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Balaio do Kotscho

Entre taças de vinho em Noronha, estava Salles no nascer do "caso Nhonho"

Aos olhos azuis do ministro Salles, tudo não parece passar de um conhecido seriado de televisão. É para achar graça? - Divulgação
Aos olhos azuis do ministro Salles, tudo não parece passar de um conhecido seriado de televisão. É para achar graça? Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

29/10/2020 17h20

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Às vésperas do feriadão de Finados, sem outros assuntos mais urgentes na sua área para resolver, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, acompanhado uma fornida comitiva, embarcou num avião da FAB para o arquipélago de Fernando de Noronha (PE), onde não há sinais de focos de incêndio.

Estavam a bordo também o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, e outros funcionários do governo.

Objetivo da excursão: assinar o termo de concessão do Mirante do Boldró, um imóvel federal que será entregue à iniciativa privada, e fazer uma vistoria técnica do Parque Nacional Marinho, que também deverá ser privatizado.

Cobram tanto do governo para acelerar as privatizações que Salles resolveu dar sua contribuição.

"Assinei a permissão de uso desse espaço tão privilegiado da ilha, que estava abandonado há tanto tempo. É um bom investimento do turismo que gera emprego e renda", declarou Salles, ao fazer um discurso na solenidade da concessão.

Começava assim o primeiro dia da visita oficial e, para comemorar, todos foram para a pousada Maria Bonita, que pertence ao empresário Paulo Fatuch, sócio do ator Bruno Gagliasso e do bolsonarista Julio Pignatari.

Vinho branco

Segundo reportagem da revista Crusoé, a comitiva chegou à pousada no final da tarde de quarta-feira e lá ficou por cerca de três horas e meia, enquanto os garçons serviam rodadas de garrafas de vinho branco para amenizar o calor.

Não por acaso, o Mirante do Bodró, um dos principais pontos turísticos de Fernando de Noronha, foi concedido ao empresário Paulo Fatuch, que ofereceu a recepção à comitiva oficial.

Foi de lá que o celular oficial de Ricardo Salles disparou a mensagem no Twitter chamando de "Nhonho" (personagem do seriado "Chaves") o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que o criticara na semana passada por ter chamado o ministro Luiz Ramos de "Maria Fofoca". Salles gosta de dar apelidos.

Mas o ministro garante que não foi ele. Alguém deve ter usado seu celular, alegou. Com tanta gente na mesa, e tanto vinho, fica mesmo difícil descobrir quem foi.

A boiada não passou nas restingas

Condenado em São Paulo por improbidade administrativa nos tempos em que era secretário de Meio Ambiente do governador Geraldo Alckmin (PSDB), Salles sofreu outra derrota na Justiça nesta quinta-feira.

Enquanto ele passava por Fernando de Noronha, a ministra Rosa Weber, do STF, suspendia a decisão do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) em que o ministro derrubou regras de proteção ambiental a áreas de mangues e restingas, liberando-as para a iniciativa privada no embalo do seu projeto de "passar a boiada".

Para sexta-feira, a agenda oficial prevê apenas uma visita à Escola de Referência em Ensino Médio do Arquipélago.

Eu só me pergunto: quando custa uma viagem dessas aos cofres públicos?

Em tempo: por via das dúvidas, Salles tratou de apagar logo sua conta no Twitter, mas Maia não acreditou nessa lorota.

Vida que segue.