Após sabatinas duras, presidenciáveis reencontram Bonner em debate final

Giancarlo Giampietro

Colaboração para o UOL, em São Paulo

O último debate entre os candidatos à Presidência, agendado para esta quinta-feira (4), por volta das 22h (horário de Brasília), marca o reencontro de muitos deles com um de seus maiores antagonistas durante a campanha. No caso, não necessariamente um de seus concorrentes nas urnas, mas o jornalista William Bonner.

Apresentador e editor-chefe do Jornal Nacional, Bonner virou assunto nas redes sociais durante a série de sabatinas com os presidenciáveis, com perguntas incisivas e interações acaloradas com os entrevistados. Agora, volta a dividir estúdio com Ciro Gomes (PDT), Fernando Haddad (PT), Geraldo Alckmin (PSDB) e Marina Silva (Rede). Os quatro candidatos, além de Jair Bolsonaro (PSL), passaram pelas entrevistas nos estúdios do jornalismo da Globo em agosto e setembro.

Relembre como foram as sabatinas:

Alvaro Dias (Podemos), Guilherme Boulos (PSOL) e Henrique Meirelles (MDB) também vão participar do debate. Foram convidados os candidatos com direito garantido por lei ou que alcançaram um mínimo de 6% nas intenções de voto em pesquisa divulgada em 28 de setembro.

Bolsonaro, líder das pesquisas, está fora. O médico que acompanha sua evolução afirma ter vetado a atividade. O candidato recebeu alta hospitalar no sábado passado (29), recuperando-se de duas cirurgias, e está em repouso em sua residência na capital fluminense.

Reproução/TV Globo
Haddad durante sua sabatina no Jornal Nacional

Peso e condução das sabatinas

Numa campanha mais enxuta, a relevância de sabatinas e debates aumentou. Para os candidatos, qualquer tempo extra de exposição em rede nacional se tornou valioso, especialmente no caso das chapas que tiveram espaço bastante reduzido. O Jornal Nacional tem a segunda maior média de audiência diária da emissora –e da TV aberta no país.

De acordo com medição da FGV DAPP, a Diretoria de Diretoria de Análise de Políticas Públicas da fundação, as sabatinas, somadas, tiveram repercussão nas redes sociais superior à do penúltimo debate entre os presidenciáveis, realizado pela TV Record no domingo (30).

A entrevista com Bolsonaro foi a que gerou maior repercussão. O candidato reagiu a muitas perguntas devolvendo indagações ou contra-atacando os apresentadores do telejornal, incluindo a jornalista Renata Vasconcellos. O presidenciável do PSL também atacou a Rede Globo, insinuando uma dependência da emissora quanto a verbas publicitárias do governo. A empresa divulgou nota oficial para rebatê-lo.

No dia da entrevista com Bolsonaro, a página oficial do candidato do PSL no Facebook apresentou engajamento quase 10 vezes maior que o da véspera, segundo a FGV DAPP. Foram mais de um milhão de interações –contra 112 mil reações do dia anterior.

Uma análise de mensagens postadas no Twitter apontou que o modo de condução das entrevistas foi o fator que mais mobilizou a audiência. O mesmo aconteceu com Ciro Gomes, que abriu a série.

Último entrevistado, depois de ter sua candidatura confirmada, Haddad também optou pelo contra-ataque na bancada ao afirmar, em longo bate-boca, que a Rede Globo teria problemas com a Receita Federal. 

Geraldo Alckmin, quando pressionado pelo jornalista sobre inquérito envolvendo um de seus aliados, disse a Bonner que desconhecida as informações citadas e emendou: "Você é mais poderoso que eu".

2014: Dilma e Marina batem de frente, e Bonner tenta moderar

Formato do debate

No debate desta quinta, quatro blocos serão de perguntas entre os candidatos. Os presidenciáveis não devem, então, esperar por intervenções de Bonner. A não ser, claro, que a temperatura do encontro seja elevada, tal como no debate presidencial promovido pela emissora antes do primeiro turno em 2014.

Quatro anos atrás, em campanha acirrada, a então presidente Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva (então no PV) quebraram o protocolo. Um embate entre as duas ex-correligionárias levou a troca de acusações com tempo esgotado, mesmo com seus microfones já desligados. Bonner tentou apaziguar os ânimos. Aquele debate bateu em 19,2 pontos de audiência (cada ponto equivalendo a 65 mil domicílios).

No último dia liberado para a realização de campanha eleitoral em TV aberta e debates, a perspectiva é de que Fernando Haddad seja um dos principais alvos da ofensiva dos candidatos que vêm abaixo nas pesquisas. Foi o que aconteceu na transmissão da Record de domingo. Mesmo ausente, Bolsonaro também não deve escapar.

Tanto Ciro como Alckmin tentam se colocar como uma alternativa à polarização entre os dois mais bem colocados nas pesquisas, ainda em busca de uma virada até domingo. As pesquisas eleitorais indicam que a missão é difícil. Levantamento do Ibope divulgado nesta quarta-feira (3) mostra Bolsonaro com 32% e o petista com 23% das intenções de voto. O pedetista aparece com 10%, seguido pelos 7% do  tucano. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.

Bolsonaro fora

Essa não é a primeira vez em que o debate da Globo fica desfalcado do líder das pesquisas. Em 1998, o então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) se recusou a participar, e o evento não foi realizado. O tucano, que havia alegado que sua prioridade era controlar a crise econômica que afetava o país, foi reeleito já no primeiro turno.

Já em 2006, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) optou, em cima da hora, por abrir mão de sua participação. Enquanto a transmissão ocorria, o petista fazia discurso em comício em São Bernardo do Campo.

"Não posso render-me à ação premeditada de adversários que pretendiam transformar o debate em uma arena de grosserias e agressões", afirmou à época. Lula foi reeleito no segundo turno, derrotando Geraldo Alckmin.

Bolsonaro ficou internado por 23 dias no hospital Albert Einstein, em São Paulo. Ele passou por duas cirurgias depois de ter levado uma facada durante atividade de campanha em Juiz de Fora (MG).

Antes de o candidato do PSL receber atestado médico nesta quarta, o núcleo central de sua campanha tinha divergências sobre qual seria o impacto de uma participação no debate.

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