Macron e Lula retomam relações, mas com claras divergências entre os dois países, diz imprensa francesa

A imprensa francesa desta sexta-feira (29) repercute o último dia da viagem do presidente Emmanuel Macron ao Brasil. Para os jornais que chegaram às bancas nesta manhã, a visita do chefe de Estado resulta na reaproximação entre os dois países, que ainda precisam resolver uma série de diferenças.

"Macron e Lula exibem uma relação renovada" é o título de uma matéria do jornal Libération. O diário acredita que apesar das divergências persistentes sobre a guerra na Ucrânia e o acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia, a ida do presidente francês ao Brasil é positiva porque "relança a cooperação entre os dois países, interrompida durante o governo de Jair Bolsonaro".

Segundo Libé, as imagens dos dois líderes juntos, que viralizaram nas redes sociais pelo clima de "ensaio de casamento", embora divertidas, não foram clicadas em vão. Elas fazem parte de uma jogada política do "ex-metalúrgico símbolo da esquerda latino-americana" e do "ex-banqueiro quarentão", mestres em "operações de sedução".

No entanto, para o diário, os dois líderes "parecem se apreciar sinceramente" e acreditar em uma renovação dos laços entre os dois países no que diz respeito à luta contra a ascensão da extrema direita, na contra as mudanças climáticas e na melhoria da cooperação econômica entre as duas nações.

Amizade limitada

Menos otimista, o jornal Le Monde acredita que há limites no diálogo entre a França e o Brasil em prol de um Sul Global. Para o diário, apesar do clima de afeto, dos animados jantares e da aparente amizade, a viagem de Macron foi dominada por questões graves que deixaram claras as diferenças entre os dois governos sobre a guerra na Ucrânia e na Faixa de Gaza. 

Lula segue defendendo a necessidade de o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, e o russo, Vladimir Putin, negociarem um fim do conflito. Já Macron não exclui a possibilidade do envio de tropas à Ucrânia, lembra o Le Monde. Segundo o jornal, há consenso entre os dois líderes de que a próxima cúpula do G20, em novembro, no Rio, não se restrinja às questões controversas entre o Norte e o Sul, apesar das críticas entres as duas partes nos últimos meses sobre os posicionamentos em relação à invasão russa e ao conflito entre Israel e o grupo Hamas. 

Acordo Mercosul-UE enterrado

O acordo entre o Mercosul e a União Europeia é o ângulo de uma matéria do jornal econômico Les Echos sobre o último dia de viagem de Macron ao Brasil. O diário afirma que "um balde água fria" caiu sobre a Fiesp quando o líder francês deixou claro sua intenção de "enterrar" o compromisso tal qual como ele é hoje. Em entrevista ao jornal, empresários e especialistas em comércio exterior brasileiros não hesitaram em condenar o que consideram "protecionismo francês". 

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Por outro lado, Macron quer dinamizar as relações bilaterais que começaram a entrar nos trilhos desde o ano passado com US$ 8,5 bilhões de dólares de trocas. No foco do presidente francês estão cooperações no setor de submarinos, do aeroespacial e em parcerias para a fabricação de helicópteros, destaca o jornal Les Echos

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