Desocupação em favela causa tumulto na zona norte do Rio
O clima é muito tenso na reintegração de posse, determinada pela Justiça, de um terreno vazio da empresa Oi, no Engenho Novo, na zona norte do Rio de Janeiro. A Polícia Militar, que chegou ao local por volta de 5h desta sexta-feira (11), entrou em confronto com os ocupantes do local.
Após uma das lideranças dos manifestantes ser presa, o confronto se acirrou. Ocupantes do terreno chegaram a jogar um coquetel molotov em direção aos militares, e a polícia reagiu imediatamente. Homens do Batalhão de Choque usadas bombas de gás lacrimogêneo e outras armas não letais a fim de dispersar a multidão.
Invasor reclama de truculência da PM
Segundo a PM, pelo menos 21 pessoas foram detidas. A corporação disponibilizou um ônibus para fazer o transporte dos presos. Mais cedo, um repórter do jornal "O Globo" recebeu voz de prisão quando trabalhava na cobertura da desocupação. Segundo "O Globo", o jornalista foi preso por fotografar a ação dos policiais militares. Ele teve o celular quebrado.
Os moradores da "favela da Telerj", como vinha sendo chamada a ocupação, começaram a atear fogo em um dos edifícios que compõem o espaço. Os ocupantes também queimaram um carro da PM, quatro ônibus e dois caminhões, de acordo com o Corpo de Bombeiros.
Uma moradora afirmou à reportagem do UOL que três crianças haviam morrido durante a ação da Polícia Militar, mas a informação foi negada pela corporação. O Corpo de Bombeiros também informou não ter encontrado vítimas fatais durante o trabalho de atendimento a feridos.
Os militares informaram que foram socorridos quatro adultos e três menores --um adolescente de 13 anos, uma criança de nove anos (por inalação de gás) e uma de seis meses. A de nove anos foi liberada no local. Já o bebê, cujo motivo do atendimento não foi informado, foi encaminhado para a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do bairro, a exemplo de três dos quatro adultos feridos. Em relação aos demais, não foram divulgados mais detalhes.
Com a confusão, os ocupantes correram pelas ruas do bairro e deixaram um rastro de destruição pelo caminho. Três agências bancárias foram depredadas nos arredores do Engenho Novo. Além dos vários focos de incêndio, um veículo de uma emissora de TV foi apedrejado. Cerca de 1.000 pessoas ainda estão no entorno do prédio, resistindo à reintegração.
Um dos moradores, identificado apenas como Maycon, foi ferido durante a ação da polícia com um tiro de bala de borracha no rosto. Cinco policiais militares foram feridos, informou a assessoria da corporação.
Maioria dos ocupantes diz não ter condições de pagar aluguel
Uma moradora do Engenho Novo entrevistada pela "Globo News" afirmou que o comércio está todo fechado no entorno do prédio da Oi. Os moradores teriam sido orientados pela PM a ficar em casa, segundo ela.
Policiais se posicionaram em todas as esquinas da rua Dois de Maio, em frente à ocupação, para impedir que manifestantes bloqueiem a via. Pelo menos 60 homens e 16 carros do Corpo de Bombeiros estão no local para apagar os focos de incêndio.
Segundo o governo do Estado, 1.600 policiais militares foram designados para a ação de cumprimento de reintegração de posse, da qual participaram ainda 40 oficiais de Justiça. As ordens judiciais foram expedidas pela juíza da 6ª Vara Cível do Fórum Regional do Méier, responsável pela região do Engenho Novo.
O que temíamos está pior, diz representante da OAB
"Tudo o que temíamos está acontecendo e de uma forma ainda pior", avaliou o presidente da 55ª Subseção da Ordem dos Advogados do Brasil no Rio de Janeiro (Méier), Humberto Cairo, que vinha tentando mediar um consenso entre os ocupantes da "favela da Telerj" e a empresa Oi.
"A OAB avisou para que essa reintegração fosse feita com cautela. Posso garantir que o melhor era o diálogo entre as pessoas. Deveríamos sentar, conversar, ver quem realmente é necessitado ali e fazer um cadastramento", afirma Cairo. "Não podemos aceitar o vandalismo, nem a irregularidade, mas também não aceitamos truculência e a situação de perigo a que estas pessoas estão sendo expostas", completou.
Representante dos moradores da ocupação, Maria José Silva, também criticou a ação: "Estamos sendo tratados como bichos. A solução que eles deram é um massacre". "Muitas pessoas saíram desesperadas e deixaram as coisas lá dentro. Teve gente que saiu para trabalhar e agora não está conseguindo voltar nem para pegar os documentos", afirmou Maria José, que não mora na comunidade, mas vinha acompanhando a ocupação de perto por morar em uma favela próxima. "Estão falando que lá tem traficantes, mas são pessoas humildes que precisam de uma moradia", observou.
Favela cresceu em uma semana
Cerca de 6.000 famílias ocupavam um terreno vazio da empresa de telefonia, que foi invadido no dia 31 de março. Em apenas uma semana, o espaço constituído de edifícios e galpões abandonados foi loteado por pessoas oriundas de outras comunidades, que levantaram barracos e tendas no local.
Com cerca de 5.000 metros quadrados, o terreno tem um estacionamento central cercado por quatro prédios de quatro e cinco andares. Todos os espaços, pisos e coberturas foram totalmente tomados por estruturas de madeira. No local, não há luz, nem água.
Há dois dias, o prefeito Eduardo Paes (PMDB) definiu a ocupação do terreno como "uma invasão profissional".
"Não conheço favela nenhuma da Telerj e, sim, uma invasão com todas as características que uma invasão profissional pode ter. É um movimento organizado, com pessoas que estão ali loteando, demarcando. Pobre que é pobre, que precisa de casa, não fica demarcando, não aparece com madeirites marcando número", afirmou Paes. (Com Estadão Conteúdo e Agência Brasil)
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