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Câmera mostra filho suspeito de matar pais PMs chegando à escola em São Paulo

Do UOL, em São Paulo

06/08/2013 20h14

Vídeo de câmera de segurança, em posse do setor de inteligência da Polícia Civil, mostra o estudante Marcelo Eduardo Bovo Pesseghini, 13, chegando à sua escola, na Freguesia do Ó, na manhã dessa segunda-feira (5). De acordo com a polícia, as investigações indicam que ele, depois de matar os pais, o sargento da Rota (tropa da elite da Polícia Militar) Luís Marcelo Pesseghini e a cabo da PM Andreia Regina Bovo Pesseghini, pegou o carro da mãe e foi para o colégio.

Ambos foram mortos a tiros nessa segunda-feira (6) na residência do casal, na Brasilândia, zona norte de São Paulo. A mãe da policial, Benedita de Oliveira Bovo, 65, e tia de Andreia, Bernadete Oliveira da Silva, 55, também foram mortas. Marcelo também foi encontrado morto. 

  • Janaina Garcia/UOL

    O delegado Itagiba Franco, durante entrevista coletiva nesta terça (6) sobre a morte da família de PMs

Em entrevista na tarde de hoje, o delegado responsável pela divisão de homicídios do DHPP (Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa) da Polícia Civil leu trecho do depoimento do amigo do filho dos PMs -- de 13 anos e cuja identidade foi preservada -- prestado hoje ao lado do pai.

“Desejo manifestado pelo Marcelo: ele sempre me chamou para fugir de casa para ser um matador de aluguel. Ele tinha o plano de matar os pais durante a noite, quando ninguém soubesse, e fugir com o carro dos pais e morar em um local abandonado", afirmou o delegado, citando o trecho do depoimento do "amigo mais chegado" do adolescente.

O carro de Andreia Regina, um Corsa sedan, foi encontrado próximo à escola de Marcelo, na Freguesia do Ó. A polícia acredita que ele tenha ido ao colégio com o carro da mãe depois de ter cometido os crimes. O delegado disse que o amigo reconheceu Marcelo em imagens de câmeras de segurança da região nas quais uma pessoa chegava ao local com o carro, à 1h15 da madrugada de ontem, e o deixava às 6h30 com uma mochila nas costas. 

Uma professora do garoto afirmou em depoimento à polícia que ontem, na escola, Marcelo teria perguntado a ela se já havia dirigido carro alguma vez quando criança e se já teria atingido os pais. Outra professora disse que Marcelo teria dito que havia dirigido um buggy.

Ainda conforme o delegado, a chave do carro da policial foi encontrada no bolso da jaqueta de Marcelo, a qual estava na sala da casa --onde estavam os corpos do adolescente e dos pais.

"Tudo vai se encaixando, se fechando”, comentou o policial. "Desde o primeiro momento, sabíamos que não era um homicídio usual", completou, referindo-se ao fato de que os corpos foram encontrados sem sinais de que tivessem sido subjugados --característica, disse o delegado, de mortes executadas por membros de facções. Apenas a mãe do menino, encontrada de joelhos, não parecia estar dormindo quando morreu.

Segundo a polícia, o garoto pegou carona com o pai do amigo --o mesmo que depôs hoje-- para voltar do colégio até sua casa. No meio do caminho, que viu o carro da mãe, pediu para descer, foi até o veículo e retornou para o carro do amigo. A polícia acredita que Marcelo foi até o carro da mãe para pegar um revólver calibre 32, de propriedade do avô dele, que foi encontrada dentro da mochila do garoto. 

'Tudo leva a crer que foi o garoto'

O delegado-geral afirmou que "tudo leva a crer" que o garoto matou os familiares e depois se suicidou, mas disse que as investigações ainda estão em andamento. “Nossa presunção inicial parece que está se confirmado, e tudo leva a crer que o garoto matou os pais e se suicidou.”

Segundo o delegado, a pistola .40, que era da mãe e que matou os cinco, foi encontrada na mão esquerda de Marcelo, que levou um tiro do lado esquerdo da cabeça. Franco afirmou que a polícia tem "certeza" de que o garoto é canhoto. Exame residuográfico realizado pela perícia não identificou pólvora nas mãos do garoto, mas, de acordo com o delegado, isso é comum em virtude do tipo de arma utilizada.

O delegado explicou que a perícia identificou que o pai, a avó e a tia avó de Marcelo estavam de bruços, em posição de quem dormia profundamente, quando foram mortos. Já a mãe estava de joelhos, em posição de submissão, com os braços em frente à cabeça, o que indica que ela estaria acordada na hora do crime.

“Isso já nos chamou a atenção porque não é usual”. Para Franco, se fosse um crime encomendado, “fatalmente teria briga, ou qualquer coisa do tipo”. “Não foi isso que evidenciamos. Houve ali alguma coisa muito particular, muito familiar.”

Franco afirmou que fios de cabelo foram encontrados na mão de Marcelo e serão periciados, a exemplo do computador do garoto, das armas e do Corsa sedan. A perícia já coletou sangue das vítimas para saber se elas foram sedadas. O resultado deverá sair entre 20 e 30 dias.

No quarto de Marcelo, foram encontradas, segundo o delegado, "muitas armas de brinquedo", um coldre de ombro, feito com fitas, e um escudo de papelão imitando o utilizado pela Tropa de Choque. "Inconscientemente ele já vinha desejando essa atração por armas.”

Marcelo tinha diabetes e fibrose cística, uma doença genética ainda sem cura, mas que se diagnosticada precocemente e tratada de maneira adequada, permite ao paciente ter uma vida praticamente normal. A polícia diz que não há indícios de qualquer relação entre a doença e a motivação dos crimes.

Os corpos foram liberados hoje pelo IML (Instituto Médico Legal) e já foram velados no cemitério Gethsêmani, em Anhanguera, zona norte da capital. Com exceção do corpo da tia de Andreia, supultado no mesmo cemitério, os demais seriam todos enterrados em Rio Claro (173 km de São Paulo).