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Nova "faxina" de servidores envolvidos em corrupção pode aumentar popularidade de Dilma, dizem cientistas políticos

Camila Neumam

Do UOL, em São Paulo

27/11/2012 10h41

A ordem de exonerar os servidores envolvidos na operação Porto Seguro, da PF (Polícia Federal), deve favorecer a presidente Dilma Rousseff em dois aspectos: aumentar ainda mais a sua popularidade e favorecer o futuro do PT. Essa é a conclusão de cientistas políticos consultados pelo UOL.

A operação Porto Seguro, deflagrada pela PF na última sexta-feira (23), desbaratou um esquema de favorecimento de empresas privadas realizado por servidores dentro de sete órgãos federais, que fraudavam pareceres técnicos e tramitação de processos. O resultado da operação rendeu 18 indiciados e seis pessoas foram presas.

A presidente demitiu inclusive a ex-chefe de gabinete do escritório da representação da presidência da República em São Paulo, Rosemary Nóvoa de Noronha, ligada ao PT. Sua exoneração foi publicada nesta segunda-feira (26) no Diário Oficial da União.

Noronha chegou ao cargo em 2003 pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e mantida por Dilma pela sua ligação com a sigla, apesar de nunca ter sido próxima da presidente. Noronha também foi secretária do ex-ministro José Dirceu enquanto o petista era presidente do PT. Ela teria indicado diretores para agências reguladoras e teria influenciado a entrada do marido na Infraero, onde é assessor especial. A PF estabeleceu prazo de 30 dias para concluir as investigações contra a servidora.

Noronha teria ameaçado 'não cair sozinha' e Lula teria dito se sentir apunhalado pelas costas ao saber do novo escândalo envolvendo o partido.

O PSDB quer que o ex-presidente Lula explique na Câmara seu envolvimento com a chefe de gabinete.

O afastamento da servidora ligada a Lula e Dirceu fez lembrar a "faxina ministerial" feita por Dilma quando demitiu sete ministros, seis envolvidos em corrupção em 2011, alguns também com fortes ligações com o ex-presidente. A ação foi bem avaliada pela sociedade, em especial pela classe média, que havia deixando de votar no PT por causa do escândalo do mensalão.

Nova faxina

Para o cientista político Fernando Abrucio, da FGV (Fundação Getúlio Vargas), a atitude da presidente em resposta à operação da PF pode ser encarada não somente como uma nova "faxina" mas, definitivamente, como a impressão de sua marca de governo, caracterizada pela rápida ação diante de problemas em comparação aos governos dos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, considerados mais conciliadores.

“Ela é quase uma executiva e tem mostrado ao partido e à base governista que se ela for forte, a base será forte”, afirma.

Segundo Abrucio, essa estratégia fortalece a popularidade de Dilma para a eleição presidencial de 2014 e, por consequência, a popularidade do PT, que pode eleger mais deputados se colarem sua imagem à da presidente.

“Esse é o tipo de postura que a favorece por não ser conivente. Ela passa uma imagem de independência para a classe média, de quem não tolera a corrupção, e isso deve beneficiar a sigla”, afirma Abrucio.

Para o cientista político Claudio Couto, da FGV, a atitude de Dilma mostrou que a presidente se preocupou mais em dar uma resposta rápida à sociedade do que punir os envolvidos de acordo com as investigações.

“Vamos supor que a gente descubra que não tinha envolvimento esperado e você já demitiu. Não necessariamente fez uma faxina porque você não estaria limpando o órgão de pessoas sujas. Mas, de qualquer maneira, com ou sem envolvimento, é uma satisfação à sociedade”, disse.

Quanto à exoneração de Noronha, Couto afirma que a escolha da presidente pode indicar que a secretária não teria tanto peso político a ponto de ter tido que segurar seu cargo. Isso aconteceria se ela, de fato, fosse uma liderança partidária dentro do PT.

“Teria que saber o quanto essa pessoa é importante para o partido, mesmo que tenha relações com a sigla”, disse Couto.

Já o cientista político José Álvaro Moisés, diretor do Nupps (Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas da Universidade de São Paulo), não viu "nada de excepcional" em Dilma exigir a exoneração, o que  "era sua obrigação, de acordo com a Constituição". Embora acredite que  Lula teria agido diferente no caso da ex-secretária da presidência.

“O Lula teve uma tendência em passar a mão na cabeça das pessoas do partido em vez de punir. Em várias ocasiões, embora não em todas, a presidente Dilma sinalizou que vai por outra direção”.

Mais exonerações

José Weber Holanda Alvez, adjunto do advogado-geral da União, também foi exonerado por determinação da presidente Dilma.

Assim como Evangelina de Almeida Pinho, que foi demitida do cargo de assessora da Secretaria do Patrimônio da União, em portaria do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, onde também foi instaurada uma sindicância para apurar possíveis irregularidades praticadas por servidores da secretaria. Também foi exonerado, no Ministério da Educação, Esmeraldo Malheiros Santos do cargo de assessor da Consultoria Jurídica.

Paulo Rodrigues Vieira, diretor da ANA (Agência Nacional de Águas), e Rubens Carlos Vieira, diretor da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), foram afastados dos seus cargos no Ministério do Meio Ambiente e na Secretaria de Aviação Civil, respectivamente. As duas agências abriram sindicância.

Além de exonerar os quatro servidores investigados pela Polícia Federal, o governo criou ontem cinco comissões de sindicância para apurar eventuais irregularidades cometidas por servidores investigados na operação Porto Seguro.