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Forças Armadas não seriam obstáculo para 3º mandato de Lula, dizem generais

Forças Armadas estão entre os principais eixos de sustentação do governo Bolsonaro - Marcos Corrêa/PR
Forças Armadas estão entre os principais eixos de sustentação do governo Bolsonaro Imagem: Marcos Corrêa/PR

Anthony Boadle

Reuters, Brasília

01/02/2022 08h05Atualizada em 01/02/2022 08h57

As Forças Armadas respeitariam uma vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na eleição presidencial deste ano, afirmaram dois generais da reserva à Reuters, somando-se aos recentes sinais de militares se distanciando do projeto político do presidente Jair Bolsonaro.

Bolsonaro, capitão reformado do Exército, colocou um número sem precedentes de militares em seu governo, incluindo em cargos chave do ministério. Ele também tem questionado a credibilidade do sistema eleitoral brasileiro e gerado temores de que não aceitaria a derrota no pleito de outubro, como fez o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, seu modelo político.

Isso criou especulação sobre como as Forças Armadas reagiriam, dado o apoio forte que deram à eleição de Bolsonaro em 2018 e à histórica desconfiança com Lula e o PT.

"Quem vencer as eleições será o governante do Brasil. Não existe nenhuma outra opção que não seja respeitar a vontade do povo", afirmou o general da reserva Carlos Alberto dos Santos Cruz, que foi ministro de Bolsonaro por cinco meses em 2019.

"Não vejo nenhuma condição de imaginar outro comportamento diferente das Forças Armadas", disse, em entrevista na semana passada.

Analistas políticos e um ex-ministro da Defesa disseram que o prestígio dos militares foi afetado porque Bolsonaro misturou seu governo com as Forças Armadas. Uma economia fraca e a gestão conturbada na pandemia pelo presidente, cético em relação às vacinas, estão fazendo com que sua rejeição cresça, e as primeiras pesquisas de opinião mostram que Lula pode vencer a eleição com folga.

A Covid-19 se tornou um ponto de fricção entre Bolsonaro e o que ele frequentemente chama de "meu Exército".

O comandante do Exército não recuou em uma ordem para que os soldados sejam vacinados. O diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), contra-almirante Antonio Barra Torres, escreveu carta aberta ao presidente cobrando que ele retirasse críticas aos seus funcionários por autorizarem a vacinação de crianças contra o coronavírus.

"As manifestações recentes sobre a questão das vacinas, questões de saúde, demonstram que o governo Bolsonaro não conseguiu impregnar a instituição da sua ideologia extremista", disse o ex-ministro da Defesa Celso Amorim.

"As Forças Armadas foram chamadas e seduzidas pela perspectiva de ter uma maior participação. Hoje muitos saíram, se desiludiram, alguns até de forma muito eloquente com relação ao governo, e outros estão calados", acrescentou.

Amorim, que também foi ministro das Relações Exteriores de Lula entre 2003 e 2010 e continua aconselhando sua candidatura, disse que não está preocupado com possível bloqueio militar a um terceiro mandato de Lula.

Como presidente, Lula resistiu aos apelos da esquerda para processar integrantes das Forças Armadas por crimes da ditadura militar de 1964-1985. Ele também supervisionou gastos ambiciosos em caças, submarinos e tanques, observou Amorim.

"Erros grosseiros"

O general da reserva Otávio Rêgo Barros, porta-voz de Bolsonaro até ser demitido sem um substituto em 2020, disse em coluna semana passada que os militares não são responsáveis pelos "erros grosseiros" do governo Bolsonaro.

"A instituição reafirma-se como órgão de Estado, afastada da política partidária, com valores e tradições preservados e liderança serena", escreveu Rêgo Barros, que é visto como um porta-voz informal do sentimento do Exército.

Na segunda-feira, o comandante da Força Aérea Brasileira, Carlos de Almeida Baptista Junior, disse ao jornal Folha de S.Paulo que os militares não têm partido e que prestarão "continência a qualquer comandante supremo das Forças Armadas".

Outro militar reformado, o general Paulo Chagas, que fez campanha por Bolsonaro em 2018, afirmou à Reuters que muitos dos seus colegas se aborreceram com o presidente porque ele não conseguiu cumprir a plataforma anticorrupção sobre a qual se elegeu.

"A fragilidade política do atual presidente é tão grande que ele se viu obrigado a negociar sua permanência no poder com os políticos que ele chamava de ladrões no Congresso Nacional, os mesmos que o acusavam de ser fascista e que tratam Lula como um estadista", disse Chagas. Segundo ele, apesar do ceticismo dos militares com Lula, as Forças Armadas reconhecerão uma vitória eleitoral justa.

André César, analista político da Hold Legislative Advisors, concordou que muitos militares sinalizaram que estão "bastante desgostosos" com a liderança política de Bolsonaro.

"Vejo o Exército buscando uma saída honrosa dessa enrascada em que entrou no governo Bolsonaro", afirmou.