Conmebol, Zambelli e ação contra Globo: veja os destaques de Nós Negros

Animalizar uma pessoa nada mais é do que tirar a sua humanidade e, infelizmente, isso ainda é bastante comum.

Se animalizar uma pessoa negra já é desumano, quem dirá animalizar um país inteiro, cuja maioria da população é negra?

A fala de Alejandro Domínguez, presidente da Conmebol, de que não imagina a Copa Libertadores sem os clubes brasileiros, pois seria como "Tarzan sem Chita" é mais uma prova viva de que o futebol não superou ou está longe de superar o modus operandi do racismo de deslegitimar a humanidade de pessoas negras.

É prova de que as organizações de futebol não superaram o racismo científico do século 19.

Vale explicar o porquê, afinal o racismo está também na "sutileza" das coisas, muitas das quais com o tempo normalizamos a tal ponto que esquecemos a raiz do que elas realmente significam.

Tarzan é a representação de um personagem que carrega simbologias consigo: a de um homem branco cuja força superou adversidades e o fez ser o "rei da selva". Tarzan é a representação da superioridade.

Chita é a melhor amiga de Tarzan, é esperta, forte e trilhou o caminho do amigo ao sucesso. (Sempre fui fã!) Mas há um "detalhe": Chita é uma macaca. E isso não é um simples "detalhe" para entender o contexto do futebol hoje.

O comentário de Domínguez chega enquanto denúncias de jogadores negros por serem xingados de "macacos"- ou coisas piores - não param de chegar e medidas antirracistas são exigidas.

Ou seja, a mesma organização que hoje é pressionada para criar estratégias efetivas de combate ao racismo animaliza um país inteiro, cuja maioria da população é negra, e ignora as sequelas do racismo aos jogadores, denunciantes ou não.

Continua após a publicidade

O presidente de uma organização tem o mesmo peso de uma capa de jornal e seu editorial, é claro. Ele representa também uma estrutura de pensamento.

Domínguez prova que ela é racista. E é dela que o futebol não consegue - ou não quer - se desfazer.

Talvez uma resposta dura dos clubes ao presidente da Conmebol seja o ingrediente que falta pra de fato fazer o bolo crescer.

Após racismo, Conmebol diz que Libertadores sem Brasil é 'Tarzan sem Chita' Leia mais

Milly Lacombe: Em discurso covarde, Conmebol lava as mãos sobre racismo Leia mais

PEGA A VISÃO

Imagem
Imagem: Reprodução/Instagram/@rorodrigues
Continua após a publicidade

"Eu, enquanto pessoa pública, precisava dar uma satisfação pra vocês, que são as pessoas que me seguem, as pessoas que sabem da minha vida, que sabem da minha luta diária enquanto artista, mulher, preta, nesse país"
Roberta Rodrigues, atriz

A atriz Roberta Rodrigues confirmou que venceu o processo que moveu contra a TV Globo por racismo e assédio moral. A informação foi divulgada inicialmente pela jornalista Mônica Bergamo, da Folha, que revelou que o valor da indenização foi fixado em R$ 500 mil. Globais e ex-globais a parabenizaram Roberta. Leia mais

NÓS NA SEMANA

STF tem 3 a 0 para condenar Zambelli a 5 anos por perseguição armada a jornalista negro Leia mais

'Vale Tudo' só tinha dois atores negros em 1988; relembre quem eram eles Leia mais

Xongani lembra início profissional: 'Marcas não queriam mulher preta feliz' Leia mais

Continua após a publicidade

FIQUE POR DENTRO

21.03.25 - Biblioteca do Memorial da América Latina amanhece quase vazia durante ação de conscientização e expõe falta de representatividade negra na literatura.
21.03.25 - Biblioteca do Memorial da América Latina amanhece quase vazia durante ação de conscientização e expõe falta de representatividade negra na literatura. Imagem: Divulgação

A Biblioteca do Memorial da América Latina amanheceu quase vazia nesta sexta durante uma intervenção para o Dia de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial, 21 de março. Nas estantes ficaram apenas livros de autoria de escritoras e escritores negros. A ação foi realizada pela Amazon temporariamente com o objetivo de evidenciar a desigualdade na representatividade literária.

A ação também promove o Prêmio Kindle Vozes Negras, parceria da Amazon Brasil com a editora Companhia das Letras. As inscrições estão abertas até 6 de abril. Além de um prêmio em dinheiro, o vencedor terá sua obra publicada pela editora e as obras finalistas serão convertidas em audiobooks pela Audible Brasil. Saiba mais

DANDO A LETRA

Jeferson Tenório
Sem punição à fala racista, times brasileiros deveriam sair da Libertadore Leia mais

Continua após a publicidade

Gustavo Chagas
Multa por racismo deveria ir para vítima, não para Conmebol Leia mais

Joildo Santos
A favela não é espetáculo: como a mídia molda narrativas periféricas Leia mais

André Santana
'Piada' de ministro do STJ prova como racismo está enraizado no judiciário Leia mais

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.