Opinião: Na oposição, PSDB deveria se preocupar com país que pode herdar em 2018

Alexandre Caverni

De São Paulo

  • Ed Ferreira/Folhapres

    9.jun.2015 - O governador de São Paulo Geraldo Alckmin, o líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio, e o presidente do partido, senador Aécio Neves, participam de reunião da liderança da legenda em Brasília, nesta terça-feira (9)

    9.jun.2015 - O governador de São Paulo Geraldo Alckmin, o líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio, e o presidente do partido, senador Aécio Neves, participam de reunião da liderança da legenda em Brasília, nesta terça-feira (9)

(O autor é editor de Front Page do Serviço Brasileiro da Reuters. As opiniões expressas são do autor do texto)

O Brasil experimenta uma crise política e econômica como há muito não se via, com o governo profundamente debilitado em sua capacidade de iniciativa e o partido da presidente Dilma Rousseff completamente atordoado, mas quando se olha para a oposição, o quadro não melhora muito, com o PSDB fazendo lembrar o PT dos tempos do governo Fernando Henrique Cardoso.

Desde que Dilma conseguiu se reeleger em outubro derrotando o senador tucano Aécio Neves pela margem mais apertada em todo o período pós-ditadura, o PSDB deixou claro que faria uma oposição mais acirrada ao governo petista.

O que talvez não se esperava era que o partido que sempre se gabou de ser o responsável pela estabilização da moeda nacional e patrono da Lei de Responsabilidade Fiscal passasse a atuar mais de olho nos ganhos de curto prazo do que com as consequências políticas e econômicas de seus atos mais à frente.

Dois exemplos no campo econômico mostram bem a inflexão dos tucanos.

Quando a Câmara dos Deputados aprovou a flexibilização do fator previdenciário, a bancada do PSDB voltou unanimamente em favor da mudança da regra criada justamente no governo de Fernando Henrique e defendida por muitos economistas como essencial para a sustentabilidade da Previdência.

Nesta semana, quando a Câmara estendeu para todos os aposentados o mesmo tipo de reajuste que têm os que recebem da Previdência apenas um salário mínimo --que inclui um ganho real quando a economia do país cresce--, o PSDB foi quase unânime em aprovar a medida.

Fora qualquer outra nova convicção sobre os temas, as duas votações, que contrariam a postura de responsabilidade fiscal sempre propalada pelo PSDB, parecem ter dois objetivos: ficar bem com a opinião pública e criar dificuldades para o governo atual. Exatamente o tipo de coisa que o PT fazia nos tempos em que o presidente da República era o tucano Fernando Henrique.

O azar de Dilma, por várias circunstâncias que incluem sua incompetência política, é que ela basicamente perdeu o controle de sua base aliada no Congresso. Os votos só de PSDB e dos demais partidos de oposição seriam insuficientes para fazer esses estragos. Quando os tucanos comandavam o país não era assim, a oposição não tinha essa "ajuda" dos governistas.

Mas não é só no lado econômico que o PSDB de hoje lembra o PT de ontem.

No início do segundo mandato de Fernando Henrique, após a adoção da livre flutuação do câmbio, líderes petistas acusavam o então presidente de estelionato eleitoral e, ainda no rescaldo do escândalo da compra de votos para a aprovação da reeleição, participavam ativamente do movimento "Fora FHC", criando uma divisão no partido entre radicais e moderados sobre o tema.

Agora, faltou muito pouco para que os tucanos mais afoitos levassem o partido a entrar com um pedido formal de impeachment de Dilma, contidos por líderes mais moderados.

Mas eles seguem à espera de uma oportunidade para pedir o impedimento da presidente, que pode vir do julgamento das contas do governo de 2014 pelo Tribunal de Contras da União (TCU), dependendo de como for o veredicto. Isso mesmo sabendo que um processo de impeachment na atual conjuntura muito provavelmente jogaria de vez a economia do país no buraco.

A cereja no bolo do novo PSDB talvez tenha sido o apoio quase unânime da bancada ao artigo da reforma política votada na Câmara que prevê o fim da reeleição para presidente, governador e prefeito.

O instrumento da reeleição foi aprovado pelo Congresso em 1997 depois de um amplo esforço do governo Fernando Henrique, rompendo uma tradição republicana de um século, e teve como primeiro beneficiário o então presidente.

Agora, menos de 20 anos depois, o PSDB apoia o fim do mecanismo motivado talvez mais por necessidades partidárias internas do que por uma avaliação mais consistente de sua eficácia e utilidade no sistema político brasileiro.

Sem a reeleição fica mais fácil para o PSDB acomodar os dois postulantes à candidatura presidencial de 2018, o mesmo Aécio derrotado do ano passado e o governador paulista, Geraldo Alckmin, que perdeu a disputa pelo Palácio do Planalto em 2006. Um sairia daqui a três anos e o outro teria uma garantia maior de poder tentar a sorte na eleição seguinte.

Para o Brasil sair da crise atual, a presidente, seu governo e o PT precisam encarar e superar uma série de desafios políticos e econômicos. Alguns já estão sendo tratados, outros ainda não. Mas também é preciso que o PSDB se preocupe mais com o país que poderá herdar se vencer a disputa em 2018.

 

* Esta coluna foi publicada inicialmente no terminal financeiro Eikon, da Thomson Reuters.

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