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Coronavírus: Últimas notícias e o que sabemos até esta sexta-feira (24)

Estátua ganha máscara para incentivar a população a se proteger no Rio  - Marco Antonio Rezende/Prefeitura do Rio
Estátua ganha máscara para incentivar a população a se proteger no Rio Imagem: Marco Antonio Rezende/Prefeitura do Rio

Do UOL, em São Paulo

24/04/2020 15h18

Em um dia agitado em Brasília por causa da demissão do ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro, o avanço da pandemia do novo coronavírus pelo Brasil causou novos relatos dramáticos com a sobrecarga de sistemas de saúde em algumas cidades e estados. Entre elas, do Rio de Janeiro.

Na manhã de hoje, a capital fluminense já não possuía nenhum novo leito de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) disponíveis na rede estadual de saúde para pacientes com o novo coronavírus. O estado do Rio ultrapassou ontem a marca de 500 mortes causadas pelo coronavírus. De acordo com a Secretaria de estado de Saúde, existem vagas apenas no Hospital Zilda Arns, em Volta Redonda, que possui 56% de ocupação na enfermaria e 51% na UTI.

Na linha de frente do combate, o cirurgião-geral e diretor do Sindicato dos Médicos do Rio Pedro Archer contou ao UOL que já não há respiradores para todos os pacientes, o que obriga a equipe médica a escolher, diariamente, quais vidas salvar. Só no seu plantão mais recente em uma emergência na zona oeste carioca foram duas mortes.

"O sistema de saúde colapsou. Não há mais vagas para transferência na capital, nem respiradores para todos. Não para de chegar gente com os sintomas de corona, já com quadro grave, precisando de respirador. Só que não há equipamentos para todos. Então, a gente tem que fazer escolhas, não tem jeito. Já chegamos a esse ponto", relatou.

Já no Amazonas, o UOL relatou que municípios localizados na floresta amazônica estão enfrentando uma série de dificuldades para receber materiais e insumos para a saúde pública, o que dificulta o enfrentamento da covid-19 em meio à pandemia. Além disso, as cidades sofrem pela falta de estrutura para tratar casos mais graves, e os pacientes precisam ser transferidos de avião para Manaus.

Na capital amazonense, uma das cidades com colapso no sistema de saúde, uma funcionária pública contou, sob condição de anonimato, que pacientes de hospitais públicos na cidade estão expostos à falta de medicamentos e de cuidados mais básicos por causa do colapso do sistema de saúde.

"Pedi a meus parentes para me tirarem do Hospital 28 de Agosto porque eu não estava recebendo remédios e tinha eu mesma que me limpar já que os enfermeiros e técnicas de enfermagem não trocavam minhas fraldas", contou.

Escalada de casos

O anúncio de ontem de 3.735 novos pacientes diagnosticados com covid-19 entre quarta e quinta-feira fez o Brasil superar a Itália em número de casos confirmados em um intervalo de 24 horas. Segundo números da OMS (Organização Mundial de Saúde), o país europeu registrou ontem 3.370 novos casos da doença.

Este cenário de expansão ainda pode ser maior, já que a subnotificação continua sendo um desafio. O Brasil tem hoje 23.152 testes de coronavírus ainda sem resultado, segundo levantamento feito pelo UOL nos estados (veja mapa abaixo). Desse total, o Nordeste concentra 79% dos exames que aguardam diagnóstico —a região registra mais casos em investigação por coronavírus do que o total de infectados confirmados.

O UOL levantou os dados com base em boletins diários dos estados e complementou as informações com secretarias de Saúde. Das 27 unidades da federação, 26 forneceram dados sobre os exames, com exceção do Espírito Santo.

Uma consequência desta subnotificação está na demora da atualização de dados. Um exemplo disso é que o Brasil atingiu 2.000 mortes causadas pela covid-19 quatro dias antes da contagem oficial do Ministério da Saúde. Segundo a pasta, o marco foi atingido no último dia 17 de abril. Contudo, dados do próprio ministério divulgados ontem mostram que 2.089 pessoas haviam morrido até 13 de abril.

A discrepância é causada por atrasos no processamento de exames de pacientes, o que leva a uma defasagem de até duas semanas para que as mortes entrem na estatística oficial.

Preocupação em São Paulo

O índice de isolamento social na região metropolitana de São Paulo foi de 48% pelo segundo dia consecutivo, o que acendeu o sinal amarelo. O governador João Doria (PSDB) voltou a dizer que, caso o número não fique em pelo menos 50%, não será possível flexibilizar a quarentena a partir do dia 11 de maio.

"Sinal amarelo mais uma vez. Quero registrar, com a mesma franqueza de todas as coletivas, que as decisões do governo são tomadas com base na ciência, medicina e saúde. Com esse índice não será possível realizar flexibilização. Se os brasileiros que vivem na cidade da região metropolitana não fizerem o isolamento com índice mínimo de 50% revisaremos a decisão de flexibilização gradual do isolamento, incluindo a capital", afirmou hoje em entrevista coletiva no Palácio dos Bandeirantes.

O governo de São Paulo trabalha com uma taxa de, no mínimo, 50% de isolamento. O número ideal é entre 60% e 70%.

Já o chefe do Centro de Contingência no combate ao coronavírus em São Paulo, David Uip, disse que a capital pode enfrentar o "pico do Everest" caso a população não respeite o isolamento social.

"Menor de 50% tem consequências graves e podemos enfrentar não uma montanha, mas pico do Everest. Esses dados não estão alterados. A posição acadêmica, observa dados diários e acompanha várias projeções. Quero deixar claro minha preocupação em meu nome com essa tendência. Precisamos voltar e ter compromisso com a sociedade", disse.

OMS rebate Bolsonaro

Jair Bolsonaro teve uma sexta-feira movimentada pelo aspecto político interno após a demissão do ministro da Justiça e Segurança Pública. Porém, uma declaração dada ontem durante a live sobre o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, também teve repercussão;

Ontem, Bolsonaro tentou justificar o motivo pelo qual tem ignorado a OMS. "O pessoal fala tanto em seguir a OMS, né? O diretor da OMS é médico? Não é médico. É a mesma coisa se o presidente da Caixa não fosse da área. Não tem cabimento. Então, o presidente da OMS não é médico", afirmou.

Hoje, o colunista do UOL Jamil Chade publicou que um porta-voz da OMS saiu em defesa de Tedros. "Convido a consultar a biografia do Dr. Tedros", disse a representante, que aponta para a "forte experiência" do etíope em relação à saúde pública.

Tedros é formado em biologia. Mas tem mestrado em Imunologia de Doenças Infecciosas pela Universidade de Londres, doutorado em Saúde pela Universidade de Nottingham e é considerado especialista em operações e liderança em respostas de emergência a epidemias. Tedros atuou ainda como Ministro da Saúde da Etiópia entre os anos de 2005 e 2012.

Em busca de uma solução para a pandemia, a OMS lançou hoje uma colaboração global para acelerar o desenvolvimento, a produção e a distribuição de uma vacina e de remédios contra o novo coronavírus. A iniciativa tem apoio do Banco Mundial, da Fundação Bill e Melinda Gates, da organização humanitária Unitaid e de outras entidades internacionais, além de grupos privados.

"A experiência do passado nos ensina que, mesmo quando as ferramentas estão disponíveis, elas não têm sido disponibilizadas de forma igualitária a todos. Não podemos permitir que isso aconteça", disse o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom.

Número de curados supera os novos contágios na Espanha

Na Europa, a Espanha teve mais um indicativo que, aos poucos, tem conseguido controlar a disseminação do novo coronavírus. O número de pacientes recuperados nas últimas 24 horas superou o de novos casos notificados no país pela primeira vez.

Segundo dados divulgados hoje pelo Ministério da Saúde, foram registrados nas últimas 24 horas 3.105 curados (total de 92.355) e 2.796 infecções (202.990 no total). O número diário de mortes também caiu, com 367 óbitos registrados no país — já são 22.524 desde o início da crise.

Já o Reino Unido enfrenta um momento crítico no combate à doença e ainda é reticente quanto a uma abertura de setores da economia. O secretário de saúde britânico, Matt Hancock, afirmou que entende a pressão para remover restrições, mas ressaltou que não permitirá mudanças até que seja seguro fazê-las. Mais de 19 mil pessoas já morreram no Reino Unido pelo coronavírus.