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'Desconheço um gabinete paralelo'; veja frases de Nise Yamaguchi na CPI

Do UOL, em São Paulo

01/06/2021 11h42Atualizada em 01/06/2021 17h50

A oncologista e imunologista Nise Yamaguchi está sendo ouvida hoje na CPI da Covid, no Senado Federal. O depoimento gira em torno da atuação da médica junto ao governo federal em relação à defesa de cloroquina e da hidroxicloroquina e de outros assuntos sobre a pandemia do novo coronavírus.

Nise, que chegou a ser cotada para assumir o Ministério da Saúde no ano passado, se tornou figura pública depois de colaborar com o Palácio do Planalto em estudos e movimentos técnicos relacionados ao possível protocolo do uso desses medicamentos no tratamento do coronavírus.

No depoimento, Nise disse que desconhece o que está sendo chamado de "gabinete paralelo" e que atuou apenas como colaboradora eventual para "opinar em reuniões técnicas, governamentais e específicas com o Ministério da Saúde". Ela ainda disse que nunca teve encontro privado com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

O "ministério paralelo" teria sido montado a mando do presidente e seria comandado por seu ex-assessor Arthur Weintraub com o objetivo de balizar o incentivo à prescrição dos remédios — que são ineficazes para tratar a covid. O tema é um dos principais pontos de interesse da CPI, que apura se o governo federal errou no enfrentamento da pandemia.

A médica comparece à CPI da Covid na condição de testemunha convidada. Ela voltou a defender o tratamento precoce, embora estudos tenham demonstrado ineficácia de medicamentos como a cloroquina para o combate da covod-10. Segundo ela, o atraso do início do tratamento aumentou número de mortes pela covid-19 no Brasil. Ela ainda negou ter indicado mudança na bula da cloroquina.

Veja as principais frases de Nise Yamaguchi:

"Gabinete paralelo"

Eu desconheço um gabinete paralelo e muito menos que eu integre. Sou colaboradora eventual e participo com os ministros de saúde como médica, cientista, chamada para opinar em reuniões técnicas, governamentais, específicas com o Ministério da Saúde. Faço questão de trabalhar com questões regulamentares da Anvisa e com todos.

Imunidade de rebanho

As vacinas também fariam parte dessa imunidade de rebanho, está claro no meu depoimento que eu falava que as vacinas também fariam parte desse momento e mais, o tratamento precoce também seria parte, que é o que preconizo (...) Nunca discuti imunidade de rebanho com ele [Bolsonaro].

Cloroquina no Ministério da Saúde

Eu entendo que o governo é um só, que as minhas conversas que ocorrem com relação à parte técnica do Ministério da Saúde, com os técnicos, sobre as dosagens da cloroquina que não poderiam ser muito altas, que tinham saído recentemente um artigo com as doses, esclareci que as doses deveriam ser baixas. Isso foi feito dentro de um ambiente técnico do ministério da Saúde e que na realidade sempre fui bem recebida com todos os governos com quem estive colaborando.

"Tratamento precoce"

Eu já tinha a informação de que era importante tratar os pacientes precocemente, como finalmente, agora, houve a admissão de que é melhor que não se trate os pacientes com doenças moderadas e graves. Nesse mesmo dia que eu tive um almoço na Presidência da República, com outras pessoas, nunca tive encontros privados com o presidente Bolsonaro, conversei sobre a importância desse tratamento precoce inicial.

(...)

Eu considero que o atraso que existe no início do tratamento [precoce] é o que tem determinado tantos mortos e tantas questões nesse momento, não só isso, como nesse momento a gente tem também um problema de diagnóstico. Nós somos um país que tem vacinado bastante, mas não sei se o conjunto de ações vai ser alguma coisa.

Bula da cloroquina

Não fiz nenhuma minuta, inclusive não conhecia esse papel. Essa é a reunião a que ele se refere, no dia 6 de abril de 2020, que ocorreu no Planalto com a presença do almirante Barra [Torres], do ex-ministro [Luiz Henrique] Mandetta.

Encontro com Carlos Wizard

É um conselho científico independente, a gente se reunia em discussões sobre... Não, ele [Carlos Wizard] é uma pessoa que trabalhou com o doutor [Eduardo] Pazuello, em Roraima, e faziam ações sociais.

Arthur Weintraub

Ele [Arthur Weintraub] esteve comigo também nessa reunião da Presidência da Republica, participou de diversas colocações, nessa cerimônia, e esteve também discutindo naquele dia a possibilidade que os médicos prescrevessem os medicamentos, foi bastante bem colocado.

Convite para ser ministra

Na realidade, talvez eu não tenha sido convidada para ser ministra porque, na reunião com o presidente, deixei bem claro que tenho uma clínica muito extensa. Tenho mais de 15 mil pacientes que dependem de mim. (...) Então deixei bem claro que eu teria dificuldades de fazer qualquer coisa que não fosse a minha atividade mãe.

"Me sentindo agredida"

Tenho que colocar o meu repúdio a esta situação em que estou colocada ali, dentro de um gabinete de exceção. Eu estou me sentindo aqui bastante agredida nesse sentido, porque eu estou como colaboradora eventual de várias ações [do governo] (...) e eu gostaria de ter, portanto, senador [Rogério Carvalho (PT-SE)], a necessária avaliação com relação a essa posição. (...) Eu não acho que a gente possa ser colocado como alguém que atrapalha a situação quando a gente está trabalhando cientificamente e tecnicamente para evolução.

Isolamento social

Acho absolutamente necessário o isolamento social, o uso de máscara e álcool gel. Estimulo bastante — inclusive, para todos os pacientes — essa orientação.

Estudos sobre cloroquina

Nós temos uma série, principalmente do Henry Ford Foundation, mostrando que essa publicação, com revisão sistemática da literatura, traz uma informação com relação aos dados, nos Estados Unidos, da utilização da hidroxicloroquina [no tratamento da covid-19] nessas instituições. Uma outra solução, que foi da organização desses estudos, mostra que a hidroxicloroquina e a cloroquina são opções terapêuticas bastante importantes.

O estudo citado por Nise Yamaguchi foi feito pelo Henry Ford Health System, nos EUA, mas é insuficiente para provar a eficácia da cloroquina contra a covid-19, como sugere a médica. Especialistas entrevistados pelo projeto Comprova em julho do ano passado apontam que o método e as conclusões tiradas pelos pesquisadores são precipitados e muito frágeis.

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.