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Presidente da Câmara cogita CPI para investigar "caso Cachoeira"

Maurício Savarese

Do UOL, em Brasília

03/04/2012 15h32Atualizada em 03/04/2012 17h29

O presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT-RS), afirmou nesta terça-feira (3) que uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) pode ser necessária para investigar parlamentares que se associaram ao empresário do jogo Carlinhos Cachoeira. Ele também considera a possibilidade de que apenas o Conselho de Ética da Casa tenha de lidar com o assunto.

Nas últimas semanas, quatro deputados apareceram em contatos de cachoeira, investigados pelo Ministério Público de Goiás (MP-GO). São eles, Carlos Alberto Lereia (PSDB-GO), Sandes Júnior (PP-GO), Rubens Otoni (PT-GO) e Stepan Nercessian (PPS-RJ). Caso haja indícios de participação deles em esquemas de corrupção, o processo será remetido ao STF (Supremo Tribunal Federal).

“Precisamos investigar mais fundo. Existem investigados na classe política, no Judiciário e até jornalistas”, afirmou Maia. O presidente da Câmara se disse “estupefato” pelas denúncias no mesmo caso que levaram o senador Demóstenes Torres a pedir desfiliação do Democratas. O parlamentar goiano sofre pressões para renunciar a seu mandato.

Envolvido, Demóstenes se desfilia do DEM

O senador Demóstenes Torres (GO) pediu a desfiliação do DEM no começo da tarde desta terça-feira (3) após uma série de acusações de seu envolvimento com Carlinhos Cachoeira. O ofício foi encaminhado ao presidente do partido, José Agripino Maia (RN). Assim, o processo de expulsão aberto ontem (2) pelo DEM deixa de existir. Com a decisão, Demóstenes permanece no Senado, mas sem partido. 

Em resposta à cúpula do DEM, Demóstenes escreveu em seu pedido de desfiliação que discorda "frontalmente da decisão" de abrir um processo de expulsão e que o partido fez "um prejulgamento público" do seu caso.

Agripino nega que tenha havido pré-julgamento. Segundo ele, foi dado a Demóstenes prazo de uma semana para defesa. “Coisa que ele nunca fez”, afirmou o presidente da legenda. "Para nós isso é um assunto superado e agora o Conselho de Ética do Senado que vai tratar disso", disse.

"O Democratas mostra assim que é um partido diferente dos outros, que não passa a mão na cabeça de ninguém. Agimos com rapidez e fica o exemplo: nenhum membro do partido que for pego em situação semelhante terá condescendência", completou o líder do DEM na Câmara, ACM Neto (BA). "O partido está aliviado com decisão."

Segundo análise do colunista Fernando Rodrigues, a saída espontânea de Demóstenes do partido foi um ato calculado "milimetricamente" para minimizar seus danos políticos no atual processo. Se tudo der certo, o senador eleito por Goiás em 2010 poderá se candidatar novamente a algum cargo nas eleições de 2014.

Relembre o caso Demóstenes

A relação entre Demóstenes e Carlinhos Cachoeira começou a ser divulgada pela imprensa dias após a deflagração da Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, que resultou na prisão de Cachoeira e mais 34 pessoas no final de fevereiro. Inicialmente, Demóstenes foi acusado de receber presentes caros de Cachoeira em seu casamento, mas negou conhecer as atividades ilegais do empresário.

Vazamento de interceptações telefônicas colhidas pela Polícia Federal mostraram, no entanto, que além de conhecer a atuação de Cachoeira, Demóstenes também participava do esquema, interferindo a favor do empresário em assuntos políticos e obtendo em troca o repasse de dinheiro resultante da exploração do jogo ilegal em Goiás.

Com as acusações, Demóstenes se recolheu em seu gabinete. Em seu microblog Twitter, o senador disse que não integrava nenhuma "organização ilegal".

Com o risco de ser cassado, o senador estuda a hipótese de renunciar ao mandato, mas retarda sua decisão por receio de perder a prerrogativa de foro privilegiado –renunciando à cadeira no Senado, o inquérito não seria mais julgado pelo STF. Além disso, caso seja cassado ou renuncie ou mandato, Demóstenes corre o risco de ficar inelegível até 2017.