Como está Paris, a uma semana da cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos?

Agora é oficial e foi dada a largada da contagem regressiva para os Jogos Olímpicos de Paris! A cerimônia de abertura acontece na próxima sexta-feira (26), daqui a exatamente uma semana. Entre entusiasmo e ansiedade, a capital francesa entra no clima do evento, mas teme desorganização e atentados terroristas.

Daniella Franco, da RFI

"Você comprou ingresso para qual modalidade?": a pergunta passou ser ouvida frequentemente nas ruas de Paris nos últimos dias. No entanto, a população francesa não é a mais entusiasmada com os Jogos Olímpicos. Uma pesquisa do instituto Ipsos para o jornal La Tribune, no mês de abril deste ano, mostrava que apenas 53% da população se dizia interessada pelo evento. Entre os entrevistados, 35% se declaravam indiferentes e 33% preocupados.

Apesar das construções e preparativos que se intensificaram nos últimos meses, a uma semana do início dos Jogos Olímpicos, a vida dos moradores de Paris começa a ser verdadeiramente impactada. Durante a semana, algumas estações de metrô nos arredores do rio Sena, na região onde ocorrem a cerimônia de abertura e algumas competições, foram fechadas, perturbando a circulação na capital francesa. Na quinta-feira (17), barreiras foram instaladas para impedir o trânsito nas pontes que ligam os dois lados de Paris.

Nos cais e em algumas das ruas que cercam o rio Sena, dois perímetros de segurança - a zona cinza e a vermelha - também foram ativadas, com controle da circulação. Moradores, trabalhadores e turistas que não requisitaram o passe eletrônico em forma de QR code para o acesso a essas áreas expressaram sua indignação com o sistema.

O subprefeito de Paris, David Belliard, chegou a pedir formalmente à Secretaria de Segurança Pública da capital francesa para retirar alguns dos bloqueios e "permitir, quando possível, uma melhor circulação e segurança de pedestres e ciclistas". O ecologista reclama principalmente que, entre as cerca de 44 mil barreiras colocadas nas calçadas e nas ruas, algumas impedem a utilização das pistas de bicicleta construídas especialmente para os Jogos Olímpicos.

De fato, a capital francesa está irreconhecível. Em vários pontos turísticos, como a Praça da Concórdia, a Ponte Alexandre III e a própria Torre Eiffel, estruturas e arquibancadas foram erguidas. A transformação desagrada alguns parisienses e turistas, como Thiong Tran, moradora de Seine-Saint-Denis, na periferia, que gostaria de mostrar a capital para a família que veio da Polônia visitá-la. "Não sei nem mesmo se vamos conseguir fazer o passeio que planejamos no rio Sena", lamenta.

A partir do final da manhã deste sábado (20), nem barcos turísticos, nem navios de transporte de mercadorias e alimentos poderão circular no Sena até a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos. Apenas as embarcações que participam dos ensaios para o evento é podem ter acesso ao rio parisiense.

15 milhões de turistas em Paris

Cerca de 15 milhões de turistas são esperados em Paris para o período dos Jogos Olímpicos. Nas ruas da capital francesa já é possível perceber um aumento da afluência de visitantes.

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No entanto, organizações que representam comerciantes, proprietários de restaurantes, bares e clubes apontam para "uma queda inédita na frequentação" de 30%, em relação aos anos anteriores. Em um comunicado conjunto de vários setores divulgado nesta sexta-feira, eles criticam "o pesado esquema de segurança" dos Jogos Olímpicos que estaria espantando os frequentadores.

Segundo o informe, a situação é pior nos estabelecimentos próximos aos eventos olímpicos. Restaurantes perto da torre Eiffel - que acolhe o show da cerimônia de abertura e algumas competições - chegam a registrar uma diminuição de 70% do público.

"Se garantir a segurança dos visitantes dos Jogos Olímpicos é uma prioridade absoluta, deploramos a falta de esclarecimentos e de informação da parte das autoridades públicas sobre essas restrições. Nossos estabelecimentos precisam de antecipação e organização para que possam se preparar serenamente", afirma o comunicado.

Ao contrário do previsto, a rede hoteleira também não está esgotada. Muitos estabelecimentos realizam promoções de última hora para tentar atrair a clientela.

Em entrevista ao site econômico francês Capital, Frank Delvau, presidente da União das Profissões e das Indústrias de Hotelaria da Região Parisiense, classifica a situação de "catastrófica". Segundo ele, devido ao rígido esquema de segurança e às dificuldades de circulação na capital, a taxa de frequentação dos hotéis em Paris não ultrapassa 55% nas próximas semanas.

Quem também terá de lidar com o público abaixo do esperado é o próprio Comitê de Organização dos Jogos Olímpicos. A poucos dias do apito inicial, cerca de um milhão de ingressos não foram vendidos. Entre eles, 50 mil entradas para partidas de futebol, basquete e competições de atletismo.

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O principal motivo foi o preço das entradas. Os ingressos para algumas modalidades, como ginástica artística, foram disponibilizados a algumas centenas de euros. No site oficial do evento, milhares de espectadores também revendem bilhetes a valores mais acessíveis.

Temor de atentados terroristas

Paris foi palco de três incidentes violentos nos últimos dias, o que preocupa os organizadores dos Jogos, autoridades locais, moradores e visitantes.

Um policial foi esfaqueado na quinta-feira perto da avenida Champs-Elysées, uma pessoa morreu e seis ficaram feridas na colisão de um carro contra um bar do leste de Paris na quarta-feira (16) e um soldado da operação antiterrorismo foi atacado na estação de trem Gare de l'Est na segunda-feira (15).

A polícia francesa descartou que qualquer um desses incidentes tenham tido motivação terrorista. Os três homens autores desses ataques tinham antecedentes psiquiátricos.

No entanto, segundo a rádio France Inter, o risco de um atentado jihadista durante os Jogos é alto. O maior temor é sobre a ação dos chamados "lobos solitários", que agem sozinhos, sem um grupo ou comando principal.

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Sob anonimato, uma fonte próxima dos serviços de inteligência da França afirmou à rádio que cerca de 12 ordens de ataques do grupo Estado Islâmico foram registradas vindas na zona turco-síria.

O esquema de segurança de Paris 2024 é imenso: 35 mil policiais e 18 mil militares estarão mobilizados durante os 12 dias do evento. Há ainda 1,8 mil agentes de segurança vindos de 43 países para apoiar as forças francesas, inclusive do Brasil. A Polícia Federal brasileira enviou 20 agentes para a França para atuar em três principais frentes: segurança pública, troca de informações, e inteligência para prevenção ao terrorismo.

Pane informática no sistema da Paris 2024

Uma pane informática de grandes proporções afetou o funcionamento de diversos serviços e aeroportos pelo mundo nesta sexta-feira (19). O transporte ferroviário, empresas de telecomunicações, bancos, veículos de comunicação e até o sistema dos Jogos Olímpicos de Paris foram atingidos.

Segundo o Comitê de Organização da Paris 2024, o problema afetou todos os seus servidores, mas o impacto foi "limitado". O principal problema ocorreu na entrega de credenciais e dos uniformes dos atletas, o que atrapalhou a chegada de algumas delegações na Vila Olímpica nesta sexta-feira.

O comitê informou ter ativado planos de emergência para minimizar os problemas, com a mobilização de todas as suas equipes de informática. No final da tarde, o sistema voltou inteiramente ao normal, com a previsão de que o centro de distribuição de credenciais e uniformes fique aberto até 23h pelo horário de Paris.

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Aliviado, o chefe do Comitê de Organização, Tony Estanguet, comemorou o fato de ter escapado de uma catástrofe. "Claro que não poderíamos nos preparar para essa pane mundial a alguns dias do início dos Jogos", afirmou.

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