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Josmar Jozino

PCC pagou R$ 2,5 milhões em mesadas para assassinos de agente penitenciário

21.07.2017 -- Agentes penitenciários federais protestam contra mortes de colegas em presídio federal de Catanduvas (PR) - Divulgação
21.07.2017 -- Agentes penitenciários federais protestam contra mortes de colegas em presídio federal de Catanduvas (PR) Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

09/09/2020 04h04

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Investigações feitas pela PF (Polícia Federal) mostram que a organização criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) pagou nos últimos quatro anos um total de R$ 2,5 milhões em mesadas para 10 criminosos da facção. O grupo foi preso e denunciado à Justiça pelo assassinato do agente penitenciário federal Alex Belarmino Almeida Silva, 36 anos.

O servidor trabalhava na Penitenciária Federal de Catanduvas (PR) e foi assassinado com 23 tiros em setembro de 2016 na cidade paranaense de Cascavel. Segundo a PF, o crime foi encomendado pelo PCC em protesto às normas rígidas impostas aos detentos nos presídios federais. Com os assassinos presos, foram encontrados nomes de 20 agentes, numa espécie de "lista negra".

Planilhas da PF mostram que o PCC vinha pagando desde 2017 uma espécie de "pensão vitalícia" de R$ 4 mil mensais para os criminosos envolvidos diretamente na morte de Alex Belarmino.

Além dessa mesada, quantias milionárias também foram depositadas no mesmo período nas contas dos parentes dos assassinos.
Somente na conta corrente de uma mulher ligada a Juan Manoel Gomes, o Argentino, um dos assassinos do agente, foram constatados créditos de R$ 616 mil em depósitos realizados entre janeiro de 2017 a abril deste ano. No mesmo período ocorreram 361 saques no valor total de R$ 400 mil.

As apurações dos policiais federais apontaram que a mulher não possuía capacidade econômico-financeira declarada para movimentar os valores. Para a PF, ela recebeu os recursos do PCC.

Gomes foi acusado de ter fornecido o armamento usado no homicídio de Alex Belarmino. Além disso, ele também se envolveu em uma fuga em massa orquestrada pelo PCC na Penitenciária Estadual de Piraquara, no Paraná, em setembro de 2018.

PF detectou movimentação nas contas de parentes dos presos

Por ter cumprido uma missão do PCC, de matar agente público, Gomes, preso em penitenciária federal, passou a receber a "pensão vitalícia" de R$ 4 mil.

A mesma mesada também foi creditada para Rafael William Kukowitsch. Na conta bancária da irmã dele foram rastreados créditos no valor de R$ 135 mil. Desse total, apenas R$ 4.293 foram pagos pelo programa Bolsa Família, em 45 transações bancárias.

A mulher de Manoel do Nascimento, o Coiote, é acusada de ter recebido R$ 653 mil em depósitos do PCC.

Já na conta da mulher de Jair Santana houve depósitos no valor de R$ 178 mil, além de saques de R$ 110 mil realizados entre 2017 e 2019.

Jair Santana, apontado como integrante do PCC, foi acusado de operacionalizar o plano de assassinato de Alex Belarmino. O criminoso alugou uma casa ao lado da residência do agente, em Cascavel, para concretizar o homicídio do servidor federal.

As planilhas contendo os pagamentos e nomes das pessoas que receberam os recursos do PCC constam no inquérito da Polícia Federal que desencadeou a operação Caixa Forte - Fase 2, deflagrada no último dia 31.

Investigações apontam pagamento de "pensões" desde 2003

O PCC começou a pagar "pensão vitalícia" para os assassinos de agentes públicos a partir de março de 2003. Foi quando o juiz Antonio José Machado Dias, corregedor dos presídios da região de Presidente Prudente (SP) foi morto a tiros a mando da facção criminosa.

Segundo o Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado) de Presidente Prudente, do Ministério Público Estadual, os criminosos Reinaldo Teixeira dos Santos, o Funchal, e Adilson Daghia, o Ferrugem, passaram a receber mesada de R$ 5 mil pelo assassinato do magistrado. Ambos foram condenados pelo crime e estão presos.

O agente Alex Belarmino Almeida Silva trabalhava no sistema penitenciário federal havia 10 anos. Ele era casado e deixou a mulher e duas filhas.