"Tem alguma coisa de podre no reino do Brasil", diz editorial do Le Monde sobre governo Bolsonaro
"Tem alguma coisa de podre no reino do Brasil, onde o presidente Jair Bolsonaro pode afirmar que a covid-19 é uma "gripezinha", um produto da imaginação histérica dos meios de comunicação", diz o editorial do jornal Le Monde, em sua edição impressa de hoje.
Fazendo referência à famosa frase "há algo de podre no reino da Dinamarca", escrita por Shakespeare em 1600 na tragédia "Hamlet", o jornal francês condena com veemência o presidente brasileiro. O diário publicou que Bolsonaro participa de manifestações sem tomar a menor precaução com o distanciamento social, exorta prefeitos e governadores a abandonar as restrições contra o coronavírus e finge que a epidemia está acabando no país.
"Ora, em 72 horas, o Brasil ultrapassou 254 mil diagnósticos e se tornou o 3º país com mais casos da covid-19 no mundo, superando o Reino Unido, que tem cerca de 250 mil infectados, ficando atrás apenas dos Estados Unidos e da Rússia", relata Le Monde.
"Tem algo de podre no Brasil quando o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, diz que o coronavírus é resultado de um complô comunista (...) quando o ministro da Saúde Nelson Teich pede demissão no dia em que o país atinge 240 mil casos da covid-19."
Para muita gente, o Brasil atravessa uma crise que lembra as horas mais sombrias da ditadura militar, destaca o editorial. Mas existe uma diferença importante, reitera: "Enquanto no passado os generais reivindicavam a defesa de uma democracia atacada, o Brasil de Bolsonaro habita um mundo paralelo, um teatro do absurdo onde os fatos e a realidade não existem mais. Nesse universo sob tensão, alimentado por calúnias, incoerências e provocações mortíferas, a opinião se polariza a partir de ideias simplistas, mas falsas".
Risco de novo regime autoritário
"O negacionismo alimentado pelo poder (...) e a aposta política inacreditável de Bolsonaro, que pensa que os efeitos devastadores da crise na saúde serão atribuídos a seus opositores, mostra que esse obscuro ex-deputado de extrema direita não tinha nada de um homem de Estado", afirma o jornal.
As advertências do diário francês continuam: "Com o apoio de 25% do eleitorado, Bolsonaro sabe que sua margem de manobra é estreita. Depois de praticar o negacionismo histórico em prol da ditadura, de negar a existência de incêndios na Amazônia e da gravidade da epidemia da covid-19, Bolsonaro agora tenta levar o país para um novo regime autoritário".
Além do editorial e de uma reportagem de página inteira, a charge de capa, assinada pelo desenhista Plantu, também mostra o descalabro no Brasil. Enquanto uma família francesa faz um passeio em uma floresta recém-aberta, com todos de máscara, Plantu mostra um pequeno indígena brasileiro sem defesas orgânicas em meio a tocos de árvores da Amazônia destruída.
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