cabeça a Bolsonaro

Mauro Cid e Jair Bolsonaro - 18.jun.2019 - Adriano Machado/Reuters
Mauro Cid e Jair Bolsonaro Imagem: 18.jun.2019 - Adriano Machado/Reuters

Colunista do UOL

03/05/2023 09h50

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Não bastou a Jair Bolsonaro cometer crimes contra a saúde da população durante a pandemia de covid-19. Para ele, foi pouco desestimular os brasileiros a tomar vacina, defender e distribuir remédios ineficazes, criticar o uso de acessórios imprescindíveis como a máscara contra coronavírus, deixar faltar oxigênio nos hospitais de Manaus ou permitir que milhões de medicamentos perdessem a validade sem que fossem distribuídos aos hospitais.

Segundo a Polícia Federal, o ex-presidente e seus auxiliares aumentaram a lista de delitos ao falsificar dados em cartões de vacinação. Assim, o presidente pôde viajar para os Estados Unidos, onde só teria permissão para entrar com a imunização contra a covid em dia, enquanto continuava a criticar as campanhas de vacina.

À luz dessa acusação, entende-se por que Bolsonaro nos últimos tempos desconversava sempre que era perguntado se tinha ou não se imunizado. No início da pandemia bradava a quem quisesse ouvir que não iria tomar a agulhada salvadora.

Faz sentido também a reação de revolta que demonstrou a aliados mais próximos quando a Controladoria-Geral da União divulgou, em fevereiro, que ele tinha se vacinado.

De acordo com a PF, tiveram participação na fraude que inseriu dados falsos no sistema do Ministério da Saúde o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid Barbosa, seu segurança, Max Guilherme, e outros seis apoiadores, que foram presos hoje. Além disso, houve busca e apreensão na casa do ex-presidente e, entre outros objetos, um celular foi levado pelos agentes.

Até mesmo o cartão da filha de Bolsonaro, Laura, de 12 anos, teria sido adulterado. Por isso, um das acusações contra o grupo é corrupção de menores.

A polícia informou ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, que o objetivo da falsificação era "manter coeso o elemento identitário em relação a suas pautas ideológicas" e "sustentar o discurso voltado aos ataques à vacinação contra a Covid-19". Diante dos elementos oferecidos pela PF, Moraes autorizou a operação.

Novos detalhes da investigação surgirão a partir de agora, mas as revelações até aqui servem para confirmar que é ilimitada a capacidade de Jair Bolsonaro de desafiar as leis.

Resultado: temos um ex-presidente sob a vergonhosa acusação de fraudar cartão de vacinação, para driblar leis brasileiras e americanas.

Não se deve, porém, gastar todo o estoque de indignação.

A descoberta da intrincada rede que permitiu as falsificações terá desdobramentos bastante desagradáveis para o ex-presidente e sua turma.

Efeitos colaterais que fazem prever muitas dores de cabeça para Bolsonaro.