Topo

Senado torna Dilma ré e processo de impeachment vai a julgamento

Senadores levam Olimpíada para batalha do impeachment

UOL Notícias

Felipe Amorim e Leandro Prazeres

Do UOL, em Brasília

10/08/2016 01h26Atualizada em 10/08/2016 09h46

O Senado aprovou, por 59 votos a 21, o prosseguimento do processo de impeachment contra a presidente afastada, Dilma Rousseff, na madrugada desta quarta-feira (10). Com isso, ela se torna ré e será submetida ao julgamento definitivo que decidirá se a petista cometeu crime de responsabilidade no cargo. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), não apresentou seu voto.

Na terceira e última etapa do processo no Senado, será decidido se Dilma perderá o cargo definitivamente ou será reconduzida à Presidência. As sessões de julgamento devem ser agendadas a partir do dia 23 de agosto.

O placar indica que há maioria suficiente para confirmar o afastamento de Dilma na última fase do julgamento. Serão necessários os votos de 54 senadores para tornar definitivo o impeachment.

Placar Senado - Marcelo Camargo/Agência Brasil - Marcelo Camargo/Agência Brasil
Senado aprovou o prosseguimento do processo de impeachment de Dilma Rousseff
Imagem: Marcelo Camargo/Agência Brasil

A votação que confirmou a continuidade do processo foi realizada ao fim de uma longa sessão no Senado - quase 17 horas -, iniciada na manhã dessa terça-feira (9), e comandada pelo presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Ricardo Lewandowski. A lei determina ao presidente do Supremo a condução das fases finais do processo.

A etapa concluída nesta madrugada é conhecida como “juízo de pronúncia” e equivale ao reconhecimento de que há provas suficientes para autorizar o julgamento da presidente. Mesmo julgada no processo de impeachment, Dilma não é ré perante a Justiça por não se tratar de crime comum.

A petista é acusada de ter cometido quatro crimes: a publicação de três decretos que ampliaram a previsão de gastos no Orçamento sem autorização do Congresso Nacional e pelas chamadas pedaladas fiscais no Plano Safra, programa de empréstimos rurais executado pelo Banco do Brasil.

Na sessão desta quarta-feira, houve mudança de posicionamento em relação à votação realizada em 12 de maio, quando a Casa afastou provisoriamente a presidente.

Para Lewandowski, função de senadores como juízes é 'delicada'

UOL Notícias

Para que Dilma seja punida com a deposição do cargo, as condutas precisam estar descritas como crime de responsabilidade na Lei do Impeachment. Este não é um tipo comum de crime, mas o único tipo de infração política que autoriza o impeachment.

É preciso o voto de 54 dos 81 senadores para confirmar o impeachment. O grupo contrário a Dilma tem conseguido ampla maioria nas últimas votações no Senado, em quantidade suficiente para garantir a deposição da petista do cargo. 

Dilma afirma que não houve crime de responsabilidade e que sua deposição seria um “golpe” político contra o resultado das urnas que confirmou sua reeleição ao mandato por mais quatro anos (até 2018). 

Como foi a sessão

Aberta às 9h44, por Renan Calheiros, a sessão logo passou a ser conduzida por Lewandowski. Na primeira parte dos trabalhos, senadores aliados da presidente afastada apresentaram oito questões de ordem, sendo algumas delas pedindo a suspensão do sessão ou o arquivamento do processo.

Lewandowski analisou e rejeitou seis das questões, aceitando apenas a anexação aos autos do voto em separado apresentado por senadores pró-Dilma na semana passada, e a manutenção de todos os termos usados pelos parlamentares na transcrição oficial dos discursos na sessão.

Anastasia diz que cidadão paga por irresponsabilidade fiscal de Dilma

UOL Notícias

Em seguida, foi a vez de o relator do processo, o senador Antonio Anastasia (PSDB-MG), defender o seu parecer, aprovado pela maioria dos integrantes da comissão especial do impeachment na semana passada, favorável à destituição de Dilma. "Estamos diante de um autêntico caso de irresponsabilidade fiscal. Ao final, é a vida do cidadão comum que paga a conta dos gestores que desprezam o planejamento e a responsabilidade fiscal, em completa violação aos valores esculpidos em nossa Constituição."

Como havia a perspectiva de que a sessão durasse mais de 20 horas, senadores tanto da base aliada de Temer quanto da oposição fecharam um acordo para que a sessão fosse suspensa às 23h desta terça-feira. Mesmo assim, a sessão avançou até a madrugada de quarta-feira.

De acordo com o jornal "Folha de S. Paulo", a iniciativa foi do senador Aécio Neves (PSDB-MG) e contou com o apoio da maioria dos membros da Casa.

No total, 47 senadores se inscreveram para discursar a favor e contra o impeachment -- em maio, na sessão em que foi votada a admissibilidade do processo, 70 senadores discursaram. À época, a sessão durou 20 horas e meia.

Para tornar a sessão desta terça mais curta, o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), disse que parlamentares do seu partido iriam abrir mão de discursar -- antes da declaração de Eunício, senadores do partido como Kátia Abreu (TO) e Hélio José (DF) já haviam ocupado a tribuna. O PSDB também abriu mão das falas, deixando Aécio como seu único orador.

Em sua fala, o tucano disse que "votar a favor do relatório [de Anastasia] é defender a democracia". Para ele, os aliados de Dilma atacam Anastasia pessoalmente porque "não pode atacar seu relatório robusto".

Por outro lado, senadores contrários ao impeachment citaram "golpe" em seus discursos e criticaram o governo do presidente interino, Michel Temer. Lindbergh Farias (PT-RJ) afirmou que o processo de impeachment levou a um "balcão de negócios". "Isso aqui virou um balcão de negócios nesse jogo sujo do impeachment. Até melancia ganhou cargo", disse, em alusão à gravação em que o senador Hélio José (PMDB-DF) foi flagrado falando de cargos.

Segundo o senador petista, "Dilma vai estar no panteão da história, junto com Getúlio e Jango", como vítima de um golpe perpetrado por elites sem compromisso com a democracia. "Se os senhores querem luta de classes, nós estamos preparados", disse Lindbergh.

Até melancia ganha cargo, critica Lindbergh

UOL Notícias

Enquanto os senadores se revezavam nos discursos no plenário da Casa, no restante do prédio o clima foi de relativa calmaria. As duas salas reservadas para a transmissão da sessão, com capacidade para ao menos 50 pessoas cada uma, estavam vazias. As cadeiras em frente ao telão montado no saguão que dá acesso às comissões também passaram a maior parte do tempo vazias.

Do lado de fora, porém, um pequeno grupo de manifestantes usava vuvuzelas e cartazes para manifestar contra a presidente afastada. Em uma das faixas, estava escrito “fora comunismo”. Em outra, lia-se “STF e senadores - Dilma nunca mais”.

Na Câmara, porém, um grupo de manifestantes contrários ao projeto de lei que prevê o refinanciamento das dívidas dos Estados com a União hostilizou o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA) durante a sua chegada à Casa. Alguns integrantes do grupo chamaram o parlamentar de “golpista”. Lúcio Vieira Lima é irmão do ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, um dos braços direitos de Temer.

Sete meses de impeachment

O processo de impeachment já dura sete meses. O primeiro ato foi em dezembro, quando o processo foi aberto na Câmara dos Deputados.

Mas apenas em abril os deputados autorizaram que a presidente pudesse ser julgada pelo Senado

Em seguida, no dia 12 de maio, o Senado aprovou a abertura do processo, o que determinou o afastamento temporário de Dilma do cargo.