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Criminalização das ONGs estimula ódio, diz fundador da Saúde e Alegria

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DO UOL, em São Paulo

10/12/2019 00h15

Responsável por prestar atendimentos de saúde no Pará e fundador da ONG Saúde e Alegria, o médico Eugênio Scannavino condenou a criminalização das ONGs por parte de autoridades e criticou a reação do presidente Jair Bolsonaro às queimadas na Amazônia.

"Essa criminalização das ONGs, até por autoridades do governo, estimula o ódio nas pessoas", disse Scannavino em entrevista ao Roda Viva, da TV Cultura, de hoje. "As autoridades têm que ter muito mais responsabilidade ao fazer declarações para não gerar violência. Isso é perigoso", completou.

Uma das regiões em que atua Scannavino é Alter do Chão, no interior do Pará, onde quatro brigadistas foram presos após serem acusados - sem provas - de causar incêndios na floresta. O médico relatou não saber onde estão os brigadistas, que saíram da Amazônia por questões de segurança, e ter recebido ameaças depois do ocorrido.

"Nós estamos com medo. Nunca tive isso. Já fui ameaçado, mas dessa vez estamos com medo, nossa família está sendo ameaçada", contou. "E sem ser acusado de nada. Não tem acusação nenhuma, só fizemos trabalhos bons, ajudamos as comunidades, e de repente estou sendo caçado. O que é isso?".

Internacionalização da Amazônia

Questionado sobre as discussões quanto uma possível internacionalização da Amazônia, Scannavino disse que os brasileiros precisam se unir contra isso. O médico vê uma enorme responsabilidade do Brasil para com a floresta e considera a soberania nacional importante.

"Eu acho que a Amazônia tem que ser 'nacionalizada', porque o brasileiro de São Paulo, do Rio Grande do Sul, não conhece, acha que aquilo é um problema. [Ele] Deveria conhecer, respeitar aquelas comunidades, respeitar o povo, ajudar o governo a fazer as políticas chegarem lá", defendeu.

Declarações de Bolsonaro sobre as queimadas

Scannavino ainda criticou as falas de Bolsonaro com relação aos incêndios na Amazônia. Recentemente, em transmissão ao vivo no Facebook, o presidente voltou a responsabilizar as ONGs pelas queimadas e até cutucou o ator Leonardo DiCaprio por doar dinheiro a essas entidades.

Além disso, segundo o médico, os brasileiros só começaram a se preocupar com a Amazônia porque a fumaça das queimadas chegou a São Paulo. "As pessoas perceberam que a gente vive no mesmo planeta. [A Amazônia] é importantíssima para o planeta todo. A reação do presidente poderia ter sido mais cautelosa, acho que o governo deveria conhecer melhor a Amazônia", concluiu.