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OPINIÃO

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Após 4 meses, governo Lula ainda derrapa na articulação política e na mídia

Lula ao lado do cacique Raoni no encerramento do Acampamento Terra Livre, em Brasília: o presidente tem pressa para demarcar áreas indígenas -  Leo Bahia/Fotoarena/Estadão Conteúdo
Lula ao lado do cacique Raoni no encerramento do Acampamento Terra Livre, em Brasília: o presidente tem pressa para demarcar áreas indígenas Imagem: Leo Bahia/Fotoarena/Estadão Conteúdo

Colunista do UOL

30/04/2023 11h39

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Nos primeiros 120 dias completados hoje, o terceiro governo Lula reimplantou políticas publicas abandonadas pelo antecessor, apresentou seu plano econômico na área fiscal, voltou a defender as populações indígenas, o meio ambiente, os direitos humanos, a educação pública e a saúde para todos, e reatou relações com o mundo civilizado, mas derrapou na articulação política e na comunicação, o que explica a precoce queda de popularidade nas pesquisas.

Lula logo percebeu que a frente ampla que o elegeu não era tão ampla assim, muito menos unida, e enfrentou mais problemas dentro do que fora do governo para colocar a casa em ordem. Mal teve tempo de esquentar a cadeira no terceiro andar do Palácio Planalto, ainda com sinais da invasão golpista de 8 de janeiro, tendo que acudir a variadas emergências desde o primeiro dia.

Que encontraria um Congresso majoritariamente hostil, o mais conservador desde a redemocratização, tendo à frente os caciques do Centrão, liderados pelo todo-poderoso Arthur Lira, sem falar na tropa de choque bolsonarista enfurecida pela derrota do Mito fujão, isso ele já sabia.

O que Lula não esperava era encontrar tantas bombas de efeito retardado plantadas por toda parte, principalmente na economia, onde o banqueiro bolsonarista Roberto Campos Neto exerce um poder paralelo no controle da taxa de juros, apoiado por amplos setores da mídia e do mercado, que não queriam mais Bolsonaro, mas também não se conformavam com um terceiro mandato do petista.

Congresso, Banco Central, mídia comercial e mercado continuam agindo como se não tivesse havido uma alternância no poder no dia 1º de janeiro, esperando que Fernando Haddad seja um novo Paulo Guedes, e adote a mesma política econômica que transformou o Brasil numa massa falida.

Neste cenário, Lula tem que correr de um lado a outro para apagar incêndios, entre uma e outra viagem internacional. Tudo agora é muito mais difícil do que foi em seus dois primeiros governos, quando as milícias digitais, erroneamente chamadas de redes sociais, ainda não tinham o poder de destruição que possuem hoje. A equipe de governo também era mais afinada, pois seus integrantes já vinham trabalhando juntos e com Lula fazia bastante tempo.

Antes de viajar para a Europa na semana passada, o presidente avisou que o governo precisava reavaliar seu esquema de comunicação, ainda analógico num mundo digital, em que a esquerda tem dificuldade de navegar, até porque não pode usar as mesmas armas sujas de seus adversários. Para isso, é preciso recrutar profissionais do ramo, como aqueles que fizeram a belíssima campanha que levou Guilherme Boulos para o segundo turno na última campanha para prefeito. Competência técnica e boas relações com a imprensa são requisitos básicos nesta área, não dá para improvisar.

Paulo Pimenta e Juscelino Filho, aquele dos cavalos, os dois ministros da área de Comunicação, não são do ramo e não tem nenhuma ascendência sobre o presidente para calibrar melhor seus discursos e entrevistas, que vêm-lhe causando tantas dores de cabeça. O mesmo vale para a articulação política, que parece perdida em seu labirinto, sem saber como lidar com esse parlamentarismo de fancaria baseado em barganha de cargos e verbas que parece não ter fundo.

Não basta o presidente fazer uma live semanal, como seu antecessor fazia, porque é falar para convertidos, a velha política do "nós com nós". O próprio presidente já teve essa experiência no primeiro mandato quando fazia um programa de rádio chamado "Café com o Presidente", mas que tinha um alcance muito limitado.

É preciso lutar em todas as arenas em que se faz a comunicação, velha ou nova, e não centrar só na figura do presidente, com a participação de todo o governo, que tem excelentes quadros nesta área, como Haddad, Dino, Silvio Almeida e outros que ainda não ganharam espaço na mídia.

Há um velho Brasil que resiste a sair de cena e um novo que ainda está se formando, mas hoje, pelo menos, voltamos a ter esperança de dias melhores, sem ameaças à democracia. Falta um breque de arrumação para ajeitar as melancias na caçamba, ousar com novos projetos e ampliar a participação popular, ouvindo outras vozes fora do governo e do Congresso.

Há muita ansiedade no ar para que os resultados apareçam logo, a começar pelo presidente Lula, que tem pressa. Só que isso precisa de tempo porque o estrago foi grande e não dá para consertar tudo de uma vez.

Vida que segue.