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Exército argelino conclui operação para libertar reféns; ministro diz que grupo rebelde veio da Líbia

Integrantes do Exército francês chegam a Bamaco, capital do Mali, para participar das operações de intervenção francesa no país africano - Jerome Delay/AP
Integrantes do Exército francês chegam a Bamaco, capital do Mali, para participar das operações de intervenção francesa no país africano Imagem: Jerome Delay/AP

Do UOL, em São Paulo

17/01/2013 19h30Atualizada em 17/01/2013 21h54

Forças especiais do Exército da Argélia concluíram na noite desta quinta-feira (17) a operação para libertar reféns mantidos por um grupo armado rebelde em um campo de gás localizado em In Amenas, no centro-leste da Argélia. A informação é do governo regional.

Um porta-voz dos rebeldes ouvido pela agência AFP disse que 15 militantes do grupo e 34 reféns morreram durante a operação do Exército. Outros sete reféns permanecem vivos - três belgas, dois americanos, um japonês e um britânico.

O assalto ao campo ocorreu na madrugada de ontem e, embora o governo tenha anunciado que a operação acabou, fontes ouvidas pela AFP dizem que as forças oficiais controlam apenas o local onde estão as construções destinadas aos funcionários. A usina, onde se encontram alguns reféns, ainda está nas mãos dos militantes extremistas.

Sem citar números, o ministro argelino das Comunicações, Mohamed Said, anunciou que muitas pessoas foram mortas durante a operação, mas vários reféns foram libertados.

Segundo Said, o sequestro foi realizado por uma "multinacional terrorista” que visa implicar a Argélia no conflito no Mali, "desestabilizar" o Estado argelino e "destruir sua economia" baseada na exploração dos hidrocarbonetos.

Por sua vez, o grupo afirmou que a ação foi uma represália à abertura do espaço aéreo da Argélia para que a aviação francesa bombardeasse o norte do Mali no domingo (13), controlado por grupos armados salafistas desde junho de 2012.

No dia 11 de janeiro, a França se declarou em "guerra contra o terrorismo" no Mali, intervindo militarmente na nação africana, a pedido do governo local. O objetivo é combater grupos extremistas que controlam várias regiões do país. Para a intervenção, a França obteve apoio da ONU e da Otan, além de apoio logístico de vários países europeus, entre eles o Reino Unido, e os Estados Unidos.

Após o fim da operação do Exército, o ministro do Interior, Daho Ould Kablia, garantiu que o grupo extremista vinha da Líbia. "A organização terrorista que atacou a base petrolífera em In Amenas vinha da Líbia, e a operação foi planejada e supervisionada pelo terrorista Mojtar Belmojtar em território líbio", disse o ministro ao jornal argelino "Al Shuruk".

A usina de gás é controlada por um consórcio formado pela argelina Sonatrach, a britânica BP (British Petroleum) e a norueguesa Statoil.

Depoimento de testemunha

Uma testemunha do ataque ao campo de gás afirmou que o grupo sequestrador "estava muito bem-preparado e conhecia o local, tanto que cortaram a produção logo após terem controlado a usina". O depoimento foi dado ao jornal francês Le Monde, sob anonimato.

Segundo a testemunha, "os rebeldes eram de várias nacionalidades. Havia um egípcio, um tunisiano, um argelino e um negro, provavelmente nigeriano ou malinês. Era impossível saber quantos eles eram. Um deles falava um inglês perfeito".

Ele ainda contou que o primeiro ataque dos rebeldes, realizado na madrugada de quarta-feira, visava um ônibus que levava passageiros ao aeroporto. Houve feridos.

Em seguida, eles atacaram as construções destinadas aos funcionários. "Um dos empregados, um estrangeiro, ouviu os tiros e se dirigiu aos militares para buscar refúgio. Mas eram rebeldes que estavam vestidos desse jeito para despistar as pessoas", continua.

"Os outros funcionários, já em seus respectivos quartos ou em outros cômodos, permaneceram onde estavam e tentaram se esconder. Há uma orientação da equipe de segurança para que as pessoas façam isso. Mas os rebeldes fizeram uma ronda após tomarem o controle da usina."

A testemunha acrescentou que vários argelinos estavam em outro local, uma sala que serve de recepção, sala de jogos e cybercafé. Quando ouviram os primeiros tiros, tentaram fugir pela saída de emergência. "Como os rebeldes estavam no restaurante neste momento, não conseguiram impedi-los. Assim, entre 400 e 600 pessoas conseguiram fugir."


Confira a localização da região argelina de In Aménas, que fica na fronteira com a Líbia

  • DADOS DO MALI:

  • Capital: Bamaco
    População: 15,5 milhões (2012)
    Língua oficial: francês
    PIB: US$ 17,9 bilhões (2011)
    Tamanho: 7º maior país da África
    Divisão religiosa: 90% muçulmanos, 1% cristãos
    e 9% crenças indígenas

Reações variadas

O presidente francês, François Hollande, apoiou a ação, embora a tenha classificado de operação dramática.

"O que acontece na Argélia justifica ainda mais a decisão que tomei em nome da França de ajudar o Mali em conformidade com a Carta das Nações Unidas e a pedido do presidente desse país", assinalou Hollande. "Trata-se de por fim a uma agressão terrorista e permitir que os africanos se mobilizem para preservar a integridade territorial de Mali".

Já o primeiro-ministro britânico, David Cameron, lamentou não ter sido informado da operação militar do exército argelino.

"O governo argelino está a par de que teríamos preferido ser consultados com antecedência", enfatizou um porta-voz do governo.

O Japão, por sua vez, exigiu que Argélia suspendesse imediatamente a operação militar. Um porta-voz do governo informou que o primeiro-ministro Shinzo Abe, que se encontra em Bangcoc, ligou para seu colega argelino para expressar sua "profunda preocupação" a propósito da operação.

Por fim, a Casa Branca expressou sua preocupação em relação à operação na Argélia.

"Obviamente estamos preocupados com a informação sobre a perda de vidas humanas", afirmou o porta-voz do presidente Barack Obama, Jay Carney. "Tentaremos pedir esclarecimentos ao governo argelino", acrescentou.

(Com agências internacionais)