Brasileiros chavistas dizem que processo revolucionário vai continuar na Venezuela
Em meio a uma multidão que na última sexta-feira (8) se dirigiu à Academia Militar, em Caracas, para ver o corpo do presidente Hugo Chávez, um grupo de brasileiros se uniu para prestar sua homenagem ao líder morto.
Formado por estudantes de medicina e militantes de movimentos sociais do Brasil, o grupo mantém um discurso engajado e não poupa elogios a Chávez e à “revolução bolivariana”.
“Ainda não caiu a ficha que ele morreu (...) Ele não morreu mesmo. Porque nenhum venezuelano bolivariano vai deixar apagar da memória o Chávez. E a maior prova disso é essa quantidade de pessoas que veio ver o corpo dele”, afirma a estudante de medicina Jaqueline Teixeira Soares, 30.
Vinda de Curitiba e há quase seis anos morando em Caracas, a jovem é bolsista em um programa bancado pelo governo da Venezuela. Soares ganha uma ajuda de custo de mil bolívares por mês (R$ 312 no câmbio oficial ou R$ 100 no câmbio negro), mas conta com o auxílio da família no Brasil. “Querendo ou não, a família acaba ajudando porque sabe que a bolsa é simbólica”.
Do governo venezuelano ganhou a passagem de ida e de volta (esta quando se formar no fim deste ano), um computador, material didático digitalizado e instrumentos médicos.
Na volta para o Brasil, espera conseguir exercer a medicina. “A gente sabe da dificuldade de revalidação [do diploma] no Brasil. A gente quer voltar e trabalhar, porque não estamos aqui sete anos para ter uma profissão e não poder exercer nossa profissão.”
Para Soares, Chávez criou uma ideologia nova. “Ele juntou tudo o que é da esquerda, dos intelectuais, dos lutadores todos que caíram em luta. Ele juntou todas essa ideias. Pegou coisas de Jesus Cristos e colocou tudo misturado. Fez da forma dele e passou para todo mundo”, analisa.
Bolsista no mesmo programa, a paulistana Maria Araújo, 29, conta que não consegui tocar no assunto Chávez nos dois primeiros dias após a sua morte: “Não podia falar que chorava”.
“Chávez nos deu a oportunidade que nunca tivemos no Brasil [estudar medicina]. Que Lula nunca nos deu, que Fernando Henrique nunca nos deu. E a gente teve isso na Venezuela. Sou muito agradecida por tudo isso e tenho o Chávez como um pai, um professor. Alguém que me ensinou realmente a ver o que é importante na vida. Alguém que me ensinou a ver que dar oportunidades às pessoas vale a pena”, afirma.
“A revolução segue”
Para Tairi Felipe Zambenedetti, 27, representante de movimentos sociais brasileiros, Chávez deixou um legado para o país.
“Agora os venezuelanos têm muita dor, o povo está de luto, mas o processo de construção do socialismo aqui na Venezuela não vai parar. O povo está diretamente envolvido nisso, não é coisa de um representante ou de alguns representantes, é um processo conjunto entre povo e governo”, afirma o brasileiro, que mora no país vizinho desde 2005.
Vindo da cidade catarinense de Dionísio Cerqueira (717 km de Florianópolis), Zambenedetti faz parte de uma brigada que tem por objetivo dividir experiências com os venezuelanos na área da agricultura.
Seu colega Maicon Reginatto, 24, da catarinense São Miguel do Oeste (656 km de Florianópolis), diz que os venezuelanos sabem que a “revolução” deve continuar. “O Chávez mesmo falava que o processo revolucionário não deve ficar só numa pessoa e que o povo deve assumir isso.”
Na Venezuela há apenas quatro meses, o paranaense Marinho Prochnow, 24, de Londrina (388 km de Curitiba), afirma que sempre acompanhou a situação da Venezuela.
“A população venezuelana está reafirmando que a revolução bolivariana segue. Não é porque tombou o comandante Chávez que se vai parar o processo revolucionário. O comandante plantou a semente do socialismo no coração do povo venezuelano. Essa mobilização de massa que se vê hoje, em função da morte do comandante Chávez, é o povo reafirmando que a revolução vai seguir com Nicolás Maduro [presidente interino e candidato do governo nas eleições de abril].”
“Não há dúvida que o Maduro está preparado para isso. O Maduro acompanha de muito perto o processo, sempre foi um dos quadros centrais da revolução bolivariana”, diz Zambenedetti.
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