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Coral invasor ameaça maior área de proteção marinha do Brasil
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A expansão de uma espécie invasora ameaça atingir a maior barreira de corais do oceano Atlântico Sul e uma das maiores do mundo: a Costa dos Corais, que se estende ao longo de 135 km, de Tamandaré (PE) ao litoral norte de Maceió. Pesquisadores alagoanos analisaram e confirmaram neste domingo (27) que o coral-sol chegou ao litoral do estado.
O coral-sol é um bioinvasor já conhecido no litoral nacional. Onde é identificado, causa estrago ambiental.
A descoberta ocorreu durante a visita de mergulhadores ao naufrágio de Itapagé, em Jequiá da Praia, 66 km ao sul de Maceió. Ali, um navio brasileiro foi afundado em setembro de 1943 por um submarino alemão durante a 2ª Guerra Mundial. "Durante os mergulhos, a equipe registrou milhares de colônias espalhadas pela estrutura do histórico Itapagé e, durante 15 minutos, removeu 53 colônias de Coral Sol, totalizando 1.377 pólipos e aproximadamente 2,5 kg (a maior colônia possuía 99 pólipos e 11 cm de diâmetro)", afirma o comunicado dos pesquisadores.
O registro foi elaborado em conjunto pelo Laboratório de Ictiologia e Conservação da Ufal (Universidade Federal de Alagoas) em Penedo, pelo programa de pós-graduação em Diversidade Biológica e Conservação nos Trópicos da Ufal, pelo ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) e pelos projetos Corais do Brasil e Conservação Recifal.
O invasor
Estudos demonstram que o coral-sol causa impactos negativos em corais e peixes nativos, modificando funções ecológicas importantes. Em regra, domina áreas invadidas, em especial as paredes do recife. Além disso, uma pesquisa aponta também a mortalidade de tecidos dos corais nativos em contato com o bioinvasor.
A espécie é facilmente reconhecida pelas cores vibrantes e pelo formato alongado dos pólipos. A espécie coletada em Alagoas é a T. tagusensis, de cor amarelada e pólipos mais projetados e espaçados.
Nativo do oceano Indo-Pacífico, o coral-sol foi introduzido na costa brasileira ainda na década de 80. Primeiro, encontrado em plataformas de petróleo. Depois, em costões rochosos no Rio de Janeiro. Desde então, vem se expandindo.
Os pesquisadores lembram que o coral-sol deixa os recifes menos coloridos e ameaçam espécies nacionais, encontradas apenas no país. "Os recifes brasileiros possuem poucas espécies de corais construtores, mas quase todos são exclusivos; ou seja, não existem em nenhuma outra parte do planeta", afirma o professor Cláudio Sampaio, da Ufal Penedo.
Segundo a análise, a ocorrência do coral-sol em Alagoas pode ter sido facilitada pelo "retardo e ausência" de providências na aplicação de medidas de prevenção e monitoramento. Essas medidas, dizem, foram "amplamente discutidas e recomendadas" desde 2017 durante reuniões do Conselho Estadual de Proteção Ambiental.
Os males do coral-sol
Criada em 1997, a APA (Área de Proteção Ambiental) da Costa dos Corais, é repleta de biodiversidade, com algas, corais, peixes, crustáceos, moluscos, tartarugas e mamíferos. Controlada pelo ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), a região abriga locais de naufrágios, que são os principais vetores dos corais-sol.
"Difícil projetar os prejuízos, mas certamente os impactos negativos [caso chegue na costa dos corais] seriam sentidos na pesca, com a redução de pescado e turistas —que iriam buscar por novas áreas, mais ricas, coloridas e saudáveis", alerta o professor Cláudio Sampaio, da Ufal Penedo.A ideia de naufragar navios, tanques e até aviões, inclusiva, já foi pesquisada e é criticada por especialistas por conta dos riscos que trazem ao ecossistema.
"Os naufrágios são vetores conhecidos do coral-sol. A grande superfície desses naufrágios, sem colonização ou com poucas espécies nativas, são áreas perfeitas para o assentamento de larvas dele, que crescem rapidamente, competindo pelo espaço e dominando o ambiente. Esses naufrágios são 'trampolins' para o coral sol acessar novas áreas", explica.
Instituto vai intensificar vistorias
Em comunicado enviado ontem, o IMA (Instituto do Meio Ambiente de Alagoas de Alagoas) informou que ainda não há vestígios do coral-sol em Maceió.
Segundo o texto, o IMA possui parceria com uma empresa de mergulho e já vem realizando monitoramento da Costa dos Corais há pelo menos cinco anos, com foco no porto da capital —a espécie invasora pode ser transportada por cascos de navios. Com a chegada do bioinvasor ao litoral sul, o órgão afirmou que as medidas preventivas serão intensificadas e ampliadas.
"Nós já trabalhávamos com medidas profiláticas, pelo menos no porto de Maceió. Agora vamos trabalhar com procedimentos para a retirada do coral-sol e definir medidas para evitar a sua expansão", informou Ricardo César, coordenador do Gerenciamento Costeiro do Instituto.
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