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Querem transferir a crise do Planalto para o Congresso, diz Cunha

Bruna Borges

Do UOL, em Brasília

12/03/2015 11h23Atualizada em 12/03/2015 13h57

O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), disse nesta quinta-feira (12) que a abertura de inquérito contra ele no STF (Supremo Tribunal Federal) para investigar desvios na Petrobras tenta transferir o desgaste político do governo federal para o Congresso Nacional.

Ele é um dos parlamentares investigados na Operação Lava Jato por suposto envolvimento no esquema de corrupção e pagamento de propina.

"Colocar de uma forma irresponsável e leviana, por escolha política, na colocação de alguém para investigação, é criar um constrangimento para transferir a crise do lado da rua [Palácio do Planalto] para cá [Congresso]. E nós não vamos aceitar”, disse Cunha aos membros da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Petrobras.

A Procuradoria-Geral da República suspeita que Cunha tenha recebido propina da cota do PMDB. No pedido de inquérito, há indícios de que recursos indevidos foram encaminhados a uma casa inicialmente identificada como sendo a de Cunha. Posteriormente, a informação foi retificada. A Procuradoria se baseia nesta parte da investigação para pedir a ampliação da investigação contra Cunha no STF.

Para se defender, o presidente da Câmara afirma que os indícios apresentados pela Procuradoria para investigá-lo são contraditórios e que a incorreção sobre a residência onde teria sido entregue propina foi apontada por ele. A Procuradoria apurou que a casa pertence ao advogado Francisco José do Reis.

Cunha afirmou à CPI que o pedido de inquérito contra ele é "piada" e "pífio". Ele também acusou a Procuradoria  de escolher os parlamentares que iria investigar de maneira “política” e que a seleção foi “irresponsável” e “leviana”. “Fomos escolhidos sim pelo procurador para a abertura de inquérito”, declarou.

O pedido de inquérito contra Cunha também relaciona o deputado ao empresário Fernando Soares, o Fernando Baiano. Para o Ministério Público, Baiano foi o operador do esquema dentro do PMDB. À CPI, Cunha reconheceu que conhece Baiano, mas negou que ele tenha feito pagamentos de propina para seu partido como aponta a Procuradoria.

Ainda sobre a investigação da Procuradoria, foram considerados trechos do depoimento do doleiro Alberto Youssef que disse que Cunha teria recebido propina por um contrato de aluguel de um navio-plataforma das empresas Samsung e Mitsui. O doleiro também disse que houve interrupção dos repasses ao PMDB e Cunha teria pressionado essas empresas em com “uma representação” no Congresso. Cunha nega a acusação.

O presidente da Câmara se ofereceu para dar depoimento à CPI espontaneamente. Na semana passada, apareceu na CPI e afirmou que estava à disposição para prestar esclarecimentos sobre as investigações. O presidente da Câmara também disse que pode dar novos depoimentos sempre que for necessário. 

Após a explicação inicial de Cunha, os deputados fazem elogios a sua vinda espontânea. Até o líder do PT, deputado Sibá Machado (AC) defendeu o presidente da Câmara. A bancada petista constantemente entra em atrito com Cunha, porque o peemedebista por vezes se colocou contra pautas de interesse do Palácio do Planalto.

"Já tinha escutado ele em outras oportunidades e toda a sua preocupação, que nesse momento eu compreendo perfeitamente, é que não há nenhum fato que relacione o nome dele a essa lista", afirmou Sibá.