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Doria e coronel da PM afastado trocaram afagos em inauguração de batalhão

Doria postou vídeo com o coronel Lacerda em inauguração de batalhão em Sorocaba - Reprodução
Doria postou vídeo com o coronel Lacerda em inauguração de batalhão em Sorocaba Imagem: Reprodução

Herculano Barreto Filho

Do UOL, em São Paulo

24/08/2021 11h09

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), inaugurou um batalhão ao lado do coronel Aleksander Toaldo Lacerda, afastado ontem da Polícia Militar por indisciplina após convocar seus seguidores no Facebook para a manifestação bolsonarista de 7 de setembro em Brasília, classificada pela PGR (Procuradoria-Geral da República) como "tentativa de levante" com ataques ao STF (Supremo Tribunal Federal) e ao Congresso e em defesa do voto impresso.

No dia 15 de dezembro de 2020, Doria e o então chefe do CPI-7 (Comando de Policiamento do Interior), à frente de uma tropa com cerca de 5.000 homens em 78 municípios na região de Sorocaba, participam de evento para apresentar o Baep (Batalhão de Ações Especiais de Polícia), unidade com padrões de atuação semelhantes aos usados pelo Choque, especializada em controlar e dispersar multidões.

O político, inclusive, postou nas suas redes sociais um vídeo onde aparece conversando com o coronel bolsonarista.

"Vou perguntar agora ao coronel Aleksander. Esse batalhão que o senhor comanda é bem treinado e bem preparado não só fisicamente. Intelectualmente, também com estratégias para evitar e combater o crime. Mas é preciso ter armas e equipamentos. Quais os equipamentos que a PM do Estado de São Paulo disponibilizou para esse 14º Baep aqui em Sorocaba que inauguramos nesse momento, coronel?", questionou.

"Governador, nós tivemos à disposição pela Polícia Militar e através do senhor... Agradecendo o senhor também... Cinco viaturas blindadas, além do armamento. As pistolas e também os fuzis 5.56 e 7.62, que dão capacidade para os policiais militares enfrentarem aí de igual para igual o crime organizado", respondeu.

Doria, então, falou ainda sobre a instalação de câmeras corporais nos policiais da unidade, equipe de cães e polícia de drone em uma unidade inaugurada com um investimento de R$ 466 mil e efetivo de 230 homens. "Uma polícia bem treinada e preparada para defender vidas. Parabéns, coronel, e a todos que aqui estão. Este é o Baep aqui em Sorocaba", completou o governador.

Ataques a políticos

Após convocar seus "amigos" para a manifestação bolsonarista, o coronel Lacerda afirmou que Rodrigo Pacheco (DEM), presidente do Senado, é "covarde". Ainda se referiu a Doria como "cepa indiana". E atacou ainda o deputado Rodrigo Maia, recém-nomeado secretário de Projetos e Ações Estratégicas do Estado de São Paulo, citado como beneficiário de um esquema "mafioso" —manifestações políticas por parte de policiais militares da ativa podem configurar transgressão disciplinar.

Coronel Aleksander Lacerda fez postagem em que João Doria (PSDB), governador de São Paulo, é citado como "cepa indiana" - Reprodução - Reprodução
Coronel Aleksander Lacerda fez postagem em que João Doria (PSDB), governador de São Paulo, é citado como "cepa indiana"
Imagem: Reprodução

A PM de São Paulo informou que o oficial foi convocado para prestar esclarecimentos. Em nota sobre o afastamento, a instituição disse ainda que as manifestações recentes do oficial estão sendo analisadas pela Corregedoria da corporação, "que é legalista e tem o dever e a missão de defender a Constituição e os valores democráticos do país".

Em reunião do Fórum dos Governadores ontem, Doria alertou sobre o risco de infiltração bolsonarista nas polícias estaduais. Ontem à noite, o governador Ibaneis Rocha (MDB-DF), coordenador do Fórum, oficializou o convite ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e aos demais chefes de Poderes por um encontro de pacificação entre as instituições.

'Quero ficar com a minha família', disse coronel afastado a deputado

Colega de Aleksander no curso de formação para a PM entre 1990 e 1993, o deputado estadual Major Mecca (PSL-SP) relembra a inauguração do batalhão no ano passado. "O governador desceu do helicóptero, fez uma selfie e foi embora".

Em entrevista ao UOL, o parlamentar disse ter conversado com o oficial afastado ontem em duas ocasiões: no momento em que ele se deslocava ao quartel do Comando Geral da PM de São Paulo e quando retornava para a região de Sorocaba, onde mora com a esposa e um casal de filhos.

Na volta para casa, já no fim de tarde, ele disse que estava cansado e que queria ficar com a família. Sabe quando você percebe, pela voz, que o cara está entristecido? Aí, eu falei: 'Irmão, vai para a sua casa e descansa. Fica tranquilo que você não está sozinho'. Ele está muito chateado com a repercussão que o caso tomou".

Após o curso de formação, Aleksander e Mecca chegaram a servir juntos na Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar). "Ele sempre teve uma dedicação muito grande à corporação. Sempre teve aquela vontade de estar nas ruas combatendo o crime. É um oficial preocupado com a instrução da tropa e um grande amigo", disse. "Esse caso ilustra o desrespeito de Doria com a liberdade de expressão dos policiais. Fez estardalhaço e ainda usou um coronel da Polícia Militar para amedrontar todo mundo".

Adversário político de Doria, Mecca protocolou um pedido de impeachment contra o governador de São Paulo com os deputados estaduais Frederico D'Avila, Gil Diniz, Douglas Garcia e Valéria Bolsonaro em abril de 2020. Todos os parlamentares fazem parte do PSL, sigla pela qual Bolsonaro participou das eleições presidenciais de 2018.