Tomada súbita de Cabul gera avalanche de críticas ao governo Biden
Os Estados Unidos assistem à tomada de poder dos talebans no Afeganistão, após duas décadas de guerra. As cenas de caos no aeroporto de Cabul provocam uma avalanche de críticas ao governo do presidente Joe Biden.
A queda da capital afegã acontece a poucas semanas do fim do prazo para a retirada completa de tropas americanas —decisão que Biden resolveu manter.
Em um discurso ontem, Biden não assumiu falhas na maneira como conduziu o encerramento do conflito. Disse que "nunca houve um bom momento para retirar as tropas". Ele garantiu que vai continuar a trazer de volta militares do país, uma vez que eles terminarem a operação de remoção de civis.
Segundo Biden, os Estados Unidos não devem "lutar uma luta que os afegãos decidiram não lutar". Ele garantiu que a retirada de civis não aconteceu antes porque civis não queriam deixar o país e o governo afegão não queria desencadear crise de confiança.
O presidente americano reconheceu que os EUA não tinham plano de reconstruir a nação e sim de atuar em contraterrorismo —uma contradição com o próprio nome da operação criada por George Bush em 2001, "Liberdade Duradoura".
De acordo com o assessor de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Jake Sullivan, Washington é capaz de combater o terrorismo de forma eficaz, "sem ter uma grande presença militar", e que vai responsabilizar o taleban para que não permita a atuação da Al-Qaeda, mesmo com o fim da guerra.
Encerrar o conflito era o desejo da maior parte dos americanos, mas a forma como a retirada aconteceu foi alvo de fortes críticas tanto de Republicanos, quanto de Democratas.
O retorno dos talebans ao poder acordou congressistas em recesso de verão. Membros do Senado e do Congresso acusam a administração Biden de ter falhado em evitar uma crise.
Além disso, de ter abandonado afegãos que trabalharam para os americanos e que, por isso, correm risco de vida. Muitos deles esperaram anos por vistos que não vieram e agora foram largados à própria sorte.
A tomada de Cabul está sendo apontada como uma das maiores falhas da política externa americana nas últimas décadas e comparada à "queda de Saigon" —hoje a cidade de Ho Chi Minh—, no episódio que marcou o fim da Guerra do Vietnã, nos anos 1970.
Veja imagens aéreas da população invadindo o aeroporto para fugir de Cabul
Rapidez dos fatos pegou EUA de surpresa
Enquanto talebans ganhavam território e crescia a lista de membros do governo afegão que fugiam do país, os EUA aprovavam o envio de um reforço de 3.000 militares para garantir a retirada e proteção de civis e diplomatas, a menos de um mês para a data da retirada completa de tropas americanas.
A velocidade dos eventos parece ter surpreendido o governo americano. Imagens de pessoas tentando a qualquer custo embarcar em aviões lotados para deixar o país viralizaram nas redes sociais.
O jornal "The New York Times" chamou em editorial a tomada de poder dos talebans no Afeganistão de "tragédia". Nas últimas duas décadas, a mais longa das guerras dos EUA, custou mais de US$ 2 trilhões (R$ 10 trilhões) e provocou a morte de cerca de 2.400 militares americanos.
Mesmo assim, tropas afegãs treinadas, financiadas e equipadas pela Casa Branca não foram empecilho para que o grupo radical islâmico voltasse ao poder.
O que esperar agora?
O acordo de paz de fevereiro de 2020, firmado entre ex-presidente americano Donald Trump e os talebans, previa que o grupo fundamentalista cortasse relações com o Estado Islâmico e a Al-Qaeda. Eles deveriam ainda negociar com o governo afegão —que ficou de fora do acerto— em troca da retirada americana.
O Pentágono já admitiu que isso não aconteceu. Eles ainda se comprometeram em negociar um mecanismo para saída de crise, a formação de um novo governo e de uma nova constituição.
Diversos países se preparam para a chegada de um fluxo de refugiados vindos do Afeganistão. No Conselho de Segurança da ONU, o Secretário Geral das Nações Unidas, António Guterres, fez um apelo para que a comunidade internacional não abandone a população do país e dê assistência.
Grupos de proteção dos direitos humanos estão mobilizados, sobretudo, diante dos riscos de retrocessos para os direitos da mulher.
A China afirmou que está disposta a dialogar com os EUA para prevenir uma nova guerra civil ou um desastre humanitário, após o que classificou de "sério impacto negativo" da "retirada apressada" das tropas americanas.
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