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Fim de semana de Bolsonaro tem aglomeração, rixa com STF e mensagem de Moro

Eduardo Militão e Luís Adorno

Do UOL, em Brasília e São Paulo

24/05/2020 21h28

Na noite de sexta-feira (22), Bolsonaro tuitou que seguia lutando pelo Brasil e pelo povo brasileiro, após o vídeo da reunião ministerial de um mês atrás ter vindo a público. No vídeo, ele afirma que trocaria peças na PF (Polícia Federal), se preciso fosse, para não prejudicar seus amigos e familiares.

No fim de semana, a agenda de Bolsonaro se pautou em tentar demonstrar que mantém a confiança de seus eleitores. Para isso, se reuniu com youtubers de direita, foi a uma confeitaria e comeu um cachorro-quente na rua, em aglomerações, rebateu o STF (Supremo Tribunal Federal) se baseando na lei de Abuso de Autoridade e participou de uma manifestação pró-governo.

Em meio a isso, novas mensagens entre Bolsonaro e o ex-ministro Sergio Moro vieram a público e reforçaram a versão de houve interferência política na Polícia Federal. Poucas horas antes da reunião ministerial, Bolsonaro escreveu: "Moro, o Valeixo sai nessa semana. Isso está decidido. Você pode dizer apenas a forma. A pedido ou ex oficio".

11 minutos depois, o então ministro da Justiça e Segurança Pública respondeu: "Presidente sobre esse assunto precisamos conversar pessoalmente, estou ah (sic) disposição para tanto."

Além disso, no vídeo da reunião ministerial, Bolsonaro afirmou ter um "sistema de informações particular" mais eficiente que o oficial. Depois, confessou em coletiva de imprensa que recebeu informações privilegiadas sobre uma investigação do Rio de Janeiro contra um de seus filhos.

A junção dos discursos fez crescer a tese de que o presidente utiliza seu poder para interferir ilegalmente em investigações. Caso comprovadas essas investidas por motivos estritamente particulares, não de defesa do Estado, Bolsonaro poderia ser submetido a processo de impeachment por crime de responsabilidade, dizem investigadores entrevistados pelo UOL.

O sábado de Bolsonaro

O presidente Jair Bolsonaro recebeu na manhã deste sábado, no Palácio da Alvorada, um grupo de youtubers de perfil pró-governo. O encontro contou com a presença das deputadas Carla Zambelli (PSL-SP) e Bia Kicis (PSL-DF), e não constava da agenda oficial do presidente.

Os influencers são os mesmos que organizaram a manifestação pró-governo ocorrida em Brasília neste domingo. Zambelli afirmou que os influenciadores de direita comentaram sobre o vídeo no café da manhã com o presidente:

"Não teve uma impressão negativa sobre o vídeo na visão desses youtubers porque o público deles é bolsonarista", disse ao jornal O Estado de S.Paulo. E acrescentou: "Assim, é o que todo mundo está falando. Esse vídeo praticamente reelegeu o presidente antecipadamente."

Por volta das 16h, Bolsonaro e o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, foram a uma confeitaria e, depois, ao apartamento do ministro, na Asa Sul, em Brasília. Ao deixar o local, foi vaiado por cidadãos que estavam na região.

De lá, o presidente foi para o Sudoeste, bairro de Brasília próximo ao Plano Piloto, onde mora Jair Renan Bolsonaro, seu filho mais novo.

O domingo de Bolsonaro

Neste domingo, Bolsonaro voou de helicóptero sobre a manifestação pró-governo e, acompanhado de aliados, se encontrou com os apoiadores. Sem equipamentos de proteção individual, Bolsonaro acenou para o público e chegou a pegar duas crianças no colo. O uso de máscara é obrigatório em Brasília em razão da pandemia da covid-19.

Os manifestantes, que gritavam "mito" para Bolsonaro, também dispunham de cartazes e gritos de ordem contra o STF. Mais cedo, Bolsonaro rebateu o STF postando em suas redes sociais o seguinte artigo da Lei de Abuso de Autoridade:

"Art. 28 Divulgar gravação ou trecho de gravação sem relação com a prova que se pretenda produzir, expondo a intimidade ou a vida privada ou ferindo a honra ou a imagem do investiga ou acusado: pena - detenção de 1 (um) a 4 (quatro) anos."

No final da tarde de hoje, o presidente voltou a se encontrar com apoiadores, entre populares e deputados. Ele disse que poderia ter destruído a gravação da reunião ministerial do dia 22 de abril, cujo vídeo foi divulgado anteontem.

"Nós classificamos como secreto aquele encontro. E não precisava [ter mostrado], podia ter destruído a fita. Nós decidimos manter a fita, poderíamos ter destruído a fita, não teria penalidade alguma", afirmou.

Bolsonaro participou ainda da cerimônia de arriamento da bandeira do Brasil na frente do Palácio da Alvorada. Acompanhado do ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, e de um grupo de cerca de 30 deputados, entre estaduais e federais, o presidente seguiu sem máscara.

Mais uma vez, Bolsonaro conversou e abraçou apoiadores e tirou várias selfies. O presidente destacou presença de Azevedo no local e aproveitou a ocasião para falar sobre o papel das Forças Armadas. Segundo ele, o general Azevedo e Silva sabe "fazer valer a força que as Forças Armadas têm em defesa da democracia, da liberdade". "Também nosso maior exército é o povo."

Em seguida, Bolsonaro reforçou que as Forças Armadas pertencem ao Brasil e não ao presidente. "É um dos pilares aqui da nossa estabilidade, as Forças Armadas sempre voltadas para os interesses da nação e o bem comum e ao lado do povo, da lei e da ordem."

O governo Bolsonaro teve início em 1º de janeiro de 2019, com a posse do presidente Jair Bolsonaro (então no PSL) e de seu vice-presidente, o general Hamilton Mourão (PRTB). Ao longo de seu mandato, Bolsonaro saiu do PSL e ficou sem partido até filiar ao PL para disputar a eleição de 2022, quando foi derrotado em sua tentativa de reeleição.