Relator pede abertura de processo contra Demóstenes Torres no Conselho de Ética
O senador Humberto Costa (PT-PE) pediu nesta quinta-feira (3) ao Conselho de Ética, em relatório preliminar, a abertura de processo disciplinar contra o senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO), acusado de envolvimento com o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, preso desde fevereiro por um esquema de jogos ilegais e outros crimes. Para o petista, que é relator do caso, Demóstenes praticou quebra de decoro parlamentar. A abertura do processo é o primeiro passo para um pedido de cassação do senador.
Além de receber presentes e favores do contraventor, que atua principalmente em Goiás, Demóstenes é suspeito de intervir no Congresso em favor de Cachoeira. Outros políticos, como deputados federais e governadores, também são investigados por envolvimento no caso.
Costa alega que as denúncias publicadas pela imprensa poderiam ser suficientes para admitir a representação do PSOL contra Demóstenes no conselho. “Em sua atuação como membro do conselho, o próprio senador Demóstenes defendeu a utilização de matérias jornalísticas como elementos de um processo”, afirmou o relator. Mas, para evitar o constrangimento de ver parte de suas argumentações tidas como inválidas, o petista preferiu não usar neste momento as informações contidas nos grampos vazados pela imprensa. Isso porque o STF (Supremo Tribunal Federal) ainda não decidiu sobre a validade destes recursos como provas.
Para justificar a abertura do processo, Costa afirma que Demóstenes teria mentido aos colegas sobre sua relação com o bicheiro e diz que há contradições em seu discurso sobre a exploração de jogos. "Tudo leva a crer que sua excelência [Demóstenes Torres] se contradiz e teria faltado com a verdade perante seus pares."
Em discurso no plenário do Senado no dia 6 de março, Demóstenes Torres confirmou que manteve quase 300 ligações telefônicas com Cachoeira e que recebeu, como presente de casamento, uma geladeira e um fogão. Na ocasião, porém, o senador negou participação no esquema criminoso --posteriormente, uma série de escutas telefônicas feitas pela Polícia Federal mostraram a relação de Demóstenes em ações ilegais.
Ainda em seu discurso, Demóstenes afirmou que “sempre militou contra a legalização de jogos de azar” durante sua atividade parlamentar. No entanto, de acordo com o relator, anais do Senado mostram que, em pronunciamentos e apartes, Demóstenes não faz “qualquer menção à sua referida militância contrária à legalização dos jogos ou a favor de sua transformação em crime, mas ao contrário”. Em transcrição de um pronunciamento no dia 18 de junho de 2003, Demóstenes defende a legalização e o uso dos recursos advindos dos jogos de azar em educação.
Para o relator, não há dúvida de que o senador mentiu. “O pronunciamento não deixa qualquer dúvida de que o senador Demóstenes Torres, diferentemente do que ora afirma, possui posição favorável à legalização dos jogos de azar. Não se trata de conjecturas ou interpretações, é o que está literalmente escrito”, afirmou.
Após a leitura de Costa, o advogado de Demóstenes pediu prazo de cinco dias para apresentar uma nova defesa, mas o pedido foi rejeitado. Na primeira defesa, o advogado alegou que houve manipulação das conversas divulgadas pela imprensa.
A votação do relatório preliminar será realizada na próxima terça-feira (8), conforme cronograma definido pelo Conselho de Ética. Se o conselho decidir pela abertura de processo disciplinar, Demóstenes Torres pode ser punido com uma simples advertência ou até com a perda do mandato.
Próximos passos
Depois da leitura do relatório preliminar, realizada hoje, o documento terá de ser votado e aprovado pela maioria dos integrantes do conselho. Passada esta etapa, Demóstenes, Cachoeira e outras testemunhas serão chamadas para prestar depoimento.
Apenas após a apresentação do relatório final de Costa --no qual ele vai pedir a absolvição ou a cassação do senador--, é que se realiza uma nova votação entre os integrantes do conselho.
Se persistir a definição de que Demóstenes deve ser cassado, por exemplo, o assunto será encaminhado ao plenário do Senado, onde a maioria absoluta dos senadores poderá votar se apoia ou não a cassação. A votação em plenário é secreta.
Humberto Costa usará como base de seu relatório final os depoimentos que serão feitos no Conselho de Ética e os dados do inquérito da Operação Vegas, da Polícia Federal, que chegaram ontem ao Senado. O relator ainda aguarda a chegada das informações referentes à Operação Monte Carlo, que ainda estão na 11ª Vara de Justiça de Goiás e não foram remetidas ao STF em sua íntegra.
As atividades ilícitas de Carlinhos Cachoeira também são investigadas por uma CPI mista do Congresso, que está em andamento e definiu ontem a quebra de sigilos do bicheiro.
Entenda as suspeitas envolvendo Demóstenes Torres
As escolhas de Demóstenes
OPÇÕES | PRÓ | CONTRA |
Renunciar ao mandato | Sai do foco político, o que pode aliviar as enxurrada de denúncias contra ele | Pode ficar inelegível até 2027 por conta da Lei da Ficha Limpa, perde o foro privilegiado no STF e passa a responder criminalmente na Justiça de Goiás |
Perder o mandato por infidelidade partidária | Sai do foco político, mas mantém a imagem de ter lutado por seu cargo até o final. Neste caso, não é enquadrado na Lei da Ficha Limpa, com isso, pode ser eleito já em 2014 | Perde o foro privilegiado no STF e passa a responder criminalmente na Justiça de Goiás. O Senado, porém, pode decidir continuar o processo de cassação de mandato por quebra de decoro parlamentar. Seria algo incomum, mas não inédito |
Licenciar-se do mandato | Sai do foco político por 120 dias, mantém o foro privilegiado e espera que as denúncias esfriem com a aproximação das eleições municipais | Continua respondendo processo no Conselho de Ética do Senado e, se cassado, pode ficar inelegível até 2027 |
Responder ao processo no Conselho de Ética do Senado | Mantém a imagem de que lutou pelo cargo e, mesmo que condenado no conselho, ainda pode escapar da cassação no plenário do Senado, onde a votação é secreta | Continua no foco político e, se condenado, pode ficar inelegível até 2027 por conta da Lei da Ficha Limpa |
Renunciar e assumir o cargo de procurador de Justiça de Goiás | Sai do foco político e, mesmo perdendo o foro privilegiado no STF, passaria a responder às denúncias no Tribunal de Justiça de Goiás, foro mais qualificado que a Justiça comum | Pode ficar inelegível até 2027 por conta da Lei da Ficha Limpa |
- Fonte: "Folha de S.Paulo" e "Blog do Fernando Rodrigues"
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