Ucrânia se prepara para uma longa guerra com 2.000 km de fortificações e arsenal de drones
Em 12 de março, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky revelou em uma entrevista às mídias francesas Le Monde e BFMTV que seu país estava criando uma linha tripla de defesa ao longo do front, projetada para proteger o território ucraniano de qualquer avanço das forças russas, enquanto espera por dias melhores. Kiev também está apostando no desenvolvimento e no uso de drones para obter vantagem sobre seu adversário.
Stéphane Siohan, correspondente da RFI em Kiev
Na Ucrânia, na ausência de munição suficiente, as autoridades civis e militares estão agora se concentrando na construção de fortificações. Em 12 de fevereiro, o primeiro-ministro ucraniano, Denys Chmyhal, anunciou que o governo ucraniano havia alocado U$ 520 milhões para a construção de três linhas sucessivas de fortificações no lado ucraniano da linha de frente da guerra.
Esse impressionante sistema de 2.000 km de extensão cruzará o sul do país, na região de Zaporíjia, e o leste, nas áreas do Donbass ainda controladas pelo governo ucraniano, mas também se estenderá para o norte, para as regiões de Kharkiv, Soumy, Chernigiv, Kiev e muito mais, a fim de evitar qualquer incursão de Belarus, aliado russo.
Falta de munição
Essas fortificações serão compostas por uma série de trincheiras, blindados e obras antitanque conhecidas como dentes de dragão, semelhantes em muitos aspectos à linha tripla de Surovikine que a Rússia estabeleceu há um ano no sul da Ucrânia, e que a contraofensiva ucraniana do verão de 2023 enfrentou.
Para Kiev, essas obras se tornaram indispensáveis, em um momento em que o poder de fogo do Exército ucraniano caiu consideravelmente e o Exército russo vem tomando faixas de território, desde que a Ucrânia perdeu a cidade de Avdiivka, em Donbass.
No entanto, muitos soldados não entendem por que as autoridades esperaram dois anos para financiar a construção de fortificações, quando agora é toda a linha de frente que está sob forte pressão.
Drones
O desenvolvimento e o uso de drones desempenharão um papel central na estratégia do Exército ucraniano, declarou Oleksandr Syrsky, comandante-chefe das Forças Armadas, em uma mensagem em seu canal do Telegram.
Há várias semanas, enquanto a Rússia dispara sete projéteis, a Ucrânia tem disparado apenas um, um sinal da dramática escassez de munição de artilharia que o país está enfrentando, com seus parceiros ocidentais incapazes de remediar a situação.
Enquanto espera que as indústrias europeias se organizem, a Ucrânia está contendo o avanço russo com outro tipo de arma, os drones FPV, pequenos dispositivos controlados por submersíveis equipados com uma carga explosiva que pode ser detonada contra um alvo humano ou material. Um pequeno drone FPV de valor mínimo pode destruir um tanque russo, uma tática na qual os ucranianos são mestres.
Os russos não estão inativos nessa área e também estão desenvolvendo suas frotas de drones, que estão causando estragos na infantaria ucraniana.
Neste inverno do hemisfério norte, o governo ucraniano lançou um projeto com o objetivo de produzir um milhão de drones FPV até 2024, uma política conduzida em Kiev pelo dinâmico Ministério da Transformação Digital.
O objetivo é obter uma vantagem tecnológica sobre o inimigo, mas, no curto prazo, se equiparar à Rússia, que tem maior capacidade industrial para a produção de drones do que a Ucrânia.
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