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Guerra da Rússia-Ucrânia

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Cerca de 500 civis deixam usina de Mariupol; comboio humanitário é previsto

06/05/2022 06h55

"Quase 500 civis" foram retirados, nos últimos dias, da cidade de Mariupol, no sudeste da Ucrânia, sitiada e bombardeada pelas tropas russas, informaram as autoridades ucranianas nesta sexta-feira (6). A retirada de moradores que estavam escondidos na usina siderúrgica de Azovstal continua e um novo comboio humanitário está previsto para remover mais 200 pessoas do local.

"Conseguimos retirar quase 500 civis" desde o início desta "difícil" operação organizada pela ONU, afirmou numa mensagem pelo Telegram o chefe de gabinete da presidência da Ucrânia, Andriï Iermak. "A Ucrânia continuará a fazer de tudo para salvar os civis e soldados" retidos em Azovstal, assegurou.

As operações de evacuação sob proteção da ONU e apoiadas pelo CICR (Comitê Internacional da Cruz Vermelha) começaram no fim de semana passado e devem continuar durante esta sexta-feira na imensa siderúrgica. Este é o último bolsão de resistência ucraniana na cidade que abriga um porto estratégico, no sul de Donbass, explicou a vice-primeira-ministra do país, Iryna Vereshchuk.

Centenas de soldados, muitos dos quais feridos, e cerca de 200 civis entrincheirados ainda esperam para deixar o local. No entanto, não há garantia de uma trégua nos combates. "Hoje estamos nos concentrando em Azovstal", enfatizou Vereshchuk. "A operação está começando agora. Estamos orando por seu sucesso", acrescentou.

Apesar desta incerteza, o novo comboio humanitário foi anunciado na quinta-feira (5) pelo secretário-geral adjunto da ONU para Assuntos Humanitários, Martin Griffiths. Cidade-mártir, Mariupol se tornou um dos símbolos da invasão russa, iniciada em 24 de fevereiro.

As informações sobre a situação atual na siderúrgica de Mariupol, onde civis e combatentes vivem escondidos em enormes galerias subterrâneas, permaneceram contraditórias.

Relato de testemunhas

Somente quem viveu a experiência de se esconder durante dois meses nos porões de um grande complexo siderúrgico pode descrever o drama. É o caso de Valentina, de 72 anos, que finalmente chegou a Zaporizhia, em segurança. Ela conversou com a reportagem da RFI enquanto cortava o cabelo no salão de beleza de seu hotel, uma pausa bem-vinda depois de viver refugiada, após ter seu apartamento completamente destruído pelos bombardeios das tropas russas.

"Conheço esta fábrica por ter trabalhado lá durante 40 anos. Quando chegamos à entrada, fomos recebidos calorosamente. Um primeiro bunker estava superlotado e fomos levados para um segundo abrigo subterrâneo. Passamos 2 meses lá", relata.

"No dia 6 de março, quando chegamos, havia 100 pessoas, mas depois aqueles que tinham carro puderam sair, mas como não tínhamos transporte, minha filha, minha neta e eu tivemos que esperar", diz.

Valentina passou muito tempo deitada e conta que o bunker tremia a cada tiro. Soldados ucranianos vieram várias vezes socorrer os civis. "Eles vieram nos trazer comida e algumas informações. Mas são os nossos homens que vão buscar água ou comida por toda a fábrica, nas cantinas, mas era muito perigoso, debaixo de fogo cruzado", lembra.

Mapa Rússia invade a Ucrânia - 26.02.2022 - Arte UOL - Arte UOL
Imagem: Arte UOL

No final da semana passada, as 71 pessoas que estavam no mesmo bunker que ela foram finalmente retiradas. "Se você tivesse visto como fomos evacuados. O ônibus não tinha portas nem janelas. A estrada estava coberta de entulho, metal, plástico, vidro. Tivemos que nos segurar nas maçanetas para não sermos jogados pela janela ou pela porta", relata.

Foi só quando chegou a Zaporizhia que Valentina soube da morte de seu neto, de 22 anos, morto em março em um bombardeio. Ela não sabe onde o corpo do jovem foi enterrado.

Com informações da AFP e RFI